“O relatório Groundswell Africa aponta que o continente vai ser o mais duramente atingido pelas alterações climáticas, com até 86 milhões de africanos a terem de migrar nos seus próprios países até 2050”, lê-se num comunicado do banco, divulgado nas vésperas da 26.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26), que começa no domingo, em Glasgow, Escócia.
O relatório, que se concentra na África Ocidental e nos países da região oriental que partilham o Lago Vitória (Uganda, Quénia e Tanzânia), aponta que “com os países a passarem por aumentos de temperatura, chuvas erráticas, inundações e erosão costeira, os africanos vão enfrentar desafios sem precedentes nos próximos anos” e aponta várias linhas de ação política necessárias para mitigar os efeitos.
“Os impactos das alterações climáticas, como escassez de água, colheitas e produtividade menores nos ecossistemas, aumento do nível do mar e tempestades vão cada vez mais forçar as pessoas a migrarem, já que alguns sítios serão menos propícios por causa do calor, eventos extremos e perda física de terrenos”, lê-se no documento.
Entre as ações políticas recomendadas está a definição de um objetivo zero para as emissões de carbono, planeamento a longo prazo com preocupações ambientais, investimentos na recolha de dados para melhores decisões políticas e investimentos em capital humano que se foque em empregos sustentáveis e produtivos.
O relatório ‘Groundswell Africa’ surge nas vésperas da reunião de Glasgow e alguns dias depois de o Banco Mundial ter apresentado o ‘Pulsar de África’, o mais importante documento sobre as economias africanas, lançado no âmbito dos Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
“Os países abundantes em recursos não renováveis precisam de gerir a transição para um mundo descarbonizado, já que a procura global por matérias-primas de energia não renováveis vai fazer descer o preço dessas matérias-primas”, escrevem os peritos do Banco Mundial, apontando os casos da Nigéria e de Angola, os dois maiores produtores de petróleo na África subsaariana.
“O afastamento do petróleo, gás e carvão coloca riscos para o valor da riqueza de países que são abundantes nestas energias, como Nigéria e Angola, mas também para países com descobertas recentes de petróleo e gás, como Moçambique, Quénia e Senegal”, lê-se no Pulsar de África.
As políticas nestes países “devem ser desenhadas de forma a fomentar a diversificação através do apoio à acumulação de capital humano e capital natural renovável, diminuindo o défice de infraestruturas”, aponta o banco, defendendo também uma gestão prudente das receitas, que podem ajudar a financiar esses investimentos.
Para o Banco Mundial, “implementar uma política fiscal coerente que inclua incentivos fiscais direcionados, reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis e alguma forma de fixação do preço do carbono são decisões críticas para fomentar o investimento privado e a inovação em energia limpa e outras atividades verdes”.
Milhares de especialistas, ativistas e decisores políticos reúnem-se a partir de domingo em Glasgow na 26.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26), com o objetivo principal de travar o aquecimento do planeta.
As alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.
As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Em África, as necessidades energéticas estão estimadas em 700TW, o que é 4.000 vezes mais do que os 175GW de capacidade eólica e solar que o mundo inteiro adicionou em 2020, por isso “África não se pode industrializar recorrendo apenas à energia solar e eólica”, apontam os economistas.
Dos 1,3 mil milhões de africanos, 600 milhões não têm acesso a eletricidade e a Agência Internacional da Energia estima que o número suba 30 milhões devido à pandemia de covid-19.
Há 48 países na África subsaariana, excluindo a África do Sul, que emitem apenas 0,55% das emissões de CO2, mas sete dos dez países mais vulneráveis às alterações climáticas estão nesta região.
O Banco Africano de Desenvolvimento estima que as necessidades financeiras destes países para acomodarem as alterações climáticas ronda os 7 a 15 mil milhões de dólares por ano, ou seja, entre 6 e 13 mil milhões de euros.
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