Milaneza
Afinal, tinha nas minhas mãos mais dinheiro do que alguma vez tivera, fruto da indemnização pelo despedimento. Que ia eu fazer com tanto tempo na agenda, sem namorada, sem trabalho, sem sequer um gato em casa à minha espera para lhe pôr comida na taça?
Comprei um bilhete só de ida para a Grécia. As ilhas gregas podiam estar ali há milhares de anos, mas eu não ia durar para sempre – agora era o momento de fazer um retiro sem data de regresso prevista.
Aluguei uma vespa e percorri Santorini de uma ponta à outra. Perdi-me pelas ruelas de vilas e aldeias, mergulhei vezes sem conta nas águas mais azuis que alguma vez vi, e deixei-me ficar horas a fio sentado nas rochas, só a ver as ondas a ir e a vir.
Durante esses dias – que nem sei bem quantos foram... – habituei-me àquele contraste de brancos e azuis, e até ao bando de gatos que passava o dia a dormitar à porta da casa onde estava hospedado, na vila de Firostefani. A casa pertencia a um casal, Giannis e Alexia, com idade para serem meus avós.
E, na verdade, com o passar do tempo eles foram-me tratando quase como um neto. No rés do chão ficava o pequeno restaurante que tinham há quase quatro décadas. E, todas as noites, a Alexia ia bater-me à porta, para me chamar para jantar. Eu insistia sempre em pagar. Eles insistiam sempre que era oferta. Quando fossem a Portugal, oferecia eu.
Foi nestes jantares que aprendi os quatro segredos da cozinha grega: os ingredientes frescos, as ervas e especiarias, o azeite e a simplicidade.
E, saciada a minha fome, este “urso” tinha novamente vontade de dançar.
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