A Rainha Isabel II de Inglaterra, a monarca com o reinado mais longo da história do Reino Unido (1952-2022) e que hoje morreu aos 96 anos, visitou duas vezes Portugal, em 1957 e 1985.

Tendo ocupado o trono britânico durante 70 anos e 214 dias, apenas atrás do Rei francês Luís XIV, que mantém o título do soberano com o mais longo reinado do mundo, Isabel II deslocou-se pela primeira vez a Portugal em 1957.

Foi a sua quarta visita ao estrangeiro após a subida ao trono, aos 25 anos, após a súbita morte do pai, o Rei Jorge VI, e a primeira em 50 anos de um soberano britânico ao "fiel Aliado", a convite do então Presidente da República portuguesa, general Francisco Craveiro Lopes.

Craveiro Lopes tinha sido recebido pela monarca em Londres dois anos antes, em 1955. Foi o terceiro chefe de Estado estrangeiro a visitar a jovem rainha, apenas dois anos após a sua coroação (1953).

Em fevereiro de 1957, aos 30 anos, Isabel II foi transportada do iate real Britannia, fundeado no Tejo, num faustoso bergantim do século XVIII, cuja beleza ela elogiou -- declarando "os portugueses têm coisas bonitas" -- e recebida com pompa e circunstância no Cais das Colunas, onde estavam perfilados os mais altos dignitários portugueses.

Seguiu-se, no Terreiro do Paço, uma parada com seis mil homens, e ficou instalada no Palácio de Queluz, em cujos arranjos e decoração três mil operários trabalharam durante vários meses.

Além da capital, Isabel II deslocou-se ao Porto, a Vila Franca de Xira, à Nazaré, a Alcobaça e ao mosteiro da Batalha.

A Rádio Televisão Portuguesa (RTP), ainda em fase de emissões experimentais, fez com esta visita a primeira reportagem de exterior.

Em 1977, três anos após o fim da ditadura, o então Presidente português, António Ramalho Eanes, fez uma visita de Estado ao Reino Unido, a seguir a uma passagem pelo Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, procurando realçar a mudança de regime em Portugal e o desejo de integração europeia.

Num sinal de apoio à jovem democracia europeia, Isabel II regressou a Portugal em 1985, meses antes da adesão formal de Lisboa à União Europeia (então Comunidade Económica Europeia), assinada pelo então primeiro-ministro, Mário Soares.

O líder socialista protagonizaria a última visita de Estado entre os dois países, ao deslocar-se ao Reino Unido em 1993 como Presidente da República, aproveitando para condecorar a rainha com o Grande Colar da Ordem da Torre e Espada.

Isabel II foi a terceira estadista estrangeira a receber a mais alta distinção honorífica portuguesa, que precisou de aprovação em Lisboa por decreto especial, após ter sido atribuída a dois ditadores: o chefe de Estado espanhol general Francisco Franco e o Presidente brasileiro Emilio Garrastazu Médici.

O decreto especial foi necessário por se tratar de uma distinção exclusivamente destinada a distinguir antigos Presidentes da República portugueses no final dos respetivos mandatos, regra que só foi alterada em 2011.

Isabel II não regressou a Portugal, mas em 1987 visitaram o país o então herdeiro da coroa britânica, o príncipe Carlos, acompanhado da primeira mulher, a princesa Diana.

Antes disso, em 1986, um dos seus irmãos mais novos, o príncipe André, passou parte da lua-de-mel com a mulher, Sarah Ferguson, nos Açores.

Carlos -- a partir de hoje, o Rei Carlos III do Reino Unido - voltou a Lisboa para uma visita oficial durante a Exposição Mundial de 1998 (Expo'98).

Jorge Sampaio, em 2002, e Marcelo Rebelo de Sousa, em 2016, foram ambos recebidos como chefes de Estado pela Rainha no Palácio de Buckingham, embora em visita oficial de trabalho e não de Estado.

O encontro de Marcelo Rebelo de Sousa com a Rainha notabilizou-se pela breve troca de palavras captadas pelas câmaras de televisão, quando o Presidente recordou ter assistido pessoalmente às duas visitas da monarca a Portugal.

"Eu estava lá, era uma criança", contou, a propósito da primeira visita da monarca, em 1957, quando tinha oito anos, ao que a Rainha espirituosamente respondeu: "Tenho a certeza de que era".

O Jubileu de Platina de Isabel II - os seus 70 anos de reinado, cujas comemorações decorreram entre fevereiro e junho deste ano -- coincidiu com o 650.º aniversário da mais antiga aliança diplomática do mundo, entre Portugal e Reino Unido, que perdura até à atualidade.

O Tratado de Aliança entre Portugal e Inglaterra, ou Tratado de Tagilde, foi assinado a 10 de julho de 1372, entre Portugal e Inglaterra, na Igreja de São Salvador de Tagilde entre o rei D. Fernando, o Formoso, e representantes do Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra).

O Tratado de Tagilde foi o primeiro de uma série de acordos que consolidaram a aliança anglo-portuguesa, a mais antiga entre Estados independentes do mundo, em particular o tratado de Windsor (1386), que resultou no casamento do rei de Portugal, João I, com D. Filipa de Lencastre.