Parece-nos impossível agora, mas em tempos idos, não existia dinheiro, existiam apenas bens e recursos que eram utilizados para consumo próprio e trocados por outros de que necessitávamos. A capacidade de sobrevivência, sobretudo dos povos do Norte da Europa - de onde vêm as Runas - era ditada pela disponibilidade desses bens, nomeadamente de gado, pela quantidade de subprodutos que a sua produção possibilitava: além da alimentação, vestuário, calçado, aquecimento, isolamento, fertilizante, etc.

Os tempos mudaram, e o gado perdeu a importância que antes tinha. Apesar dos derivados da sua exploração serem muitos e maioritariamente desconhecidos, esta já não é essencial, nem mesmo na alimentação, havendo hoje muitas alternativas. A Runa Fehu adquiriu com o tempo um sentido mais lato, indicando actualmente abundância, riqueza, fertilidade e recursos, significados que sempre teve na sua essência - só deixou de fazer sentido o gado ser o seu símbolo.

Fehu é considerada a runa da sorte, ligada à capacidade de gerir e acumular riqueza. Fazê-lo exige coragem e capacidade de arriscar, mas arriscar com visão e com sentido prático. Esta runa está, portanto, relacionada com o investimento, não necessariamente de dinheiro, mas de tempo e energia, para atingirmos os nossos objectivos e multiplicarmos os nossos bens.

Outro aspecto interessante de Fehu é a ideia da mobilidade e da circulação da riqueza que lhe é inerente. Por um lado, cultiva uma interdependência saudável entre os membros da comunidade, a amizade, a generosidade e as trocas. Essa interdependência é inclusive uma necessidade, porque no caso de uma calamidade ou de uma ameaça exterior, uma comunidade é tanto mais forte e capaz de sobreviver quanto mais unida estiver. E neste sentido, a circulação da riqueza (bens, generosidade, fraternidade) gera mais riqueza.

Por outro lado, como tudo é cíclico, Fehu lembra-nos que nada é permanente, nem deve ser tomado como certo. Mesmo aquilo que conseguimos com suor e esforço, pode ser-nos retirado num piscar de olhos, tal como as mandalas de areia tibetanas podem ser destruídas com um simples passar de mão.

Esta runa ensina-nos que o mais importante é o que fica, quando tudo o resto vai embora: a Experiência e a Sabedoria adquiridas, o Bem praticado... Esses não podem ser destruídos por coisa alguma.

Vera Vieira da Silva

Facebook

email: v.vieiradasilva@gmail.com