Inspirado nos jardins na zona de Sintra, nas mós e nas pedras dos antigos lagares de quintas
do Norte de Portugal, muita imaginação e numerosas plantas que vai testando,
Cristina Pulido Valente criou no centro do Estoril um acolhedor jardim familiar.
O tom vermelho das buganvílias que
cobrem o caramanchão ultrapassa os
muros do jardim.
Aquele pequeno recanto verde não deixa indiferente
quem passa numa das principais artérias
do centro do Estoril. Para lá do muro
estende-se um amplo jardim cuidado
com mãos de mestre ou não fosse a sua
proprietária a gerente do Jardim Primavera, o centro de jardinagem
e decoração localizado no Ramalhão, Sintra, um dos
maiores da região da Grande Lisboa, com 10.000 m2 de área de
exposição de plantas.
Trata-se de um jardim familiar que serve uma casa do início
do século passado, adquirida há cerca de sete anos por Cristina
Pulido Valente. E foi precisamente o jardim que teve um peso
bastante considerável na aquisição da propriedade. «É um jardim
plano, coisa rara no Estoril, onde os jardins são muito inclinados,
ideais para fazer rock gardens mas em que não se consegue
aproveitar áreas muito grandes», explica a proprietária.
Veja a GALERIA DE IMAGENS DESTE JARDIM
O espaço caracteriza-se por uma área relvada
de grande dimensão,
adequada para os tempos
livres dos mais novos da
casa, onde sobressai a piscina
junto a uma cortina
vegetal repleta das mais
variadas espécies. A piscina
e uma ou outra árvore
resistiram à intervenção
dos novos proprietários.
Tudo o resto, plantas e
decoração, foi introduzido
ao longo dos anos.
Veja na página seguinte: As espécies que existem neste jardim
Apesar de se encontrar no
coração do Estoril e por
isso rodeado de outras
moradias, este é um jardim
em que a privacidade
é regra de ouro. Cedros
e cânforas (planta pouco
utilizada mas de rápido crescimento), entre muitas outras espécies, garantem a
intimidade da família e criam um género de pequeno oásis.
A cânfora «é uma árvore fantástica misturada com plantas
tropicais», sublinha a gerente do Jardim Primavera, confessando
que o seu jardim também serve um pouco como laboratório
experimental de espécies comercializadas no centro de jardinagem.
«Quando as plantas se dão aqui torna-se mais fácil depois
propô-las aos clientes do Jardim Primavera. Tentei criar uma sebe
completamente cerrada com cânforas, estrelícias Nicolai (Strelitzia
nicolai), bambus e palmeiras», sublinha. É um jardim de recantos este espaço concebido pela proprietária.
«A beleza de um jardim, para mim, é a parte escondida,
é a parte que não é óbvia de se ver, que obriga à descoberta. Há
uma zona mais sombria, fantástica para hortenses, azáleas e
rododendros que este ano já deram flor», explica indicando o seu
cantinho preferido em que estas espécies convivem com roseiras, papiros e camélias numa mistura algo confusa mas que resulta.
Com a parede completamente
forrada a vinha virgem que se estende
para lá dos muros do jardim
e por cima do telheiro, criado com
a finalidade de ser uma agradável
zona de refeições para as duas ou
três dezenas de familiares e amigos
que aí se reúnem ao fim de semana,
este parece ser na realidade um dos recantos mais acolhedores e
frescos do jardim.
Um espaço para ser vivido
«Um jardim tem que ser feito à medida de cada um e à medida
de quem o vive», vai afirmando com alguma insistência a
nossa interlocutora, enquanto explica as diferentes opções do
seu espaço verde. «A primeira coisa é um bom planeamento
mas não é necessário fazer tudo ao mesmo tempo. No meu
caso, fomos fazendo aos poucos, de acordo com as necessidades», assume.
«Por exemplo, houve uma altura em que não gostei de
ver a zona da entrada dos carros à mostra e tapei tudo com
Ficus Benjamina», desabafa. «O telheiro foi construído porque havia
necessidade de sentar 20 ou 30 pessoas no mesmo local e que
ao mesmo tempo fosse resguardado. Para mim, o jardim tem
que ser vivido», sublinha com convicção.
A influência das quintas do Norte do País está bem patente
neste jardim cosmopolita em que ambientes diferentes convivem
harmoniosamente. A grande mó de lagar de azeite transformada
em tampo de mesa de jardim, outras cortadas e adaptadas à
sua nova função de floreiras e ainda peças antigas utilizadas na
tradicional arte de esmagar azeitonas que no jardim do Estoril
proporcionam uma original e engenhosa cascata que brinda os
visitantes logo à chegada com o som e a frescura da água, à qual se junta um outro tanque a fazer lembrar as centenárias
propriedades rurais.
Veja na página seguinte: Os guardiões da entrada principal
Imponentes, no relvado, frente à cascata,
duas colunas de pedra cuja origem se perde na memória
dos tempos fazem de guardiões da entrada principal, um
corredor com um frondoso caramanchão de glicínias,
completadas por mais dois pares, um ao fundo da piscina e
outro a delimitar a zona do cantinho mais acolhedor.
Com estes objetos de decoração em pedra convive o
mobiliário de exterior. Em ferro, da zona de Sintra, com
outro conjunto em fibra sintética semelhante a mimbre
mas com a vantagem de poder ficar permanentemente ao
ar livre exposto às intempéries.
Para Cristina Pulido Valente, «o que interessa é perceber
o jardim e ir melhorando, conseguindo que as plantas
se adaptem e cresçam saudáveis. Para isso, é essencial uma
boa manutenção feita por jardineiros especializados».
E como o jardim é para ser vivido, o próximo investimento
é num deck para colocar as espreguiçadeiras da piscina.
«Cadeiras de jardim na relva é impensável», afirma, perentoriamente.
Texto: Luís Melo
Comentários