A múmia foi descoberta em 1975, durante umas obras de requalificação, debaixo do altar da igreja Barfüsser, na cidade suíça de Basileia, uma das mais ricas e desenvolvidas do mundo.
O cadáver foi alvo de perícia arqueológica e clínica e tudo indicava que se tratava de uma pessoa bem alimentada e bem vestida. Estava-se, provavelmente, perante uma pessoa importante, porque afinal só burgueses e nobres poderiam estar dentro de uma igreja sepultados.
Basileia era, nos séculos XVI e XVII, uma cidade comercial e o seu porto no rio Reno era uma ponto de passagem importante na Europa, escreve a BBC. Ao lado do corpo mumificado não havia lápide nem nada que indicasse de quem se tratava. Mas o caixão de madeira deu a primeira pista: século XVI.
Mercúrio mumificou-a
A perícia clínica revelou que o organismo da pessoa mumificada continha mercúrio, usado na altura como tratamento para a sífilis, uma doença sexualmente transmissível (DST). Altamente tóxico, este tratamento era mais vezes mortal do que eficaz na cura. Mas foi precisamente esse elemento químico que preservou o seu corpo.
A dedicada e extensa análise de arquivos históricos levou os investigadores à família Bischoff, uma das mais bem sucedidas daquela cidade. Graças a técnicas de laboratório evoluídas, em 2017 foram feitos testes de ADN e os resultados revelaram 99% de probabilidades de os Bischoff serem parentes, por linha materna, daquela múmia, identificada como sendo uma mulher.
Uma análise mais cuidada permitiu levar cientistas e historiadores a um nome: Anna Catharina Bischoff, nascida em Basileia em 1719 e falecida no ano de 1787.
Depois de estabelecida a identidade, foi feita a árvore genealógica. Anna Catharina Bischoff teve sete filhos. Uma das suas filhas casou com Christian Hubert Baron Pfeffel von Kriegelstein. Depois disso surgem cinco gerações de von Pfeffels até que Marie Luise von Pfeffel casa com Stanley Fred Williams. A filha de ambos, Yvonne, contrai matrimónio com Osman Wilfred Johnson Kemal e o filho de ambos, Stanley Johnson, é o pai do atual ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson.
O político ainda não terá comentado a descoberta, mas talvez ficasse orgulhoso por saber que a heptavó acabou por falecer depois de ter estado parte da vida a prestar cuidados de saúde a doentes portador de sífilis, uma doença venérea que pode ser transmitida por via sexual ou pelo contacto com sangue de pessoas infetadas.
Anna Catharina Bischoff viveu toda a vida em Estrasburgo, uma cidade francesa na fronteira com a Alemanha, só voltando para Basileia depois da morte do marido, um importante membro do clero no centro da Europa.
Os cientistas acreditam, ainda, que Anna Catharina Bischoff morreu intoxicada pelo mercúrio, o químico que conservou o seu corpo durante séculos.
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