Às vezes tenho sentimentos contraditórios relativamente ao meu jardim. Como sou uma perfeccionista e, ainda por cima, com laivos de obsessiva-compulsiva, fico incomodadíssima com qualquer sinal de imperfeição.

Tenho um método que implica uma volta de inspecção todas as semanas para anotar numa folha de papel tudo o que acho que os jardineiros têm que fazer na sua visita semanal.

Eles, pacientemente, seguem as minhas indicações e assim conseguimos uma coexistência mais ou menos pacífica.

A verdade é que um jardim dá muito trabalho, sobretudo se o queremos impecável. O meu tem um problema acrescido: é que, por ser bastante grande, divide-se em três áreas completamente diferentes: o jardim propriamente dito, o meu pomar zen e uma zona não ajardinada, a que chamamos mata, onde tudo cresce segundo os ditames da Natureza.

Qualquer uma das três requer cuidados específicos, mesmo a dita mata. Se não vejo os canteiros limpos, a relva bem aparada e livre de infestantes, as folhas e flores secas arrancadas, entro numa fúria que, às vezes, me leva a encher sacos de 100 litros de lixo, com a devida factura para as minhas costas.

Há dias em que me apetece voltar a viver num andar e não ter esta obsessão do corta, arranca, aduba e limpa, este acompanhamento incessante do desenrolar das estações, cada uma com um infindável número de desafios diferentes.

Além disso, sou alérgica.

Sofro de febre dos fenos, o que faz com que os meses de Março, Abril e Maio sejam para mim um tormento. Há o pólen, claro, mas há também o pó amarelo dos pinheiros que me põe a chorar, agarrada a um lenço durante horas a fio.

Outro pesadelo é o dinheiro que custa ter um jardim em condições. Já não falo na sua manutenção, que é cara, mas dos problemas que é preciso corrigir, como por exemplo substituir uma porção de relva que se queimou, uma árvore de fruto que morreu ou ainda flores anuais que têm que ser oportunamente rodadas para que o jardim tenha sempre alguma cor para além do verde.

Um jardim bonito tem que ter flores para todas as estações. Apesar de tudo isto, ter um jardim é uma fonte de prazer em permanência quando estamos do outro lado do palco, isto é, sentadinhos na plateia, a olhar para ele.

E um jardim não consiste só nas plantas que o decoram. Há uma vida animal fascinante e belíssima no chilrear dos passarinhos, no volteio colorido das borboletas, nas correrias dos nossos animais domésticos atrás de uma lagartixa à procura de sol.

No meu, até há uns pirilampos no Verão. Sobretudo quando o tempo fica mais ameno e podemos sair para o terraço, olhar para o nosso jardim bem cuidado e bonito é uma terapia para a alma.

Afinal, se calhar o custo do jardim não é assim tão elevado se o compararmos com o que gastamos noutras coisas para nos auto-gratificarmos: um bom jantar, umas compras supérfluas, uma obra de arte para a casa.

Pensando bem, acho mesmo que ter um jardim muito bonito nos leva a sair menos de casa (para quê, se estamos aqui tão bem!), logo a poupar e a ter uma vida mais saudável e, em consequência disso, a ir menos ao médico.

Para mim, o jardim tem, além de tudo isto duas funções adicionais. Jardinar tira-me o stress e ajuda-me a ter ideias. É verdade! O gesto automático de arrancar ervas, plantar ou podar liberta o nosso cérebro para pensar em coisas sérias de uma forma menos constrangida que sentado a uma secretária.

Costumo mesmo dizer que, as ideias, tenho-as a jardinar, depois sento-me para pô-las em prática. Por tudo isto, quero este mês celebrar o Verão, celebrar as nossas plantas e o prazer que nos proporcionam e celebrar a saúde que ainda temos para tratar delas. Vivam os nossos jardins!