Ivo Lucas, o inesquecível Gonçalo da série da TVI 'Morangos Com Açúcar', despertou cedo para o mundo do espetáculo. Aos oito anos a paixão pela música levou-o a entrar no conservatório de piano, mais tarde, e já com a música bem enraizada na sua vida, descobriu que tinha afinal dois amores ao enamorar-se também pela representação.

Dono de um talento inegável, Ivo Lucas decidiu na passada semana que usaria a sua arte para ajudar Portugal na luta conta a pandemia do novo coronavírus. O músico e ator lançou o tema 'Soubesse Tudo' e resolveu oferecer ao SNS [Serviço Nacional de Saúde] a totalidade das receitas conseguidas com o tema nas plataformas digitais. Um gesto solidário que nos explicou ao pormenor em entrevista ao Fama Ao Minuto.

Não podemos deixar de começar pelo início. Como surge a tua paixão pela música e, neste caso, também pela representação?

A música surgiu primeiro. Nasci numa família de músicos e cresci com isso todos os dias. Aos oito anos entrei para o conservatório de piano e ao longo da minha adolescência fui aprendendo outros instrumentos. Já a representação, apesar de ter participado nas peças de teatro escolares, nunca foi algo que estivesse nos meus planos. Quando surgiu a oportunidade de fazer o primeiro casting, imediatamente percebi que era algo que queria fazer para o resto da minha vida a par da música.

A verdade é que a tua irmã também é cantora. Podemos dizer que o talento é algo que vem de família?

Sim, estamos todos ligados de alguma forma à música. A minha irmã canta, o meu avô (Victor Gomes) foi o rei do rock dos anos 1960, e toda a minha família materna canta ou é instrumentista.

Não foi fácil. A minha personagem nos ‘Morangos com Açúcar’ marcou uma geração

Costumam trabalhar juntos?

Partilhamos opiniões e ideias um com o outro. Sempre que posso ajudo-a na composição, e dou-lhe os meus conselhos. O mesmo da parte dela.

Para o grande público o Ivo passa a ser conhecido na série ‘Morangos com Açúcar’. Foi difícil deixar de ser o Gonçalo, personagem da série, e passar a ser para o público o Ivo Lucas?

Não foi fácil. A minha personagem nos ‘Morangos com Açúcar’ marcou uma geração que ao fim de 12 anos ainda se lembra da canção 'M’Água'. Mas com o passar do tempo e com outras personagens igualmente marcantes que tive o prazer de fazer, acabei por marcar um pouco mais o meu nome.

Seguiram-se depois muitas outras participações em novelas e séries no papel de ator. Mesmo nas alturas de maior trabalho na área da representação, a música nunca ficou esquecida?

Nunca ficou esquecida. Enquanto estava a fazer a série da RTP 'Sim! Chef' estava em promoção de single e cheguei a sair diretamente de um dia de gravações para Cantanhede para atuar na Expofacic.

Na representação estou dependente da oportunidade, do telefonema, ou do projecto certo

É possível conciliar as duas coisas (a música e a representação) e dar o melhor em cada uma das áreas?

É possível, sim. Não é fácil manter o foco a 100% nas duas, e dorme-se um pouco menos... Mas como sou feliz com as duas vertentes a entrega é a mesma.

Recuando novamente à representação, uma das tuas últimas participações numa produção televisiva prende-se com a série ‘Bem-vindo a Beirais’. Há quem diga que a série poderá voltar em breve à TV. Voltarás a fazer parte do elenco caso se verifique essa possibilidade?

Teria todo o gosto. Foi um projecto que me marcou muito e que nos deixou a todos muito tristes na altura de terminar, seria muito bom reencontrar todo o elenco de novo.

Estás agora mais focado na tua carreira enquanto músico, a representação ficou para segundo plano?

Não propriamente. A carreira musical depende de mim e dos meus próprios timings e métodos. Na representação estou dependente da oportunidade, do telefonema, ou do projecto certo. É normal que pareça mais ativo na música pois só depende de mim.

Em Portugal nem sempre é fácil conseguir singrar no mundo da música. Quais as maiores dificuldades que sentiste até aqui?

Ganhar credibilidade enquanto artista e construir o meu nome.

Acredito que mesmo depois de tudo isto passar, vão ficar muitas cicatrizes no nosso SNS e o dinheiro total das vendas da música pode ajudar

É possível viver apenas da música em Portugal?

Sim, é. É uma profissão que depende do nosso esforço e dedicação. Acredito que recebemos mediante o nosso trabalho.

Há quem diga que o público português mudou e está a agora a consumir mais música portuguesa, feita por artistas portugueses. Concordas?

Concordo! A música portuguesa está a passar uma ótima fase e é cada vez mais consumida. Não só o público português está mais disponível para a ouvir, como se fazem cada vez mais músicas com mais qualidade.

Lançaste na sexta-feira um novo single, ‘Soubesse Tudo’. De que fala este tema?

'Soubesse Tudo' é uma carta que eu nunca escrevi aos fantasmas do meu passado. Fala sobre coisas que vivi e que não tive coragem de confrontar com medo de perder alguém. É a canção mais sincera que escrevi.

Decidiste doar as receitas das vendas digitais deste single ao SNS [Serviço Nacional de Saúde]. Queres explicar-nos o porquê desta decisão?

Porque acredito que toda a ajuda é válida e necessária. Acredito que mesmo depois de tudo isto passar, vão ficar muitas cicatrizes no nosso SNS e o dinheiro total das vendas da música pode ajudar de alguma forma.

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Este tema é uma balada, tal como muitas das tuas canções. Tens uma preferência pelas baladas e música romântica?

Não diria que é uma preferência. Sempre consumi mais baladas e acabo por compor com mais facilidade este tipo de canção. E assim expresso também o meu lado mais íntimo nas canções.

Ainda não existem os devidos apoios para este setor. Não são só os músicos, é também o agente, o manager, o roadie, o técnico. Vivemos uma incerteza profunda

Já escreveste músicas para outros artistas muito conhecidos do público. Depois de terminares uma dessas músicas, alguma vez ficaste com a sensação de: ‘Bem, podia ter sido eu a cantar esta música’?

Não. Adoro o processo de criar uma canção para outro artista, pois quando a estou a escrever tento vestir a pele dele e contar a sua história. Assim como tento usar a linguagem de quem a vai interpretar. E quando entrego a música feita, é porque sinto que ninguém a vai defender tão bem como esse artista. Nem mesmo eu.

Falando agora novamente sobre a atual situação do país, e do mundo, relacionada com a pandemia do novo coronavírus. Como têm sido estas semanas em que não consegues sair para trabalhar? Está a ser fácil a adaptação a estes novos tempos?

É difícil para mim estar tanto tempo em casa. Não é algo normal na minha vida e isso está a ser o mais difícil na adaptação. Por outro lado, tenho um estúdio em minha casa e vou trabalhando da mesma forma, mas sozinho. Acabo por me distrair colocando muita composição em dia.

O cancelamento de espetáculos devido à pandemia do novo coronavírus promete deixar muitos artistas em dificuldades económicas. Qual a tua opinião em relação a este tema? Sentes-te apreensivo sobre o futuro?

É bastante preocupante, e defendo que ainda não existem os devidos apoios para este setor. Não são só os músicos, é também o agente, o manager, o roadie, o técnico. Vivemos uma incerteza profunda.

Sabemos que vives com a tua namorada, Mafalda Castro, o que têm feito para passar o tempo nesta quarentena e como estão ambos a encarar este dias sem sair de casa?

Está a correr com grande normalidade. Respeitamos imenso o espaço de cada um e o tempo que cada um precisa para as suas coisas. Vamos mantendo-nos ocupados a ver muitas séries juntos, a cozinhar, e a passar tempo um com o outro.

Em relação ao teu namoro com a Mafalda, a partir de determinado momento vocês decidiram deixar de partilhar nas redes sociais muitos dos vossos momentos enquanto casal. Qual o motivo dessa decisão que acabou até por levantar alguns rumores sobre o fim do namoro?

Nenhum motivo em especial. Prezamos a nossa relação e a nossa privacidade.

Falando agora em relação ao futuro, quais os projetos que estão para vir? Conta-nos tudo.

Neste momento estou a trabalhar já nas próximas canções. Estou a preparar um álbum que pretendo lançar ainda este ano. Estou também a escrever para outros artistas nacionais de renome, e a produzir trabalhos de outros. Este ano será totalmente focado na música. Se surgir uma oportunidade de voltar à ficção nacional, lá estarei.

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