29 de junho de 2014. A data que mudou a vida de Judite Sousa para sempre. É por aqui que faz sentido começar este artigo, até porque foi pela morte do filho que a jornalista começou 'Pedaços de Vida', o seu 11.º livro.
Parecia ser um dia normal. André Sousa Bessa estava a divertir-se com amigos e Judite Sousa estava, também ela, a divertir-se com pessoas próximas. Poucas horas depois, já de madrugada, a comunicadora ficava a saber da morte do filho, vítima de um acidente numa piscina.
Judite tentou, cerca de dois meses depois, voltar ao trabalho, embora confesse agora ter sofrido assédio por parte dos colegas que, segundo a própria, não compreenderam - nem respeitaram - a sua dor.
Mas não é apenas sobre a perda do filho que Judite fala em 'Pedaços de Vida'. Em apenas cinco meses, escreveu sobre luto, solidão, redes sociais e, também, sobre a polémica de Pedrogão Grande. Judite desabafou sobre tudo e o país tem mostrado vontade de continuar a tê-la por perto. Ainda assim, segundo a própria, não iremos vê-la em televisão, dado que "nenhum canal a quererá contratar".
O Fama ao Minuto conversou com Judite Sousa sobre o impacto que 'Pedaços de Vida' está a ter, quer perante o público, quer perante a classe profissional a que pertence, em relação à qual qual tem mostrado sentir muita mágoa.
'Pedaços de Vida' é o seu 11.º livro. Qual é a importância desta obra quando comparada com as restantes?
É um livro intimista. Abro o coração aos leitores. Assumo a liberdade de dizer quem sou, o que sinto e o que penso.
O livro tem sido muito bem recebido, estando agora na sua terceira edição. Era esta a reação que esperava?
Sim, esperava esta adesão dos leitores. Nestes 42 anos de carreira, os portugueses estiveram sempre ao meu lado. Esse calor humano refletiu-se durante décadas nas audiências. Os números não mentem. Foi, por isso, de resto, que me vieram buscar para abrir as emissões da CNN Portugal. Não foi pelos meus lindos olhos, como se costuma dizer. Era interessante fazer um estudo de opinião sobre os jornalistas que estão em antena e os que não estão. Iriam existir grandes surpresas.
'Pedaços de Vida' não é um livro de autoajuda. É o meu livro
Revelou que escreveu ‘Pedaços de Vida’ com o objetivo de homenagear o seu filho. Acredita que conseguiu fazê-lo?
Todos os portugueses perceberam o sentido das minhas palavras, daí o impacto do livro.
Encara 'Pedaços de Vida' como o seu contributo para ajudar outras pessoas que estão a passar por perdas semelhantes à sua?
'Pedaços de Vida' não é um livro de autoajuda. É o meu livro.
O que podemos esperar da Judite no futuro? Está a pensar já na elaboração de um novo livro?
É claro que irei continuar a publicar. Escrevo todos os dias.
As pessoas que me agrediram psicologicamente ao longo dos anos, que me diminuíram na minha profissão, principalmente nos últimos oito anos, são umas frustradas
É nas redes sociais, onde explicou que faz questão de se manter ativa, que tem recebido centenas de mensagens de apoio enviadas por fãs, principalmente nos dias que se seguiram ao lançamento deste livro. Tem acompanhado o que lhe tem sido escrito? Como essas declarações a têm feito sentir-se?
Tenho lido os milhares de comentários ao meu livro. Infelizmente, não consigo responder a todos. Mas estou grata.
Tem confessado, sem pudores, como se tem sentido com as críticas e com a falta de apoio dos seus colegas de profissão. A partir do momento em que tornou públicos estes sentimentos, a atitude de algumas pessoas alterou-se?
Não, as pessoas que me agrediram psicologicamente ao longo dos anos, que me diminuíram na minha profissão, principalmente nos últimos oito anos, são umas frustradas. Tenho pena dessa gente. Não são ninguém. O país não os conhece. E também não são livres. Contam os dias à espera do dia 30. Uns não tiveram coragem para colocarem o meu nome naquilo que escreveram. A esta hora, estavam em tribunal. Outros, pura e simplesmente, não têm vergonha na cara.
Não preciso de trabalhar para viver em total liberdade
A Judite disse recentemente que não acredita na sua contratação por parte de mais nenhum canal de televisão, embora no livro reforce que será, para sempre, jornalista. Como pretende continuar a exercer a profissão? E se fosse uma escolha, em que canal de televisão gostaria de estar a trabalhar?
É um tema que não me ocupa a cabeça, graças a Deus, não preciso de trabalhar para viver em total liberdade.
Optou por deixar o capítulo onde conta a sua versão sobre o que aconteceu em Pedrógão Grande para último. Houve alguma razão para que o tenha feito?
Para a minha dignidade profissional é o capítulo mais importante. É o capítulo que termina com as palavras da Rosa Cullell, a ex-administradora da TVI que me felicitou por escrito sobre o meu trabalho de reportagem. Todos os autores sabem que os capítulos mais importantes de um livro são o primeiro e o último.
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