Teve uma infância difícil e nunca o escondeu. Numa publicação nas redes sociais, Conan Osíris, o cantor e compositor, que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção de 2019 com "Telemóveis", uma composição musical que dividiu o país, recordou a meninice com mágoa e criticou o ensino nacional. "Sempre me fez bué confusão a dança ser tratada como uma palhaçada, desde cedo. Na creche, tive uma experiência ótima", desabafou o intérprete de "Cartomância".

"As educadoras aceitavam e estimulavam a dança de uma forma natural, declarando-a tão importante como a própria língua. Só mais tarde entendi, numa roda de dança na rua, que não podia dançar como pensava", revela Conan Osíris. "Na escola, em oito anos de disciplina de educação física, só num período de um ano nos foi pedido uma coreografia. Lembro-me de ficar tão excitado que fiz uma colagem de músicas", relembra ainda. "Tivemos cinco", regozija-se o cantor.

"Não podia acreditar. Eu, que nem sequer fazia educação física, porque sempre me fizeram sentir que o meu corpo era lixo e [que] não pertencia a nenhum desporto ou balneário, tive cinco. Comecei a suspeitar que o meu corpo, afinal, era Deus. Mais tarde, com 23 [anos], entendi que todas as línguas do corpo tinham a mesma força. Quando terminámos todas as coreografias do [espetáculo] do Coliseu [dos Recreios, em Lisboa, em dezembro de 2019], eu vi", confidencia o artista.

"Eu vi que dançar é pôr todas palavras da vida em carne", resume, de forma poética, o também produtor musical. Tiago Miranda, nome de registo de Conan Osíris, que pode (re)ver na galeria de imagens que se segue, nasceu em Lisboa, em 1989. Viveu no bairro de Santa Maria dos Olivais antes de se mudar para o Cacém, nos subúrbios da capital. Em 2018, após o sucesso do disco "Adoro bolos", o cantor de "Amália" deixou o trabalho numa sex shop para se dedicar à música.