- Eu vou ter dois: o Gonçalo e a Tatiana. – Afirmou o Tomás com a sua voz derretida. E tu, João?
- Eu vou ter cinco! Quatro rapazes e uma menina!
- Tantos, filho? Bolas, nem sabes no que te metes. – Avisei.
- Pensas o quê, mãe? Eu quero uma família de jeito! –
Sorri e calei-me. Ainda é cedo para lhes dizer algo que só descobri no dia em que nasceram: os filhos são uma benção e uma maldição. O chamamento ancestral de assegurar descendência e uma infinidade de outras razões, continuam a fazer com que muitos de nós apenas se sintam “completos” depois de ter filhos.
As bençãos de se ter filhos são tantas e tão indizíveis que nem me atrevo a ir por aí embora, quanto a mim, duas das maiores bençãos que os meus filhos me dão sejam as brilhantes lições de vida e as constantes gargalhadas que me arrancam pelos mais incríveis motivos.
Quanto à maldição, por favor não me entendam mal mas, quando o nosso amor está dentro de corpinhos que ganham vida própria ao desagarrar-se das nossas entranhas, o mundo torna-se assustador. Percebi isso no momento em que eles saíram de mim: a minha vida tinha mudado para sempre; nunca nada do que eu fizesse seria alguma vez suficiente para os proteger como eu quero; haveria, para todo o meu sempre ( assim o esperamos todos), alguém a quem nunca poderia falhar, alguém que manteria a minha preocupação e instinto protetor sempre alerta.
Sim, os filhos são uma maldição. Mas a mais bendita maldição que um ser humano pode ter.
Ana Amorim Dias
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