No santuário de paz e tranquilidade que é a Quinta das Lágrimas, a arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco deu vida a um jardim que pode ser considerado o local mais japonês de Portugal.
Este jardim foi desenhado para nele se tomar chá.
No ano de 1191 o Monge Budista Eisai trouxe da China para o Japão as sementes de chá e dedicou a sua vida a espalhar pelo Japão os princípios da seita Zen Budista em simultâneo com o chá, afirmando que "Zen e chá têm o mesmo gosto".
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Este jardim é um local de paragem e de elevação da alma através do sossego e um hino aos encontros e reencontros entre as civilizações
do Oriente e do Ocidente. Foram inspiradoras para o traço e a construção deste espaço as histórias escritas pelos padres jesuítas, os primeiros ocidentais a visitar o Império do Sol Nascente.
Chegaram ao fim do mundo de barco à vela e souberam conversar com os japoneses,
explicar-lhes, a eles que já tinham duas religiões activas, a importância
de mais uma. Luís de Froes e João Rodrigues descreveram nas suas fantásticas memórias do Japão o fascínio dos jardins e neles a surpresa da hospitalidade expressa com uma chávena de chá, olhando a floração das cerejeiras, o quartzo penteado, o musgo e abrindo a alma para a contemplação da natureza.
É a prova de que Portugal e o Japão estão ligados há séculos e que a criação de um jardim japonês no santuário de paz e tranquilidade que é a Quinta das Lágrimas faz todo o sentido. Este é, provavelmente, o local mais japonês de Portugal.
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Dimensão infinita
A primeira ideia que surge para um jardim japonês é o sossego. Tudo deverá concorrer para a paz através da contemplação da beleza. Depois são as pedras a quem os japoneses sabem dar vida.
Há técnicas milenares para a disposição das pedras (ishizumi) e muitos livros se escreveram sobre os seus significados,
formas, e história de evolução como entes fundamentais do jardim Zen. As pedras deste jardim foram dispostas como palavras numa poesia, com sentido oculto e o efeito da composição
em perspectiva num espaço limitado por duas dimensões.
A terceira dimensão é infinita e vai até ao céu, tal como o simbolismo que de cada pedra, de cada conjunto se desprende, flutuando no espaço, no universo e no tempo. No Japão, se o jardim for só para meditação, então não se visita, não se entra para dentro dele, olha-se a partir da varanda, alpendre sobreposto ao jardim que limita todos os lados dos pavilhões de madeira que o remata e que se chama hen.
Ao percorrer estes alpendres virados para o jardim, as pedras parecem mover-se, os montículos de musgo parecem mudar de sítio, os bambus oscilam graciosamente, a água aparece e desaparece conforme o ângulo do alpendre. Os efeitos de luz através da vegetação parecem estudados e o jardim é sempre diferente de cada vez que se visita.
Se chover, podemos continuar a apreciar o jardim, resguardados sob o alpendre, e as pedras ficam molhadas, o musgo agradece, e as pingas de água vêm juntar-se à nostalgia que sentimos, de um passado muito longínquo. A vegetação é pouca dentro deste jardim mas no ângulo de vista do alpendre vê-se, para lá das paredes, a parte de cima do bambusal, a copa esquia das sequóias, o gigantesto ficus e a mata densa que sobe a encosta. Esta técnica de pedir emprestada a vista tem o nome de shakkei.
Jardim privado sem hipótese de visita
Localização: Hotel Quinta das Lágrimas Relais & Chateaux (Coimbra)
Projecto: ACB Lda. – Arq. Cristina Castel-Branco Assistente de projecto – Arq. Miguel Coelho de Sousa
Empreitada de construção civil:
Pedro Godinho Leitão/António Madeira
Escultura de pedra: Esperança
de Matos
Pedras de xisto: Rui Fernandes Lopes
Fotos: Cristina Castel-Branco e Bartolomeu Paes
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