Por exemplo, começamos hoje por falar do pouco silêncio que reina por todo o lado, até dentro de muitas casas de família, nas ruas por onde se passa, nos pequenos como nos grandes centros populacionais, particularmente nos centros comerciais do assumido mundo civilizado que, tendo os mais diversos funcionários grande dificuldade em ouvir o que os clientes pretendem como informação ou comercialização de produtos nos mais variados estabelecimentos por onde andam, a música ambiental se encontra controlada num determinado volume que impossibilita, sendo por isso intolerável, ouvir o que quer que seja que tenha coerência na venda como na compra de qualquer que seja o artigo. Todavia, parece que as pessoas andam como “zombies” nos corredores dos muitos centros comerciais portugueses, assim como no estrangeiro, sem darem conta que os decibéis das suas próprias vozes mais o barulho ensurdecedor da chamada “música ambiente” faz com que o nosso sistema de “percepção” e “cognição”, tendo em conta o sistema nervoso no seu todo, ficará, nesse vai e vem de “loucura sonora”, absolutamente avariado e altamente lesado com essa tremenda sonorização desconexa e muito pouco saudável. Por exemplo, entra-se num café ou casa de chá (se bem que aqui ainda existe uma pequena diferença) para tomar a famosa bica ou o chá que nos apeteça e, eventualmente, deglutir um bolo da nossa maior preferência, logo nos deparamos com uma “gritaria” infernal entre as mesas e o próprio balcão (no singular ou plural), em que, os próprios funcionários de agora e, os clientes de hoje, cientes da sua impossibilidade de serem percebidos por quem os tenta servir, elevam as vozes até estabelecerem no recinto a mais tresloucada confusão ruidosa, arrasando um agradável e possível momento de conversa pacata, descongestionante, relaxante e, acima de tudo, pacificante para o cérebro e para as ideias nele construídas, ou então, para um breve mas salutar período de descontracção sem qualquer causa que nos possa incomodar a pacatez da nossa interioridade e o nosso sagrado direito ao silêncio connosco próprios.

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Porém, viver neste tipo de sociedades e, sobretudo, tendo em conta a grandiosa falta de sensibilidade para este decadente e doentio modelo de actuação quase despercebida por automatismos que nascem de uma educação empobrecida e quase isenta de uma linguagem onde o afecto e a generosidade, tal como o respeito pelos outros, anteriormente faculdades individuais absolutamente defendidas e dinamizadas, ou melhor, valiosa e importantemente instruídas em todos os estratos sociais, faz com que, muitas sejam as pessoas sozinhas e desprotegidas, cada vez mais isolarem-se desta “algazarra” que faz das cidades e vilas, recantos e ruas, lojas, bares, restaurantes e cafés um autêntico manicómio onde, os que ainda escapam à mazela da insanidade mental e neural, mergulham cada vez mais na complexa impossibilidade de comunicarem com alguém para ter a mais sã oportunidade de serem entendidos por pessoas que possam efectivamente perceber o seu raciocínio no mais irrepreensível silêncio e pertinente atenção. Assim o seu local “preferido”, passará a ser a sua casa que, mesmo não sendo o local indicado por via da solidão eventualmente sentida ou, então, sonorosidade exagerada proveniente de alguém que deixou há muito de comunicar normalmente, oferecendo-lhe tanto ao quanto um outro cenário, lhe retira o poder de estar em paz e de partilhar o silêncio respeitoso de todos os seus concidadãos, independentemente da idade de quem quer que seja. Ora, isto tudo é muito triste… E, naturalmente, fará os leitores pensarem que vivemos num grande paradoxo por via do seguinte:

- Os indivíduos (pelo menos os que têm posses financeiras) nestes tempos modernos constroem grandes casas, mas possuem comummente famílias muito pequenas; claramente garantem maiores conveniências e conforto, mas passam a possuir muito pouco tempo para educar e instruir os filhos;

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- Os indivíduos que hoje tendem ser cada vez mais cultos e possuem cada vez mais títulos académicos, que referem as mais diversas especialidades profissionais, contrariamente ao que se esperaria, diminuíram o senso comum; na realidade, tiveram acesso a uma maior condição de erudição academial, mas diminuíram em muito o seu inerente poder de exame e de síntese;

- As sociedades ditas evoluídas criaram categorias cada vez mais especializadas de homens e mulheres, mas enredaram todos esses indivíduos em problemas sociais cada vez maiores e mais graves;

- As investigações médicas e, por consequência, o resultado do seu trabalho de pesquisa terapêutica que deu azo ao aparecimento de eventuais “panaceias” cada vez mais promissoras para a cura de muitas “doenças”, fizeram diminuir em grande escala e nas mais diversas populações o sentido integrativo de saúde e de inteireza;

- A exploração espacial que nos colocou na Lua e que nos trouxe de volta, e que agora se prepara para contingentemente colonizarmos outros globos ou satélites do nosso sistema planetário, nada fez para facilitar o simples atravessar a rua para ir cumprimentar o vizinho que, sendo porventura um desconhecido, permanecerá ele nesse estado por via da nossa cada vez mais evidente incapacidade de sondagem do nosso próprio local de indispensável e humana convivência;

- A indústria da informática tendo evolucionado nestas últimas décadas para que detenhamos cada vez mais informação e elucidação sobre os mais diversos assuntos, e para que se possam produzir abundantes réplicas do que anteriormente sucedia, nada está contribuindo para a nossa cada vez mais profunda e desumana falta de comunicação, inter-ajuda e essencial interdisciplinaridade humanas;

- Efectivamente, as sociedades modernas bem como o pensamento sobre a modernidade criou o espectro da quantidade nos cidadãos em geral, mas, ao contrário do que deveria ser, desenvolveu, entre a maioria dos indivíduos a egrégora da não-qualidade;

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- Em jeito de gracejo, mas com toda uma compacta realidade por detrás desta minha eventualmente engraçada anotação, vivemos um tempo do comércio e da feitura dos “alimentos rápidos”, isto é, do conhecido e altamente inquietante, em termos da saúde pública, “fast- food”, mas, cada vez mais, as pessoas que se remedeiam de todas essas facilidades para pouparem o tempo que julgam não ter, sofrem de “pirose” e de “má-digestão”;

- Continuando a brincadeira iniciada, e comprovando de forma muito séria o tempo paradoxal em que vivemos, nascem indivíduos muito mais compridos, mas, esses mesmos, demonstram ter um bem menor carácter;

- Assiste-se a altos proventos de negócios substanciais, alguns desleais e ilícitos, outros assim e assim, mas verifica-se que os relacionamentos são péssimos entre quem os executa;

- Entretanto, penso que o ponto de vista que queria defender nestes parágrafos foi conseguido e, terminarei por isso mesmo, pensando que, com algum atributo, quando por último afirmo perante todos: vivemos um período em que existem muitas janelas que trespassam para dentro, e muito para fora das mesmas, visões e lampejos de opulência, mas, pelo contrário, o interior dos quartos que as possuem se encontram esvaziados de qualquer objecto que seja útil e que sirva a vida dos seres que ainda as desfrutam com a mais ínfima dignidade!

Meditem sobre isto tudo, e retirem da totalidade do quanto aqui foi sugerido as vossa próprias conclusões!

Bem Hajam!
CARLOS AMARAL
IN Jornal "Correio dos Açores" e "A União"

Veja as entrevistas com o autor no Programa SAPO Zen:

Convidado Carlos Amaral

O Autor:

Carlos Amaral, Venerável Lama Khetsung Gyaltsen

Mestre em Naturopatia;Especializado em Medicina Ortomolecular; Medicina Homeopática; Medicina Homotoxicológica; Medicina Ayurvédica e Tibetana;Doutorado em Religiões Comparadas e em Metafísica;Investigador em Psicologia Transpessoal & Regressão Memorial;Professor de Budismo, Meditação Tibetana, Raja-Yoga, Kryia-Yoga e Karma-Yoga; Autor e Palestrante.

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