Usar o jardim como ginásio ao ar livre para fazer exercício no meio de árvores e plantas. Este é um projeto em que os equipamentos e a adoção de materiais vegetais autóctones correspondem à minimização de recursos impactantes.

Alia a sustentabilidade de um espaço verde de um posto de vista mais clássico, o da conceção e manutenção do material vegetal a um conceito de jardim a usufruir na sua totalidade.

Tal implica que as estruturas, os revestimentos, as fontes de energia utilizadas, entre outros, também se rejam pelos mesmos princípios, pois assim responderíamos a um formato mais integral de jardim. Assim, a criação de um espaço verde integral é um pretexto para uma chamada de atenção para o público em geral e os profissionais desta área em particular, permitindo adicionar-lhe e introduzir-lhe valências que promovem a prática desportiva ao ar livre.

Profissionais cuja formação nesta área é precária, muito mais dada a urgência da sua inclusão, devido à pratica comum ser diariamente, desde a conceção à instalação e manutenção, muitas vezes por ausência de formação ambiental, a da realização de crimes ambientais, desde a opção por materiais dispendiosos à utilização, muitas vezes desnecessária de tecnologias e materiais vegetais que obrigarão a uma manutenção baseada em água, químicos e em custos elevados.

Em contrapartida, a opção devia recair num tipo de conceção mais informada e criativa e com utilização de metodologias que englobassem energias alternativas, materiais vegetais e inertes locais, racionalização da rega que utiliza sistemas dispendiosos na instalação e na quantidade de água despendida e que ainda por cima funcionam a horas de grande calor ou quando chove na maior parte das vezes.

Uso de materiais recicláveis garante sustentabilidade integral

Uma área de trabalho onde as exigências dos concursos públicos nunca referem sequer que empresas de espaços verdes com certificações ambientais ou outra forma de gestão comprovadamente sustentável deveriam ser consideradas como possuindo características prioritárias ao vencimento destes e onde em manutenção de espaços verdes são utilizados letreiros em zonas urbanas, avisando que devido à utilização de herbicidas nas calçadas se recomenda à população não sair com as crianças e os animais domésticos durante 10 dias para aquele espaço.

Qual ironia, a sair de uma escola onde realizava uma das muitas sessões de educação ambiental na esperança que os próximos cidadãos compreenderão esta barbaridade, fui pulverizada com este herbicida na calçada directamente a dar para o recreio da escola, exactamente à hora do início do recreio.

A minha saliva e as minhas mucosas ressentiram-se em termos conscientes por cerca de uma hora! Depois, os níveis de cancro aumentam e os filmes nos ecrãs falam em firmas de advogados pagas para esconderem escândalos de populações doentes por exposição a estes perigos, mas ninguém se manifesta quando é aqui e não no ecrã.

Uma forma de integrarmos esta ideia de maneira legível, para o publico em geral e sobretudo os profissionais desta área e os decisores também em particular, parece-nos ser a criação de um espaço que englobe a noção de espaço verde de uma forma particular, interativa e original de forma a que as pessoas possam compreender a mensagem e possam aceitar ou mesmo exigir espaços verdes que mostrem sustentabilidade integral. Da outra forma, aliás já tentada, dando origem a um espaço discreto e belo passa despercebido com facilidade.

Assim, optando por um espaço interactivo onde a população se possa expressar e utilizá-lo de várias formas, concebemos um jardinásio. Os conceitos que assim determinam a conceção deste espaço representam uma aposta, possível e desejável, num jardim sustentável quer em termos energéticos quer em termos de participação da população, quer em materiais vegetais quer em inertes, que pautam ao nível quer da idealização, quer da manutenção, pela adopção de matérias reutilizáveis/recicláveis.

Projeto participativo

Para conseguirmos a integração de todas estas variáveis, decidimo-nos pela adopção de um conceito participativo onde o público pudesse influir na geração de energia ao nível do sistema de rega e da modificação de alguns espaços em termos estéticos através da plantação de algumas espécies em viveiro, presente num dos recantos. Combinamos a geração de energia com, por uma lado, através de recursos renováveis e por outro a intervenção do público.

A forma como a participação é efetivada foi sugerida através da temática energética em forma de força motriz que fará mover vários aparelhos de exercício de manutenção, cuja geração de energia acionará o sistema de rega gota a gota, parcialmente. O restante será accionado través de uma bomba com eletroválvulas ligando a um sistema de energia solar e éolica.

Criámos, portanto, interatividade do público com o jardim a vários níveis, nomeadamente através da geração de energia (máquinas de ginásio), intervenção no conceito estético (canteiro com vasos cujas posições são mutáveis quando intervencionados pelo público) e ainda com uma sugestão em relação ao próximo passo.

A sua intervenção na manutenção é aqui representada pelo viveiro que o utente pode transplantar para um dos canteiros vizinhos, relembrando hortas urbanas nos espaços verdes existentes. Também os equipamentos, rega e revestimentos inertes, assim como a adoção de materiais vegetais autóctones correspondem à minimização de recursos impactantes nas vertentes social, económica e/ou ambiental.

Estruturas recicláveis

O jardim, além de interativo, utiliza como canteiros somente estruturas recicláveis, os conhecidos monstros. Neste caso, frigoríficos e arcas congeladoras, que serviram para criar uma estrutura principal em ângulo recto com base no canto inferior direito do talhão selecionado, o número 5. Daqui ramificam-se três braços. Pretende-se com esta localização descentralizada para o local mais longe da entrada do talhão, a sua maior visibilidade dado o volume grande que representa.

Pretende-se que o público obtenha uma noção geral da estrutura de forma a poder escolher como utilizá-la primeiro, dada a sua versatibilidade. Neste sentido, foi construída uma frente de frigoríficos e arcas, multifuncional, onde estes servem de reservatório de água, floreira/canteiro, piso ou banco, entre outras funcionalidades, através da criação de diferentes recantos temáticos onde se incluem as espécies nativas selecionadas em áreas mais arbustivas ou arbóreas ou herbáceas ou numa mistura das três.

A maneira mais óbvia de utilizar aparelhos de manutenção física num jardim seria a de formar um circuito de manutenção ajardinado e foi de facto o que idealizamos, excepto que neste caso é tridimensional e portanto condensado para um espaço menor, sendo este efeito conseguido através de utilização de volumes de grandes dimensões reciclados, os frigoríficos e arcas congeladoras.

Esses eletrodomésticos permitiram a formação de uma estrutura por um lado labiríntica por outro de acesso facilitado onde os utentes podem usufruir das máquinas que simultaneamente geram a energia para o sistema de rega incluídas nos percursos criado nos blocos de frigos e arcas e nos seus intervalos. Assim, todo o relevo do jardim é elaborado a partir do posicionamento dos blocos de frigos e arcas em vários níveis, desde completamente enterrados representando canteiros ou lagos até cerca de dois metros de altura podendo formar bancos, canteiros mais elevados, passagens e reservatórios de água de rega.

Nos níveis mais elevados, a utilização de algumas plantas em cascata por um lado e de espécies de maior dimensão por outro tornará a visibilidade mais acentuada. O revestimento é constituído por casca de pinheiro que faz um contraste forte com a cor dos frigos e arcas sendo a vegetação o contraponto de cor nesta paisagem a preto e branco. Exceção feita em alguns pontos no interior da estrutura onde os próprios frigoríficos enterrados de perna para o ar servem de piso podendo mesmo criar um ou dois níveis mais elevados em degrau.

Previsão orçamental (Área 270 m2)

Materiais:

- Frigoríficos e arcas congeladoras adaptação e materiais: 2.000 euros
- Rebaixamento do terreno em 0,50 cm em 50m2 Bobcat: 200 euros
- Bomba de água e electroválvulas: 250 euros
- Sistema de rega gota a gota: 200 euros
- Painéis solares: 1.000 euros
-Éolica moinho de vento: 2.000 euros

Área de revestimento a solo + material vegetal (50 m2):

- Espécies arbustivas aromáticas (30 m2)
- Número de plantas por m2: (4 x 5 euros média = 20 euros) Sub total 30x20: 600 euros
- Compostas: 20 euros
- Espécies arbóreas (1 unidade de cada espécie designada 15 árvores de porte médio): 600 euros

Custos de instalação:

- Alisamento/nivelamento do terreno (170 m2): 300 euros
-Terra de jardim (25 m3 x 20 euros ton = 1 m3): 500 euros
- Casca de pinheiro (200 m2 x espessura 0,05m = 10 m3): 1000 euros
- Transporte de materiais e viagens: 1.000 euros
- Mão de obra 3 homens x 5 dias 40 euros /dia x 5 dias: 600 euros

Total: 10.027 euros

Texto: Raquel Sousa com Luis Batista Gonçalves (edição)