Tiago Miranda, 29 anos, é o homem do momento em Portugal mas poucos o conhecem com esse nome. Para muitos, só existe o Conan Osíris. O gajo das colheres na cara que anda a espalhar ao país que partiu o telemóvel, como se a canção sobre a (sua) forma de lidar com a saudade de alguém que já partiu que compôs e que amanhã interpreta na final do Festival da Canção da RTP, em Portimão, no Algarve, se resumisse a isso.
A mesma que se recusa a explicar aos que não a perceberam e nem sequer se dão ao trabalho de tentar perceber antes de (muito) a criticar. "Eu curto que o pessoal chegue lá sozinho. É a mesma merda que estar a explicar piadas", refere. "Tu não explicas uma piada, tu lanças só. Quem apanhou, apanhou. Quem não apanhou, está no ar", disse em direto, sem qualquer tento na língua, aos microfones da rádio Cidade FM.
Conan Osíris é mesmo assim. Tal como Salvador Sobral, que em 2017 venceu o Festival da Canção da RTP e depois o Festival Eurovisão da Canção, feito que agora tenta repetir, não tem problemas em dizer (quase) tudo o que lhe vem à cabeça.
"Trabalhei numa sex shop. Eu vendia dildos [vibradores para penetração]. Foi o meu primeiro emprego. Foi muito por acaso. Uma amiga minha entregou o currículo", revelou esta semana em entrevista a Cristina Ferreira em direto na SIC. "Tu foste lá!", revelou mesmo. A apresentadora de televisão não desmentiu.
As primeiras composições que disponibilizou na internet datam de 2014 mas só cinco anos depois é que muitos ouviram pela primeira vez o nome de Conan Osíris. Num círculo restrito, já eram muitos os que o acompanhavam antes de surgir a cantar "Telemóveis" nos ecrãs da RTP. "A minha mãe ficou chocada. Ela mal sabia que eu fazia música, quanto mais que já ia no terceiro álbum", revelaria em entrevista à Vogue Portugal.
Músico autodidata, nasceu em Lisboa mas passou parte da infância no Cacém. O visual extravagante, uma das suas imagens de marca, como pode ver na galeria de imagens que se segue, já era habitual e igualmente incompreendido nessa altura. "Eu tinha cabelo até à cintura, andava sempre com um gorro porque não curtia as minhas orelhas. Usava terços... Parecia uma Nossa Senhora!", afirmaria na mesma entrevista.
"Eram [as] coisas de que gostava e não me ia vestir igual às outras pessoas. O meu estilo era uma coisa estranha e bué pobre", assume sem pudores. No liceu, conheceu Ruben de Sá Osório, o stylist com quem tem desenvolvido a sua (nova) imagem, inspirada nos heróis de anime [personagens de banda desenhada japonesa] ou no hibridismo dos androides. Em Portugal, onde tem despertado ódios e paixões, tem sido muito gozado.
Fãs internacionais elogiam a música e o conceito
Lá fora, surpreendentemente, o visual ousado e a música (muito) diferente das que Portugal costuma levar ao Festival Eurovisão da Canção estão a fazer (grande) furor. William Lee Adams e Deban Aderemi, dois dos analistas do Wiwibloggs, o maior site independente especializado no evento, que o ano passado estiveram em Lisboa, não se cansam de o elogiar nos vídeos que partilham no seu canal no YouTube.
"Eu gosto disto", assume Deban Aderemi, no vídeo de quase 10 minutos que consagrou ao cantor. "E também gosto muito da estética dele. Há um conceito", confidencia. "O instrumental é fabuloso", elogia William Lee Adams. "É uma aposta arriscada mas acho que é um risco que Portugal deveria correr porque, às vezes, os riscos compensam. Foi o que aconteceu com o Salvador Sobral", sublinha o fundador do Wiwibloggs.
Por cá, as opiniões dividem-se. Indignado com as críticas à superficialidade da letra, Ricardo Crispim, um técnico social com mestrado em ciências da educação que estudou na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais no Instituto Politécnico de Leiria, resolveu fazer aquilo que Conan Osíris não quis e partilhar a explicação aos detratores. "Se já gostava da música, passei a gostar mais ainda", admite.
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