São coloridas, graciosas e muito bonitas. Quem não gosta de ver uma borboleta a flautear de canteiro em canteiro? Não é necessário fazer muito para atrair estes insetos para o seu jardim. Desde que haja flores em abundância, as borboletas estarão lá para se alimentarem. Mas há alguns pequenos truques que poderão ser aplicados para potenciar a visita destes bonitos animais. As borboletas são atraídas por cores garridas, pelo que quanto mais colorido for o jardim, melhor será.
E, quanto maior a mancha florida, maior poder de atração terá para as borboletas. Tente, pois, criar um canteiro florido e relativamente grande. O conteúdo de néctar das flores utilizadas é também importante. Certas espécies são particularmente atraentes para as borboletas. Outro aspeto a ter em conta é tentar ter no seu jardim plantas que possam servir de habitat para todas as etapas da vida das borboletas. Deverá, por exemplo, contemplar locais para elas poderem hibernar.
Certas espécies sobrevivem ao inverno, permanecendo imóveis dentro de arbustos ou nas paredes de construções, pelo que é essencial integrar esses espaços, bem como plantas para porem os ovos e para alimentar as suas larvas, as vulgares lagartas. E nem só de flores vivem estes simpáticos bichos. Um charco para água é, também ele, muito importante. As borboletas gostam também de apanhar sol em zonas rochosas ou em pedras, pelo que a adição de pequenas lajes pode resultar muito bem. No que se refere ao seu ciclo de existência, as borboletas começam a sua vida como ovos.
Ovos que são colocados numa planta. Destes ovos, nascem, depois, pequenas lagartas, que começam, de imediato, a comer as folhas de determinadas plantas. Cada espécie só se alimenta de um número específico e reduzido de espécies, ditas hospedeiras. Não fique, pois, desconsolado se as folhas de algumas das suas variedades botânicas aparecerem, uns tempos depois, comidas pelas lagartas. É um pequeno preço a pagar para ter um dia mais tarde as bonitas borboletas.
Uma forma original de se livrar das ervas daninhas
Algumas das plantas que alimentam as lagartas são consideradas ervas daninhas. Tente, pois, olhar para o seu jardim de forma diferente, tendo as borboletas e a sua ação em mente. As urtigas são, por exemplo, um dos alimentos preferidos das larvas de várias espécies de borboleta, incluindo o pavão-diurno (Inachis io), o almirante-vermelho (Vanessa atalanta) e a coma (Polygonia c-album), pelo que os exemplares destas espécies devem figurar entre os que mais deve tentar atrair.
Já as lagartas das borboletas castanhas, espécies como a Malhadinha pararge aegeria e a Loba maniola jurtina, alimentam-se de ervas e de gramíneas, que muita gente destrói com afinco. Pense duas vezes da próxima vez que estiver a limpar o seu jardim! As lagartas, se conseguirem sobreviver aos muitos predadores que delas se alimentam, como é o caso de aves, sapos e lagartixas, se não tiverem sido parasitadas por vespas ou por moscas, transformam-se, mais tarde, em crisálidas.
Muitas delas estão protegidas por um casulo, de onde sairá então a borboleta adulta, que só se alimenta de néctar das flores. Este animal voador vive, geralmente, uma curta existência, durante a qual tem de encontrar a planta hospedeira para pôr os ovos e, assim, recomeçar o ciclo. No nosso país, existiam, no início da década de 2010, cerca de 136 espécies de borboletas diurnas, algumas das quais em perigo de extinção. Em geral, as populações de borboletas têm decrescido de forma acentuada.
Essa situação tem-se verificado devido à fragmentação dos seus habitats naturais, à utilização indiscriminada de pesticidas e de herbicidas nas culturas e na agricultura e à tendência para destruir todas as plantas daninhas e áreas marginais com vegetação natural. É, por isso, imperativo mudar o paradigma e começar a plantar para as borboletas. Uma da plantas de jardim que mais atrai as borboletas é a buddleia, Buddleia sp. na sua designação científica, devido ao alto conteúdo em néctar das suas flores.
É frequente ver uma dezena de borboletas de varias espécies a alimentarem-se num destes arbustos. Na língua inglesa, esta planta perene é mesmo chamada de butterfly bush, arbusto das borboletas em tradução literal. Originária da China, a buddleia é uma planta ideal para os jardins portugueses, já que gosta de muito sol e de solos bem drenados. É mesmo uma espécie que tolera relativamente bem a seca. Prefere solos mais calcários, mas cresce bem também noutras condições.
Se tiver árvores de fruto no seu jardim, não retire os frutos meio apodrecidos que caem ao solo. Algumas borboletas apreciam muito o néctar açucarado que eles contêm e podem ser observadas sobre as maçãs ou ameixas bem maduras debaixo da árvore. E, claro, não se esqueça que os inseticidas e herbicidas são letais para as borboletas ou as suas lagartas. Tente, pois, minimizar a sua utilização! Se estiver interessado em saber mais sobre borboletas nacionais, há um livro que pode comprar.
"As borboletas de Portugal", editado por Ernestino Maravalhas, é uma obra de 464 páginas que inclui mais de 700 fotografias, mapas de distribuição, fotografias de habitats e de plantas, para além de explicações sobre a história, a biologia, a evolução, as migrações, a ecologia, a conservação e a genética das borboletas portuguesas. Informações muito úteis para quem se interessa por este tipo de animais esvoaçantes e coloridos e pode, assim, aprender a olhar para eles com outros olhos.
Texto: José Pedro Tavares (membro da RSPB, Royal Society for the Protection of Birds, no Reino Unido, uma organização parceira da SPEA, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves)
Comentários