Um antigo posto de vigia em forma de espiral construído na zona balnear de Silveira, mesmo ao lado do edifício que o abriga, deu-lhe o inusitado nome. Inaugurado nos primeiros anos da década de 2000, o Hotel do Caracol, durante anos um dos hotéis mais emblemáticos da Ilha Terceira, nos Açores, vive uma nova fase desde que as companhias de aviação de baixo custo aumentaram os voos para o arquipélago.

Localizada à beira-mar na zona poente de Angra do Heroísmo, a uma caminhada de 15 minutos do centro da capital da ilha, esta unidade hoteleira de quatro estrelas que tem apostado em intervenções de melhoramento nos últimos anos tem a vantagem de reunir o melhor dos dois mundos. Emoldurada pelo Monte Brasil, que domina a Baía da Silveira, tem um pé na cidade e outro no oceano Atlântico.

Um privilégio de que nem todos se podem gabar. A par da localização e de uma aposta num serviço exigente e atencioso e numa cozinha portuguesa de autor, a vista deslumbrante, marcada pelo contraste entre o azul do mar e o verde da vegetação, é um dos principais atrativos deste hotel. 83 quartos e 17 suites duplex, num total de 100 habitações, todas elas com varandas, perfazem a oferta de camas.

Melhoramentos atrás de melhoramentos

Em frente à rampa circular que permite o acesso ao posto de vigia desativado que está na origem da designação desta unidade hoteleira, foram construídas as duas piscinas exteriores do hotel. Uma área de diversão e de relaxamento que anualmente atrai milhares, à semelhança da piscina interior do Hotel do Caracol, que em setembro e em outubro de 2017, foi encerrada para obras. Uma das muitas que têm sido feitas.

Em 2002, quando abriu, foi o primeiro hotel de quatro estrelas da ilha. Em meados da década de 2010, depois de uma fase mais complicada, foi adquirido pela ECS Capital. A sociedade gestora de fundos de capital de risco desafiou, pouco depois, Joaquim de Sousa, que já tinha trabalhado em unidades hoteleiras em Lisboa, em Coimbra e na região do Douro, onde se manteve durante duas décadas, a dar-lhe uma nova vida.

«A Terceira tem o mar à volta e a do Douro tem o rio. A simpatia hospitaleira daqui cruza-se com a simpatia das gentes durienses. Por tudo isto, sinto-me em casa», confessou o diretor do hotel em entrevista ao jornal Diário Insular, em fevereiro de 2016, pouco depois de ter aterrado na Base Aérea das Lajes, o aeroporto civil e militar que serve a ilha. Desse essa altura, nunca mais parou.

O antigo posto de vigia que hoje (só) guarda o sono dos justos

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A estratégia de atração que tem vindo a ser seguida

Além das melhorias que tem vindo a introduzir para adequar o hotel às necessidades e às exigências dos hóspedes dos tempos modernos, Joaquim de Sousa tem também tentado abrir o hotel à população local, atraindo pessoas para o restaurante que também modernizou, promovendo iniciativas empresariais e dinamizando eventos, casamentos, batizados e celebrações especiais nas três salas e/ou no auditório da unidade hoteleira.

O buffet familiar de domingo é uma dessas iniciativas, assim como os jantares dançantes que organiza ou ainda os programas que regularmente divulga através de operadores turísticos nacionais e internacionais. A ideia é (também) combater uma sazonalidade que, antes das companhias áreas low cost aumentarem o fluxo de visitantes na ilha, limitava as ambições de muitos dos empresários do setor.

Localizado a apenas um quilómetro da Fortaleza de São João Baptista, o Hotel do Caracol, com quartos standard com vista para o jardim a partir de 60 € e com vista de mar com preços a partir de 70 €, com pequeno-almoço incluído, é o ponto de partida perfeito para a (re)descoberta daquela que é uma das mais populares ilhas do arquipélago. A suite familiar, a mais cara, está disponível por valores a partir dos 150 €.

As (muitas) coisas que pode fazer na Ilha Terceira

Sem sair deste hotel de praia com spa e ginásio, além de uma bebida no bar, de uma refeição no restaurante ou de um banho numa das piscinas, os hóspedes podem ainda fazer mergulho na escola que a unidade hoteleira também integra. Muitos preferem, no entanto, deambular pela ilha. Património Mundial da UNESCO desde 1983, o centro histórico de Angra do Heroísmo seduz pelo charme das suas praças e das suas ruelas.

A Igreja da Misericórdia, construída no início do século XVIII, num estilo barroco sóbrio, com uma nave central ladeada por duas torres sineiras com zimbório, decorada de branco e azul, é um ponto de passagem obrigatório, à semelhança do Jardim Duque da Terceira e da sua parte mais elevada, o Alto da Memória, também conhecido como Outeiro da Memória, que oferece uma das melhores vistas da ilha.

O Algar do Carvão, uma imponente gruta localizada a norte da capital no interior de um cone vulcânico, descoberta em janeiro de 1893, também merece um desvio. Apesar de ser visitável durante todo o ano, com aberturas semanais na época baixa e diárias na alta, o ideal é contactar previamente a associação local Os Montanheiros para não correr o risco de chegar lá e bater, literalmente, com o nariz na porta.

O antigo posto de vigia que hoje (só) guarda o sono dos justos

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A rica e irresistível gastronomia da ilha

Em muitos pontos, a vista impressiona mesmo. O Monte Brasil, o Miradouro da Serra de Santa Bárbara e o Miradouro do Pico Matias Simão em Altares são outros dos pontos a incluir no seu roteiro. Além do aluguer de barcos e da possibilidade de fazer passeios a cavalo, outra das atividades com muita procura são as excursões de observação de baleias e golfinhos em alto mar. Nadar com golfinhos e tubarões é outra das opções possíveis.

A gastronomia local também não deve ser esquecida. A alcatra, de carne, de peixe ou de feijão, é o prato típico da ilha. A mais famosa é a que é confecionada vinho verdelho dos Biscoitos, outra das localidades que não pode deixar de visitar. As sopas de Espírito Santo, as cornucópias, as caretas, os feiticeiros e as Donas Amélias, um doce conventual terceirense, são outras das especialidades a provar obrigatoriamente.

Os gelados da Quinta dos Açores, à base do leite e das natas frescas que as vacas criadas ao ar livre nos campos verdejantes da ilha produzem, também não podem ficar de fora. O melhor é ir saboreá-los diretamente na cafetaria da empresa que os fabrica, que tem uma das mais deslumbrantes vistas da ilha. Além dos sabores mais tradicionais, há-os de chocolate com queijo de São Jorge ou ainda de queijadas da Graciosa.

Texto: Luis Batista Gonçalves