O ritmo de uma cidade pode ser assustador para qualquer um. Agora experimente fechar os olhos e fazer isso tudo sem recurso a um dos nossos principais sentidos: a visão. Não é impossível mas também não é fácil, sobretudo se a cidade não for pensada de forma a ser inclusiva para todos.
O site Citiscope destacou quatro formas inovadoras de diminuir a desigualdade e que podem contribuir para as cidades do futuro. Fique a conhecer os exemplos.
Varsóvia, Polónia: Quando a tecnologia beacon pode ser a solução para mostrar o caminho
Comecemos pelo princípio: o que são beacons? São transmissores ou dispositivos que funcionam através de Bluetooth e que estão em comunicação com smarthphones num raio predefinido, através de uma aplicação que vai receber avisos ou enviar informação através de texto ou imagens.
Normalmente, as pessoas que sejam deficientes visuais já recorrem a aplicações nos smartphones ou sinais de GPS para se guiarem. No entanto, há dificuldades que estas ferramentas não conseguem ultrapassar como por exemplo indicar onde fica exatamente uma estação de metro ou em que área fica um determinado serviço público dentro de um edifício.
Neste sentido, a cidade de Varsóvia decidiu inovar com a ajuda de uma startup, usando precisamente a tecnologia beacon. Assim, foram instalados beacons nas proximidades de paragens de autocarro, dentro de repartições de serviços públicos ou em edifícios na via pública com o objetivo de enviar informação para o telemóvel. O projeto piloto foi implementado em 2014 e um ano mais tarde a cidade ganhou um prémio de inovação no valor de um milhão de euros para expandir o sistema a toda a cidade. Varsóvia também recebeu um apoio da União Europeia para instalar até um milhão de beacons nos próximos três anos.
Esta tecnologia acabou por não ser utilizada em exclusivo para invisuais e destina-se também para turistas de forma a fornecer informação sobre a cidade.
Japão: onde os mapas 3D são os olhos de quem não vê
Para um invisual usar a ponta dos dedos é um ato mais que natural. E a impressão em 3D pode ajudar a abrir novas perspetivas no que diz respeito a outro tipo de ferramentas.
Foi o que aconteceu, em 2014, no Japão, quando a Autoridade Geoespacial do país lançou um programa de software que transforma dados em informação em relevo de forma a ser impressa em 3D. Os mapas foram posteriormente colocados em diversos pontos do país.
Estas referências ajudam uma pessoa com deficiência visual a criar uma imagem mental do percurso que têm à sua frente e esta tecnologia pode inclusivamente ser usada em casa, com recurso a uma impressora 3D.
No entanto, não há bela sem senão. Para já este tipo de impressão ainda não está ao alcance de todos uma vez que o custo de uma impressora 3D mais básica pode ascender aos cerca de 540 euros e os materiais também não são baratos. Neste momento as autoridades japonesas estão a trabalhar com universidades e organizações de invisuais de forma a melhorar este sistema.
Nigéria: o som que guia o caminho
É verdade que a tecnologia que usamos nos nossos dispositivos móveis é uma grande ajuda mas no movimento de uma cidade há coisas que as aplicações não podem prever, como por exemplo, avisar para a existência de um obstáculo que se encontre à nossa frente, o que se torna num autêntico desafio.
Para ultrapassar esta situação, na Nigéria os investigadores da universidade Obafemi Awolowo desenvolveram, em 2013, um aparelho dividido em duas partes que pode ser usado no calçado, com recurso a uma pequena bateria de nove volts, e ligado a um auscultador que se coloca no ouvido. A unidade que se encontra no sapato emite e recebe sinais que o auricular vai traduzir em avisos sonoros. Ou seja, quanto mais perto estamos de um obstáculo, mais alto é aviso sonoro, ou seja, funciona da mesma forma que o aviso de um sensor de estacionamento num automóvel.
Este dispositivo torna-se mais eficaz do que outros sistemas: no caso das bengalas usadas pelos invisuais, estas apenas nos dão a informação que esteja ao alcance da mesma e em relação ao uso de cães-guia, apenas uma mão está livre, sendo que a outra está a segurar no cão.
Apesar de esta invenção precisar de alguns melhoramentos, como detetar declives acentuados, buracos e escadas, a mesma já foi testada numa escola para invisuais. Segundo Abimbola Jubril, um dos investigadores envolvidos no projeto, o dispositivo ainda não ganhou apoios para ser comercializado em larga escala. No entanto, “estamos a trabalhar para adicionar mais recursos” a este aparelho.
Denver, Estados Unidos: transportes públicos ao alcance de todos
No mundo da inovação tecnológica há quem defenda que antes mesmo de se criar aplicações milagrosas, há que resolver os problemas mais básicos. No caso das grandes cidades, uma das necessidades comuns pode passar pelo acesso à rede de transportes de uma forma eficaz.
E é isso que a cidade de Denver tem vindo a fazer ao longo da última década. Em 2004, a cidade decidiu investir 4,7 mil milhões de dólares (cerca de 4,2 mil milhões de euros) na expansão da rede de transportes. Isso traduziu-se no aumento da oferta, numa rede de transportes mais eficaz com a construção de novas infraestruturas e numa política de desincentivo ao uso de transporte individual.
Além disso, desde 2013 que os autocarros em Denver possuem avisos sonoros entre estações, que avisam os passageiros onde se encontram, em tempo real. Na opinião de Claudia Folska, residente na cidade e invisual, os horários dos transportes públicos têm de ser confiáveis uma vez que são essenciais no planeamento de viagens, especialmente no caso dos deficientes visuais.
A partir de 2003 houve um programa de treino gratuito por parte da empresa responsável pelos transportes públicos destinado aos mais idosos e a pessoas com limitações físicas com o objetivo de ensinar estes grupos a deslocarem-se na rede de forma independente. Para Claudia Folska este sistema "torna-se mais confiável, seguro, consistente e previsível", uma vez que "todas as pessoas têm a capacidade de viver o seu potencial em pleno".
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