Ndaba Thembekile Zweliyajika Mandela procura, no dia a dia, manter vivo o legado do homem com quem foi viver quando tinha 11 anos. Na altura, para aquela criança que abandonava Soweto, nos arredores de Joanesburgo, na África do Sul, Nelson Mandela era apenas um estranho. Um desconhecido que aprendeu a amar incondicionalmente com a passagem do tempo. "Eu carrego comigo os valores do meu avô", garante.
"Sou africano, sei o que significa ser africano e tenho orgulho nisso", afirma no seu site o hoje presidente da fundação Africa Rising. Numa fase inicial, o convívio entre os dois não foi dos mais pacíficos. "O meu avô pressionava-me muito. [Na altura], eu só queria ser uma criança normal", admitiu em entrevista ao jornal The Times. Uma tarefa nada fácil quando se lida de perto com celebridades excêntricas como Michael Jackson.
O malogrado cantor norte-americano, amigo de Nelson Mandela, era presença habitual nas festas e Isabel II, rainha de Inglaterra, costumava ligar, muitas vezes a horas consideradas inoportunas.
Filho de Makgatho Mandela, falecido em 2004, o segundo filho de Nelson Mandela e da sua primeira mulher, Evelyn Mase, Ndaba Mandela não guarda apenas ressentimentos do avó. Também os tem do progenitor. "O meu avô falhou com o meu pai da mesma maneira que o meu [pai] falhou comigo", admite.
Em 1962, acusado de conspiração, o filantroposta que combatia o apartheid foi encarcerado, para desespero da família. "Tentámos ultrapassar isso [na altura]. O meu avô não estava presente nas nossas vidas. Estava preso. Eu ouvia as pessoas falarem nele mas os meus pais nunca mencionavam o seu nome. O meu pai nunca teve o pai dele em casa quando era mais novo. Foi muito difícil para ele", desabafa o filho.
As críticas ao consumismo excessivo dos dias de hoje
Com o passar dos anos, o ativista africano interiorizou a mensagem que o avô procurou sempre transmitir ao mundo. "A magia do Madiba [alcunha de Nelson Mandela] é a coragem de sonhar, a coragem de lutarmos pelos nossos sonhos até eles se tornarem realidade. Infelizmente, hoje, vivemos num mundo onde o consumismo e o capitalismo são excessivos", criticou numa outra entrevista, à revista New African.
"Perdemos a nossa humanidade e perdemos contacto com uma realidade, que Madiba ambicionava e que entretanto se perdeu, que é importante para a [nossa] vida e para nós enquanto seres humanos. Temos pessoas, até neste país [África do Sul], que oferecem aos filhos 100 milhões de dólares como presente de aniversário, por exemplo. Como é que essa criança aprenderá os valores das coisas e da responsabilidade?", questiona.
"Eu tenho dois filhos e incutir neles os valores do meu avô é importante para mim e para eles. Lá por ser um Mandela, isso não significa que sou automaticamente um privilegiado e que não tenho de trabalhar, por exemplo. Os privilégios, infelizmente, podem, muitas das vezes, levar as pessoas para o lado errado e isso não é bom para a sociedade. Temos visto isto acontecer aqui e noutras partes do mundo", condena ainda.
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