Os primeiros dias frios, geralmente no mês de outubro, trazem com eles as castanhas, ricas em fósforo, vitamina B6 e triptofano. Pelas cidades e vilas de Portugal surgem os vendedores ambulantes de castanhas assadas, nos tradicionais cartuchos de papel. Também são muito consumidas até mais tarde, sobretudo no São Martinho e nos magustos que acompanham esta época, geralmente acompanhada de água-pé ou de vinho novo.
O castanheiro (Castanea sativa) é uma árvore de grande porte e folha caduca, que se encontra por todo o sul da Europa, mas também em países mais a norte, como a Inglaterra ou a Alemanha. É uma árvore que pode atingir uma longevidade espantosa. Pode chegar aos 1.000 anos! No nosso país, encontra-se principalmente no interior centro e no norte, em altitudes até aos 1.000 metros.
Surge habitualmente associado ao carvalho-negral e ao carvalho-roble, atraindo animais como o javali, o coelho-bravo ou os cervídeos e aumentando a biodiversidade, pois nos troncos dos castanheiros surgem diversas espécies de cogumelos, algumas das quais comestíveis e de grande valor económico, que ajudam a complementar os rendimentos dos proprietários dos soutos em várias regiões do país.
Condições e práticas de cultivo
O castanheiro é uma árvore de grande porte com uma copa muito frondosa, que pode atingir uma altura de vinte ou trinta metros. Só é adequado para um jardim ou quintal de boas dimensões. O castanheiro não parece apreciar muito o ar marítimo e beneficia com temperaturas baixas no inverno. Contudo, é uma árvore muito rústica, que dispensa grandes cuidados. Os soutos são habitualmente capinados.
São usados para corte rente das ervas e muitas vezes servem de pasto a rebanhos de ovelhas ou cabras, que estrumam o terreno. Não há, para a árvore adulta, a prática corrente de adubação ou de rega. O castanheiro é geralmente plantado a partir de frutos germinados, quando a planta tem cerca de um ano. O plantio é geralmente feito na primavera, em solos fundos e bem drenados, de preferência arenosos, com pH ligeiramente ácido.
Por regra, não se fertiliza no primeiro ano mas, se necessário, por as plantas apresentarem folhas amareladas e fraco crescimento, pode aplicar-se um adubo rico em azoto, que pode ser industrial ou orgânico. As melhores alturas para fertilizar o castanheiro são a primavera e o verão. No nosso quintal ou horta podemos cavar um buraco com cerca de um metro por um metro, de modo a que a terra fique leve e a árvore possa enraizar.
Cuidados de cultivo a ter
Misturando estrume de cavalo ou de vaca à terra, devemos garantir igualmente que as raízes do castanheiro podem ficar livremente esticadas. Os castanheiros são geralmente enxertados, para que se reduza o tempo até a árvore começar a produzir ou para que a árvore produza castanhas de um dos vários cultivares laboriosamente selecionados pelas suas características vegetativas e qualidade do fruto.
A melhor altura é na primavera, a partir de fins de março. De entre os cultivares do castanheiro podemos destacar a judia, a rebordã, a longal, a negral ou a martaínha. Depois, no outono, é tempo de colher e saborear as castanhas, frutos que combatem doenças como a hipertensão, purificam o organismo, favorecem um bom desenvolvimento ósseo e melhoram a qualidade do descanso durante o sono.
Veja na página seguinte: As principais pragas e doenças do castanheiro
Pragas e doenças do castanheiro
Apesar de ser uma árvore muito resistente, temos de ter atenção à lagarta do castanheiro, ao gorgulho do castanheiro, ao cancro do castanheiro, provocado por um fungo, à perigosa doença da tinta, provocada por dois fungos distintos e que já provocou a morte de muitos soutos e ao ataque da vespa-das-galhas-do-castanheiro. Entre maio e julho, surgem nos ramos dos castanheiros os cachos florais, que são polinizados pelo vento ou pela ação de insetos como as abelhas.
Esta polinização cruzada é benéfica, embora não seja indispensável para a frutificação. O fruto desenvolve-se dentro do ouriço, um invólucro espinhoso que pode conter até três castanhas. A partir de princípios do mês de outubro os ouriços começam a abrir. Hoje em dia, a colheita já conta com a ajuda de maquinaria, mas no nosso quintal bastam umas boas luvas e um martelinho para abrir os ouriços que caíram fechados.
Produção de castanheiros em Portugal
Durante muitos séculos, nomeadamente até à introdução da batata e do milho oriundos das Américas, a castanha era parte importante da alimentação portuguesa, sendo consumida de várias maneiras, até sob a forma de pão. Hoje em dia, na ilha da Madeira, ainda há localidades onde se confeciona o pão de castanha. Em Portugal, a produtividade dos soutos é baixa, pois as explorações são em geral muito pequenas e muito fragmentadas.
Além do mais, o castanheiro é uma espécie que, infelizmente, com tudo o que isso representa, está a recuar desde há séculos em território nacional, perdendo terreno para variedades como o pinheiro-bravo e como o eucalipto, que muitos consideram uma praga. Além do fruto, a madeira do castanheiro é de muito boa qualidade e muito resistente, sendo utilizada na construção civil, mobiliário e decoração.
Em Portugal, a produção de castanha tem vindo a reduzir-se. Ainda assim, a castanha é comumente consumida assada ou cozida, aromatizada com um pau de canela. No entanto, em países como Espanha ou França, a castanha sofre transformação industrial, sendo comercializada sob a forma de puré ou como sobremesa, em doce ou confitada com calda de açúcar, como sucede com os famosos marrons glacés.
Texto: João Franco (autor do blogue Maracujá e Amigos e de dois livros sobre passiflora) com edição de Luis Batista Gonçalves
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