Está localizado a uma altitude de cerca de 450 metros, numa área com soberbas vistas sobre as colinas em direção à costa e ao mar, longe do reboliço turístico daquela zona.

A proposta de reconversão para este miradouro é desenvolvida
dentro de uma abordagem
mimética da paisagem
envolvente, numa base
conceptual de valorização
dos recursos existentes.

O programa tem por
objetivo estimular a estadia e o lazer, dotando
o local de equipamentos que permitem a sua
utilização pela população local e visitantes, nomeadamente no que se refere às vistas, aos materiais de
construção e à vegetação.
O elenco florístico autóctone garante a
adaptação às condições edafoclimáticas e os
elementos construídos garantem as condições
de segurança à estadia e passeio pelo local.

Associado de um modo geral ao espaço
onde se podem usufruir de vistas sobre a
paisagem e à sua contemplação, o Miradouro
de Alcaria do Cume, na freguesia de
Santa Catarina da Fonte do Bispo, no concelho de Tavira, no
Algarve, é simultaneamente um local onde
a compreensão e a sensibilização para os
fenómenos que ocorrem na paisagem pode
surgir e contribuir para um papel mais ativo
para o exercício da cidadania.

Estes espaços
têm a capacidade de se converter em locais de tranquilidade, calma e recreio para todos
os tipos de pessoas, desde a população local,
predominantemente idosa, até à população
mais jovem e ativa fisicamente, passando pela
família nos passeios semanais. Ao serem criadas as condições necessárias
para a contemplação de vistas, podem ser criadas
também condições para a estadia, tirando
partido das condições calmas e de isolamento
presente neste espaço, fornecendo os meios
necessários para percorrer o espaço, reconhecer
a vegetação, os elementos construídos, os seus
ambientes e recantos e percebendo a sua relação
com a envolvente rural.

Como base conceptual para o
desenvolvimento do projeto foi essencial a criação
de condições para a observação da paisagem ao
mesmo tempo que o desenho do espaço revela
a eira como elemento construído e reforça o
contacto visual com o aglomerado rural.
O processo de depuração da forma a que o
desenho foi sujeito foi desenvolvido com o
objetivo de produzir um discurso mimético onde
se premeia a diluição da intervenção na paisagem.

Área de merendas e de estadia

Assim, o programa consistiu na criação de
uma área de miradouro em associação com
uma área de merendas e estadia, que se
desenvolve num mesmo espaço em plataforma,
sendo acedido por um caminho onde são
garantidas as condições necessárias para o
acesso automóvel e estacionamento. Este
espaço de miradouro está delimitado por
um muro em xisto que delimita o espaço
e suporta terras. Este espaço prolonga-se
então para uma segunda plataforma através
de uma escada rampeada, onde se encontra
a eira, tornando possível o acesso e o
caminhar sobre este espaço.

Deste modo ao
nível da organização espacial encontramos
cinco áreas distintas:

A – Eira
B – Escada
rampeada
C – Área de Estadia e miradouro
D – Acesso e estacionamento automóvel
E –
Estacionamento de bicicletas.


Veja na página seguinte: O que muda para facilitar o acesso ao local


O acesso ao local desenvolve-se pelo
caminho existente em terra batida, pelo
qual acedem automóveis, bicicletas e peões.

Neste caminho são garantidas as condições necessárias para o acesso automóvel e
estacionamento de modo informal, estando
o espaço destinado à circulação automóvel
delimitado com balizadores em madeira.


Para os que fazem percursos de bicicleta, são
instalados estacionamentos para bicicletas
no muro em xisto, à entrada da zona de
merendas.

Vegetação

A área de estadia e miradouro encontrase
delimitada por um muro em xisto, que
funciona como assento tendo uma altura
constante na parte interior da zona de
merendas (0,40 m), e visto do lado do talude
tem uma altura variável. Esta área de estadia
tem um revestimento a talisca de xisto a
cerca de 0,10 m, estando equipada com dois
conjuntos de bancos e mesa, e uma papeleira,
sendo todos estes elementos em madeira,
com fixações em metal para garantir a sua
estabilidade no local.

Neste espaço encontra-se um painel informativo, que contém
informações sobre a paisagem, o local e a eira
existente, de modo a fornecer informações aos
visitantes. Este espaço terá como elementos
vivos plantados dois sobreiros (Quercus
suber
) e três zambujeiros (Olea europaea var.
sylvestris
), usando deste modo a vegetação adaptada às condições microclimáticas locais
e dando resposta à necessidade de espécies de
crescimento rápido, como o zambujeiro, que
melhorem as condições de estadia no local.

A partir da área de estadia desenvolve-se a escada rampeada em consonância
com a regulamentação em vigor de modo
a garantir um acesso confortável e seguro
aos utilizadores do espaço. Para que estas
condições sejam satisfeitas, as escadas são
equipadas com guardas duplas em madeira,
situadas a 0, 75 e 0,90 m da superfície da
escada. As escadas são pavimentadas com
xisto a cutelo existindo nas suas extremidades
pavimento com textura diferente que marca e
anuncia a sua existência.

Descendo através da escada, acede-se à
eira. Na sua superfície será feita uma remoção
da terra, se possível, deixando apenas a rocha
á vista, removendo também a vegetação que
entretanto se desenvolveu.
Quanto à modelação de terreno e
movimentos de terras, as alterações serão
residuais, sendo feita apenas modelação na
zona de merendas, de modo a atenuar os
declives existentes, através do enchimento com
talisca, possibilitando a estadia. Será ainda alterado
parte do talude que se desenvolve a norte da
eira para implantar a escada.

Texto: João da Costa Rodrigues (arquiteto paisagista)