A água é muitas vezes o fator mais crítico no cultivo das plantas e nas carnívoras, plantas entomófagas com a habilidade de capturar insetos e animais. Por desconhecimento das necessidades específicas deste grupo de plantas, acaba por ser a causa de morte de muitos exemplares. Estas plantas estão adaptadas a viver em solos muito pobres em nutrientes e com água muito pura, daí que para um cultivo bem sucedido esse fator tem de ser tido em conta.

A água que sai das torneiras da maioria das casas contém muitos minerais dissolvidos, minerais esses que têm duas proveniências principais, a fonte originária da água e os minerais que são adicionados durante o processo de tratamento para tornar a água segura para consumo humano. Mas, seja qual for a sua proveniência, esses minerais tornam-se perigosos para as plantas carnívoras. A pureza da água é assim um fator primordial, como pode ver de seguida.

Resta abordar que tipo de água utilizar e existem três formas de resolver esse problema, como explicamos seguidamente. Para quem tenha a possibilidade de possuir espaço exterior que lhe permita colocar alguns recipientes onde recolher e armazenar a água da chuva, este é o processo mais barato, visto que a água cai literalmente do céu. Mas mesmo esta aparente simples forma de obter água tem que obedecer a alguns cuidados, que lhe vamos indicar ao longo deste artigo.

No caso de ser utilizada a água que escorre dos telhados, deve ter em conta que pode haver impurezas acumuladas no mesmo e, portanto, não a deve recolher logo nas primeiras chuvas. Deve, sim, esperar que o telhado já esteja lavado, o que só acontece depois de alguns dias de chuva. Outro pormenor são os tubos que conduzem a água desde os telhados até aos recipientes de recolha. Se forem de metal, tenha cuidado. Pode haver também contaminação da água.

Se algum destes problemas for incontornável, deixe os recipientes pura e simplesmente à chuva. Trata-se de um processo mais lento mas perfeitamente seguro, garantimos. Os recipientes devem ser de plástico para evitar os problemas relacionados com os metálicos. Dependendo do espaço disponível para armazenamento, do número de plantas e das condições climatéricas, este método pode ser suficiente para suprimir a necessidade de água durante o ano inteiro.

O segundo método é o uso de aparelhos de osmose inversa. Sem querermos entrar em explicações muito técnicas, mais difíceis de compreender, pode idealizar este tipo de aparelho como um filtro que apenas deixa passar as moléculas de água. A desvantagem deste método é o preço do dispositivo, que implica ainda outros gastos. Tem também de ser contabilizado a troca regular dos filtros e o pormenor do desperdício de água que causa, que pode ser grande.

Esses são dois fatores que acabam por ser, muitas das vezes, menosprezados porque estes aparelhos têm, habitualmente, duas saídas, uma da água pura e outra da água que sai com os minerais retirados. O último método a utilizar é a compra de água desmineralizada diretamente no comércio. Esta é uma solução fácil e prática, apesar de estar, contudo, longe de ser a mais económica, como alertam muitos dos jardineiros e dos botânicos que lidam com elas.

Os cuidados a ter com o solo

A água desmineralizada que estas plantas exigem pode ser obtida facilmente em qualquer supermercado ou até em lojas de artigos para automóveis de norte a sul do território nacional. A compra de água é, no entanto, como referirmos anteriormente, apenas economicamente viável para quem possua poucas plantas ou para utilizar em caso de emergência para quem utiliza um dos outros métodos referidos. Além da água, estes são outros dos cuidados a ter:

- Solo

A par da água, o solo é outro dos factores fatores incontornáveis ao abordarmos as necessidades específicas das plantas carnívoras. Como na maioria das plantas o solo serve de suporte para que a planta se mantenha segura e é de onde através das raízes as plantas obtêm água, oxigénio e os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.

Esta segunda função é secundária no que se refere aos nutrientes no caso das carnívoras porque é por viverem em solos pobres que estas plantas acabaram por desenvolver as suas características peculiares de obter esses mesmos nutrientes.

- Turfa

Um dos componentes essenciais para o cultivo de plantas carnívoras é a turfa de esfagno, que é muitas vezes utilizada para melhorar as características do solo para as plantas de interior ou de jardim mas, por ser vendida para esse fim, tem muitas vezes fertilizantes adicionados, o que torna inviável o seu uso no solo destinado às plantas carnívoras.

Assim, ao ser adquirida, deve ser tomado muito cuidado e verificar que na embalagem é dito explicitamente que é turfa de esfagno sem fertilizantes. A turfa é ácida, trata-se do tipo de solo onde muitas carnívoras crescem naturalmente, daí ser um dos componentes base da maioria das misturas utilizadas.

- Musgo-esfagno

Embora todos saibam o que é musgo e o saibam identificar em muitos locais onde cresce, poucos saberão que existe um número elevadíssimo de espécies diferentes. Apenas algumas cabem na designação de musgo-esfagno, que cresce em forma de um comprido caule. Como apenas uma pequena parte superficial está viva, a parte que vai ficando por baixo à medida que o caule cresce e decompõe-se, acabando por dar origem à turfa que foi anteriormente referida.

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No caso do cultivo das plantas carnívoras, o musgo-esfagno tem vindo a ser utilizado de várias formas, desde seco a vivo, inteiro ou quase moído, sendo que cada uma delas tem a sua aplicação específica. Ao ser utilizado como componente direto do solo para facilitar a obtenção de uma mistura homogénea, é também, muitas vezes, cortado em pequenos pedaços e adicionado aos outros componentes escolhidos. Neste método, pode ser utilizado vivo ou seco. Outra das principais aplicações do esfagno é cobrir o solo nos vasos, formando uma camada em volta das plantas. Esta cobertura tem duas funções. Permite maior humidade local nas espécies que dela necessitam. Mas não só.

Como função secundária, mas de grande agrado para muitos criadores, têm um efeito visual esteticamente muito agradável. Este tipo de musgo, quando eventualmente é encontrado no comércio, tem, por norma, um preço elevado, daí que muitas vezes, quando é utilizado apenas por razões estéticas, se recomende a utilização racional deste componente. Uma recomendação que muitos outros especialistas em jardinagem e em botânica mundiais também fazem.

- Areia

É um componente para o solo utilizado para melhorar a capacidade de drenagem da água, facilitando o seu escoamento através do solo. Para uso no cultivo destas plantas, a areia deve ser de sílica e sem contaminações calcárias como acontece com a areia da praia que contém muitos resíduos de conchas de animais marinhos. A areia deve ser lavada para retirar qualquer resto de contaminações que possa conter e só depois pode ser usada nos solos para carnívoras.

- Perlite

A perlite é um tipo de vidro vulcânico que, depois de ser aquecido a uma elevada temperatura, se expande, obtendo-se um material de aspeto granular branco, muito leve, perfeito para utilizar no cultivo das plantas carnívoras. É utilizado como componente para solos, porque devido à sua baixa densidade torna o solo mais leve e menos propenso a compactar, o que ajuda no arejamento das raízes. Uma outra vantagem é que permite armazenar alguma água.

- Vermiculite

A vermiculite é um material de origem vulcânica, como a perlite. Esta substância também sofre o mesmo tipo de expansão quando aquecida a elevada temperatura, tornando-se num material de aspeto granular de cor dourada. Tem, por norma, as mesmas aplicações que a perlite, diferindo apenas na quantidade de nutrientes que possui, o que a torna menos usada no cultivo de plantas carnívoras em detrimento da perlite, como aconselham muitos especialistas.

Mas, nalguns tipos de plantas mais tolerantes, a minerais no solo, como é o caso das pinguiculas e das nepenthes, é muitas vezes utilizado, tal como a casca de pinheiro, as lascas de madeira, a serradura, o carvão, a esferovite, a espuma, a lã de rocha, ou a lava vulcânica, entre outros materiais. Nas misturas para solos de carnívoras, surgem algumas receitas um pouco menos ortodoxas mas que os seus utilizadores juram a pés juntos funcionar às mil maravilhas.

Outras recomendações a ter em conta

Não tendo eu, como é óbvio, tido oportunidade de experimentar todas as misturas possíveis e imaginárias com todos os tipos de componentes disponíveis e em todas as espécies possíveis, posso apenas dizer que cada leitor é livre e, da minha parte, até encorajado a experimentar as mais variadas misturas, de forma a encontrar a que mais gosta ou, pelo menos, a que obtém melhores resultados com os materiais que mais facilmente consegue encontrar no mercado.

Eu apenas recomendo que esse tipo de experiências seja efetuado com espécies das quais possua vários exemplares, para o caso das coisas poderem não correr bem e para se poder salvaguardar. Para ter uma experiência minimamente credível, deve ter uns exemplares do mesmo tipo numa mistura mais convencional, que sirvam de amostra de controle, até para poder fazer comparações concretas entre misturas mais exóticas e as misturas mais usuais.

Como recomendação geral final, sugiro ainda a utilização de uma mistura de turfa e de perlite, em proporções que não precisam de grande rigor, como mistura universal. Esta é uma solução, já testada por jardineiros em inúmeros países, que pode e deve adotar, que costuma funcionar na esmagadora maioria das espécies de plantas carnívoras disponíveis no mercado. Em todo o planeta, já são muitos os proprietários destas variedades botânicas que a implementam.

Texto: Paulo Lourenço