Farmácias Portuguesas
Quando caminhou pela primeira vez nas ruas empedradas que serpenteiam por entre as casas caiadas, Rui Aparício sentiu que tinha chegado a «um lugar parado no tempo». Foi há mais 30 anos, mas o assombro que sentiu mantém-se, garante o farmacêutico. «Gosto de sair de casa e ter a sensação de estar numa época distante. Monsaraz consegue ter esse efeito nas pessoas».
Eleita aldeia-monumento em setembro de 2017, no âmbito do Concurso 7 Maravilhas de Portugal, ‘Monte Saris’, como a denominaram os mouros há mais de um milénio, pela abundância de estevas, é um ‘museu’ erguido no topo de uma colina alentejana, perto da fronteira.
Como museu aberto que é, tem o savoir faire da experiência a seu favor. Bem preservada, ao caminhar entre as suas muralhas é possível imaginar a época em que Geraldo Geraldes, o “Sem Pavor”, a conquistou aos mouros em 1167, durante a campanha de Dom Afonso Henriques pelo Alentejo.
De novo perdida, seria reconquistada em 1232 e povoada pelos cavaleiros templários. É essa memória, ainda viva nas suas ruas, que o farmacêutico Rui gaba. «É uma vila que permanece inalterada praticamente há 500 anos. Talvez por se localizar no cimo de um monte, não teve oportunidade de se desenvolver e isso permitiu que permanecesse inalterada durante todo este tempo».
A Igreja Matriz de Nossa Sra. da Lagoa, com os frescos, o castelo «com uma vista magnífica sobre a barragem do Alqueva», e a Casa da Inquisição são alguns lugares onde vale a pena demorar. E o Museu do Fresco, criado em torno de um fresco de finais do século XV é lugar obrigatório.
Lá dentro, há uma pintura de grandes dimensões, escondida durante séculos com tabique de tijolo. Foi descoberta por acaso, em 1958. O fresco representa a alegoria da justiça terrena, e tem como elementos principais o bom e o mau juiz.
Ao cimo, está a figura de Cristo, assente no globo terrestre com a inscrição UROPA, ladeado por dois profetas, o Alfa e o Ómega, representando, respectivamente, o princípio e o fim.
Na parte de baixo – a principal –, estão o bom e o mau juiz, acompanhados por figuras comuns de um julgamento civil. O bom juiz, digno e solene, segura a vara recta da Justiça, em oposição ao mau juiz, com duplo rosto e a vara da Justiça quebrada.
Por cima das suas cadeiras, estão representadas as figuras da misericórdia, no caso do bom juiz, e da perversão, expressa na cabeça de um demónio, no caso do mau.
Texto de Sónia Balasteiro
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