Quando há uns anos começaram a “brotar” hotéis pela baixa de Lisboa, havia uma coisa que acabava por ser comum: quando se começa a escavar nesta zona, havia muitos achados arqueológicos a reaparecer. Não é um fenómeno exclusivo da baixa, a Lisboa antiga tem este encanto de nos revelar civilizações e vivências dos nossos ancestrais.
Focando-nos por esta zona, há muitos edifícios com história, coisas que nem imaginamos. E esse é o caso do Convent Square Hotel Vignette Collection, junto ao Rossio, que levou sete anos a ser convertido em unidade hoteleira. O nome por si já denuncia qualquer coisa e a localização não podia ser melhor. A Praça da Figueira encontra-se ao virar da esquina, o Teatro Nacional D. Maria II fica a escassos minutos, a igreja de São Domingos é mesmo ao lado e, se assim tiver vontade, uma passagem pela conhecida “Ginjinha do Rossio” não será de mau tom – com elas ou sem elas. Tudo na mesma rua. E é também uma passadeira escancarada para a baixa de Lisboa.
Para quem seja um apaixonado por História, vale a pena a visita, mesmo que de passagem. O hotel é o resultado da reabilitação do Convento de São Domingos, cujo projeto de arquitetura é da responsabilidade de Marcelo Azevedo (GRCA) e o projeto de design de interiores da dupla Cristina Santos Silva e Ana Menezes Cardoso (ARTICA).
O edifício foi edificado a mando de D. Sancho II, em 1242, e a influência da Ordem Dominicana encontra-se um pouco pelo espaço, que totaliza 121 quartos, distribuídos em três tipologias – Standard, Premium e Suite. Isso nota-se, por exemplo, nas cores escolhidas para as áreas comuns, assim como na disposição do próprio restaurante Capítulo, com carta assinada por Vítor Sobral. Vale também a pena ficar a apreciar uma bebida no generoso claustro a céu aberto, que resume a história de oito séculos deste edifício.
Resumindo, é isto que um hotel deve ter: hospitalidade
Começamos a nossa visita ao Convent Square Hotel Vignette Collection com uma breve passagem por outro hotel emblemático de Lisboa: o Mundial, na praça do Martim Moniz. É lá que deixamos o carro, e uma das possibilidades para quem trouxer viatura, uma vez que o Convent Square não tem estacionamento próprio. Isso deve-se ao facto de ambos serem geridos pelo PHC – Hotels.
Aberto desde 1 de agosto deste ano, o Convent Square faz parte do portfólio de luxo e lifestyle do grupo IHG, com o selo Vignette Collection do qual fazem parte a Six Senses, Regent Hotels & Resorts, InterContinental Hotels & Resorts e Kimpton Hotels & Resorts.
Percorremos a estreita Rua Barros Queirós, que desemboca na “Ginjinha do Rossio” e damos facilmente com a entrada do nosso destino final. Tiago Gomes está na receção para nos receber e falar um pouco de português. Notoriamente, a maior parte dos hóspedes são estrangeiros.
Falamos sobre a vizinha Igreja de São Domingos e somos apresentados a um momento de chá, o Ritual Memorável, uma parceria com a Infusões com História, onde é apresentada a figura de D. Catarina de Bragança e a sua relação com esta bebida. É um evento que acontece todos os dias, nos claustros, entre as 17h e as 18h. Este ritual é aberto a toda a comunidade, tendo um custo de 5€, ou uma cortesia do hotel, caso se trate de hóspedes. De caminho para o quarto apresentam-nos as instalações que contemplam um ginásio (em funcionamento entre as 7h e as 22h), sauna e piscina interior. “Costumo dizer na brincadeira, uma vez que estamos na cidade das sete colinas, que os hóspedes vão acabar por fazer o ginásio lá fora”, afirma Tiago Gomes.
O ponto alto da estadia é a passagem pelo restaurante Capítulo, um all day dining, ou seja, sem horário definido para almoço e jantar.
Sónia Vasconcelos acolhe-nos no local que antes foi a Sala do Capítulo do convento – daí o nome do restaurante – e começa as explicações sobre o local onde nos encontramos. “Uma pessoa que disse-me esta frase que me marcou muito. ‘Nós gostamos mais quando conhecemos’. Às vezes até gostamos de coisas, mas quando conhecemos o que está por detrás, ainda apreciamos mais”, partilha, enquanto nos vai conduzindo pela história do edifício aos mínimos detalhes.
Algo que salta à vista é a hospitalidade com que somos recebidos, tanto na receção, como no restaurante. O acolhimento é feito de uma forma muito personalizada, como se de alguém conhecido se tratasse. Sente-se a paixão nas palavras de Sónia a contar a vida anterior do Convent Square, que chegou a ser da Braz & Braz e permaneceu na família durante 200 anos.
“Estamos na antiga Sala do Capítulo, onde eram tomadas as decisões mais importantes do nosso país, e espero que assim continue. Algumas das decisões mais marcantes foram tomadas à mesa de cafés e restaurantes”, assume. E porque não aqui também?
“Tudo o que veem aqui, desde as cores das nossas fardas às cores dos sofás e carpetes tem um propósito: tudo remete para o que se encontrava aqui antigamente”. Invariavelmente a conversa segue para a Igreja de São Domingos, uma das mais antigas da cidade e que chegou a ser a mais importante, que ao longo de oito séculos resistiu a dois terramotos, um incêndio, inundações, foi palco do Massacre de Lisboa de 1506 e teve nomes como João Federico Ludovice e Carlos Mardel como responsáveis pela suas reabilitações. “Acaba por ser uma lição. Tem um ar muito rude e há pessoas que pensam que está ao abandono. Mas está assim para mostrar por aquilo que já passou”, explica Sónia Vasconcelos.
Há toda uma aula de História que nos é feita à mesa, e se gosta destes temas, ou se apenas tem curiosidade em saber mais de Lisboa, espere por essa explicação numa visita. Não queremos estragar as muitas surpresas que aquela sala em particular reserva. Mas acredite, até há detalhes nos talheres que estão relacionados com a história do edifício.
Além do mármore e de uma bela garrafeira, o grande destaque da sala vai para o bar, que se encontra na entrada. É lá que são preparados os mais diversos cocktails, idealizados por Rui Príncipe (da Street Shaker), com e sem álcool, numa mistura com base em alguns ingredientes que se usavam no século XIII, como se de um boticário se tratasse. Os ingredientes até podem ser ancestrais, mas as técnicas são modernas. Há cocktails de assinatura como o Antidote (Vodka Absolut Blue, Aperitivo Genciane, Madeira Sercial 10 Anos, Pepino, Soda, 16€), sem álcool como o Serum (Camomila, Sumo de Tangerina, Pêssego, 12€), ou clássicos como Moscow Mule (Vodka Absolute Blue, Lima, Ginger Beer, 14€).
Mergulhamos na carta, com assinatura do chef Vítor Sobral, onde pode começar por enganar a fome com o couvert composto por dois tipos de pão de fermentação natural, paté de grão e sésamo, azeitonas marinadas e queijo (7€).
Explicam-nos que a intenção é esta ser uma refeição de pratos de partilha, onde se destacam clássicos da cozinha portuguesa, às vezes com um twist, como as pataniscas de bacalhau com maionese de coentros e wasabi (14€), uns filetes de pescada com xerém de berbigão e Camarão (21€) ou uma presa de porco preto alentejano assado com vinho tinto e gengibre, espargos salteados, puré de batata e nabo (28€).
Não estivéssemos num antigo convento, nas sobremesas não podiam faltar opções como pudim Abade Priscos, com ananás caramelizado e hortelã (8€), Toucinho do Céu (8€), assumidamente doces conventuais, mas também sericaia com gelado de ameixa d’Elvas (8€) ou creme queimado de tangerina (8€).
A sala tem um ambiente intimista o suficiente para nos fazer esquecer que estamos praticamente no coração de Lisboa. Aliás, todo o hotel tem essa aura, talvez o peso de tempos antigos em que a meditação e o recolhimento faziam parte do dia a dia destas paredes.
É também no Capítulo que é servido o pequeno-almoço, que mesmo à luz do dia, não deixa de ter esta mística. Os preços por noite, no mês de dezembro, começam nos 219€.
O SAPO Lifestyle visitou o Convent Square Hotel Vignette Collection a convite do hotel.
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