Num verão atípico e em que o lema 'vá para fora cá dentro' ergue bandeira, Hélder Reis lança, por coincidência, 'Nação Valente' - o livro que nos faz mergulhar por cada recanto, praça, cidade do país e nos conta a história do legado nacional.

Se era necessário algum tipo de incentivo para partir à descoberta de Portugal, o autor garante que vale a pena ter esta obra como companhia de férias porque é um verdadeiro roteiro.

Em conversa com o Fama Ao Minuto, Hélder Reis falou sobre o processo de escrita deste livro, que é simbólico por vários motivos. Venha descobri-los.

Como foi o processo de escrita deste livro?

Demorou cerca de um ano e meio a escrever, mais meio ano de pré-produção para definir as linhas, reunir a equipa de pesquisa e depois todos os dias escrever duas ou três histórias. Aproveitei o confinamento para aumentar o ritmo de escrita. E muito trabalho de pesquisa, uma milha enorme de trabalho em bruto. E fazendo sempre de cada história, metade o que ela me diz a mim, uma parte mais pessoal, e outra metade mais rigorosa a nível histórico. Acho que isto é que personaliza bastante o livro.

Esteve em muitas localidades. Isso obrigou-o a mergulhar a fundo no nosso país...

Em quase todas. É um livro bastante presencial.

Isso influenciou o rumo do livro?

Influenciou no sentido de estar a falar de uma coisa, de um objeto, de uma praça, que eu vi. Torna o discurso muito mais real e essa realidade da história era também para mim muito importante.

É uma pessoa muito ligada aos lugares?

Depende. Sou ligado a lugares que incluam pessoas. Há aldeias que adoro porque conheci lá um casal incrível, então essa aldeia ganhou para mim um valor muito importante. Ou então fui ao Mosteiro da Batalha e estava lá um recepcionista ou uma vigilante que me fez uma visita muito especial, então fiquei marcado por esse sítio.

Há algum que seja particularmente simbólico, que seja como um refúgio, e que esteja contemplado no livro?

Sim, sou do Norte e gosto muito do sítio onde vivo, em Trás-os-Montes, onde estou a fazer uma nova vida, mas gosto particularmente de Estremoz. O meu avô nasceu lá e os meus bisavós viveram lá parte da vida, então escrever sobre os Bonecos de Estremoz, que são Património da Humanidade, e a densidade cultural alentejana diz-me bastante.

A escrita do livro coincidiu com a perda da sua mãe e também com esta fase pandémica. Encontrou neste desafio um refúgio?

Mais do que um refúgio foi uma certa superação. Comecei a escrever o livro muito antes da minha mãe ter falecido e ela até acompanhava, lia-lhe histórias... está presente em todas as histórias. Em vez de me refugiar nele, tentei superar-me através dele e guardar as melhores memórias que de alguma forma se relacionaram com a minha mãe e se refletem nas histórias. No caso da pandemia, foi um bocado refúgio. Como estava em casa e queria ter a cabeça saudavelmente ocupada, aí talvez tenha sido... No caso da minha mãe foi mesmo de superação, levar a vida para a frente. Honrá-la nas memórias e no legado que me deixou.

O livro é dedicado à sua mãe, o que o torna ainda mais simbólico.

Não sei se farei mais livros, provavelmente sim, mas este é marcante...

Quero que os livros sejam um remar contra a maré digital. O livro tem ótimas dicas de turismo: se os espaços são caros ou baratos, se está aberto ou não, se é visitável, e tem um caderno de notas no final para as pessoas personalizarem ainda mais o livro e serem co-autorasEste surge na sequência de um primeiro livro dedicado a mitos e lendas.

Sim, o primeiro livro é fruto do meu trabalho como repórter e de histórias que estava a colecionar. Este tem uma carga de turista.

É quase um roteiro...

Sim, quero que os livros sejam um remar contra a maré digital. O livro tem ótimas dicas de turismo: se os espaços são caros ou baratos, se está aberto ou não, se é visitável, e tem um caderno de notas no final para as pessoas personalizarem ainda mais o livro e serem co-autoras. Portanto, este livro assumiu uns contornos um bocadinho diferentes. A nível histórico, também é mais exigente porque não tem tanto ‘diz que disse’, são coisas mais factuais.

Não estava previsto, mas este livro acaba por ser lançado numa altura em que Portugal, mais do que nunca, precisa de ser valorizado. Devido à pandemia, estamos numa época propícia a olharmos mais para o nosso país. O livro é um cartão de visita?

É. Eu escolhi a ‘Nação Valente’ por ser uma parte bonita do nosso hino, mas o livro tem uma matriz muito positiva, são tudo coisas que nos orgulham, ou artesanalmente, ou a nível de praças, ou invenções nossas. É mesmo um livro que quer que o português ao ler pense ‘nós de facto somos um rectângulo enorme’.

Além deste livro, a que mais se dedicou durante o tempo de quarentena? Lidou bem com esta fase?

Durante a quarentena estive muito, muito, centrado no livro e aos fins de semana ia para o meu projeto agrícola em Trás-os-Montes, o Vale das Corujas, e basicamente o meu confinamento foi assim: ou a escrever ou na agricultura.

É um homem de campo, praia ou cidade?

Sou um homem garantidamente da praia e profundamente apaixonado pelo campo, muito pouco da cidade.

Que atividades lhe são mais prazerosas nesta fase da vida, estando a viver no campo?

O campo dá-nos uma noção de tempo que não temos na cidade. Não temos trânsito, levantamo-nos cedo, os dias rendem muito mais. Temos de obedecer ao ritmo da natureza e não ao nosso ritmo. E depois a observação da fauna, da flora, dos rios, das aldeias. A vida ganha outra qualidade e uma outra perspetiva.

Sendo que o livro foi acabado de lançar e que estamos em período de férias, que locais vai eleger para uns dias de descanso?

Este ano vou para uma zona para a qual não vou há muito tempo, vou para a Costa Vicentina. Faz um cruzamento ótimo entre o mar e o Alentejo muito bonito.

Que projetos futuros nos pode revelar?

Este ano vou ter um verão, a nível de trabalho, muito intenso. Vou apresentar uma série de novos projetos na RTP em agosto e parte de setembro. E estou também a finalizar a parte agrícola, estamos na fase de tirar o mel. Depois em setembro e outubro, logo vemos...