Uma equipa de investigadores do laboratório da universidade pública analisou a forma como os portugueses reagiram ao Covid-19 entre 12 e 15 de março, através das redes sociais e também das pesquisas 'online', tendo identificado “apropriações sociais positivas e negativas” ao longo daquele período.
No relatório, publicado hoje e a que a Lusa teve acesso, refere-se que, antes do anúncio de casos de infeção, houve “uma quase ausência de desinformação”.
Porém, depois, “seguiu-se um momento de forte propagação de desinformação via WhatsApp, maioritariamente assente em áudios”, registam os investigadores.
Num terceiro momento, verificou-se “a apropriação positiva das redes sociais, via grupos de Facebook, para troca de informação e organização de redes de apoio, etc.”, assinalam.
Durante o período em análise, “os meios de comunicação social tornaram-se numa fonte central para alimentar com informação os grupos de Facebook de apoio e partilha de vivências de isolamento social”, frisam.
“Os media destacaram-se, igualmente, através de um importante papel de dissuasão e combate à desinformação, através de processos de 'fact-checking' [verificação de factos], como no caso do ‘Polígrafo’/SIC ou do ‘Observador’, ou via análises de contexto e boas práticas, como no caso do ‘Diário de Notícias’”, exemplificam.
Tal não significa que todos os meios de comunicação social tenham ficado imunes à desinformação. Por exemplo, “alguns” tomaram como válida a informação, falsa, de que os “Hotéis de Cristiano Ronaldo” seriam usados para apoiar o combate à propagação do vírus.
O MediaLab aponta as “lições” a reter durante a pandemia: “a desinformação de saúde parece assentar na passagem de falsidades associadas à credibilidade que as profissões de saúde têm na sociedade portuguesa, nomeadamente a profissão médica”.
As mensagens realizadas por profissionais de saúde, reais ou falsos, “atingem dimensões de partilha virais porque, para o cidadão comum, uma mensagem partilhada no WhatsApp por um profissional de saúde assume o mesmo peso de autoridade do que aquele que ocorre numa consulta ou interação face a face”, comparam.
A segunda lição é que, “se no Facebook, Twitter e Instagram pode existir moderação, e a desinformação pode ser retirada pelas redes sociais e deixar de estar disponível, tal não ocorre no WhatsApp, devido à falta de moderação”, alertam.
Assim, “a melhor forma de contrariar a desinformação” é individual, “ter cautela e espírito crítico”, aconselham.
“Devemos manter uma distância mental das mensagens que recebemos. Se parámos de cumprimentar com apertos de mão e beijos quem conhecemos, porque haveremos de partilhar mensagens que nos chegam só porque vêm de pessoas conhecidas?”, questionam.
A utilização das redes sociais “tem consequências”, sobretudo em tempos de crise. E “passar mensagens que dizem que ‘tudo está descontrolado’, que ‘há mortos’, que ‘tudo vai fechar’ ou outras semelhantes nada ajuda: nem o próprio, nem ninguém”, avisam.
Por outro lado, as redes sociais têm tido também “apropriações positivas”, por exemplo servindo para partilhar “práticas informativas de entreajuda”.
Só as próximas semanas e meses poderão dizer que tendência prevalecerá, concluem os investigadores.
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