Tinha 13 anos quando se mudou com a família para um luxuoso bairro em Madrid, em Espanha. Na altura, foi morar numa casa com cinco quartos e sete casas de banho e começou a frequentar uma escola elitista. "Um colégio onde a única coisa que interessava era ter mamas, [vestir] o último modelo de pólo do Ralph Lauren, ser gira e estar magra", recorda em "Cómo volé sobre el nido del cuco", o livro que escreveu no telemóvel.

"Só tinha duas opções. Adaptar-me ou morrer. E eu decidi adaptar-me", revela Sydney Bristow, nome que roubou à protagonista da série de televisão "Alias", interpretada pela atriz Jennifer Garner. Três anos depois, já sofria de bulimia. "Não imaginam as coisas que eu fazia. Para que os meus pais não se apercebessem, vomitava em sacos do lixo que fechava e que escondia no quarto", confidencia na obra.

"Punha o despertador a despertar às quatro da manhã para os mandar fora. Mas comecei a ficar preguiçosa e passei a acumulá-los. Um dia, a minha mãe encontrou-os. Já iam em 15", desabafa a madrilena. Tinha 16 anos quando foi internada pela primeira vez mas não se ficou por aí. Depois de se licenciar em direito, começou a trabalhar e foi viver sozinha. Tinha 24 anos e uma doença que nunca conseguiu curar.

"A única motivação da minha vida era vomitar"

"Nunca parei de me encher de comida e de [ir] vomitar [de seguida]. Na realidade, o verdadeiro motivo por que quis a minha independência foi para poder fazer o que me desse na gana com a comida sem ter o meu pai e a minha mãe atrás", admite Sydney Bristow. "Trabalhar e vomitar ou trabalhar e dormir era o meu projeto de vida", escreveu ainda no livro, publicado pela editora Plaza & Janes em meados de outubro.

Numa altura em que pesava apenas 42 quilos, os pais convenceram-na a ir para uma clínica. Quando saiu com o peso normalizado, além de se achar gorda, voltou a viver com os pais. "Foi horrível", recorda. "A única motivação da minha vida era vomitar", desabafa. Um dia, o desespero levou-a a tomar comprimidos Gelocatil com paracetamol. "Tomei 20. Sabia que me matariam", confidenciaria a madrilena.

Escapou por milagre mas não se salvou de ser internada num hospital psiquiátrico, onde permaneceu 37 dias. Quando saiu, publicou o relato na internet. O êxito levou a editora a desafiá-la a convertê-lo em livro. Apesar da consciência da sua condição psíquica, não se consegue livrar da doença. Em maio, voltou a ser internada, mas nunca deixou de vomitar. "Continuo a fazê-lo", assumiu em entrevista ao jornal El Mundo.