Fez um curso de Pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa para cumprir o seu sonho mais antigo.

Considera que a sua pintura se caracteriza por cores contrastantes mas suaves.

Como o sonho se realizou tardiamente, Céu Franco, de 42 anos, fez quatro exposições coletivas e prepara-se para dar início às suas exposições individuais.

A artista plástica gosta sobretudo de pintar a natureza no seu estado selvagem e quando tem uma tela à frente sente-se no paraíso.


Como se define enquanto artista?

Defino-me como pintora figurativa que gosta de retratar diferentes realidades: paisagens, animais felinos, olhares, flores selvagens exóticas. A pureza, a beleza natural e a liberdade. Utilizo cores contrastantes, mas tendencialmente suaves. Desde sempre gostei de arte, mas não tive aprovação familiar para seguir este caminho.


Daí que só tenha iniciado o curso de Pintura há cinco anos. O que fez antes?

Frequentei a Faculdade de Ciências e trabalhei numa empresa. Só depois da morte dos meus pais é que me inscrevi em Belas Artes.


O que a fez apaixonar-se pela arte?

Comecei por ter contato com pintores portugueses através de um amigo. Anos mais tarde comecei a pintar como hobby.A pintura dá-nos a liberdade de criar o nosso paraíso. Aquilo que gostamos e não podemos ter acessível, por qualquer motivo. Com a arte tudo é possível. É mágico. A natureza é bela, mas a arte pode criar realidades ainda mais belas.

Quais as técnicas que mais utiliza?
Acrílico sobre tela. Normalmente trabalho a partir de fotografia.

No que é que está a trabalhar atualmente?
Na menina de olhos verdes, Sharbat Gula, da fotografia da NationalGeografic.


Há lugar para a arte em Portugal?

A arte é essencial ao ser humano. “Nada é tão útil como as coisas inúteis”. Não precisamos apenas do solo que pisamos, também precisamos do que está à volta senão desequilibrar-nos-íamos. Também as artes são necessárias ao nosso equilíbrio mental. Talvez por isso, Portugal tenha grandes pintores...

Por onde passa o futuro da arte em geral?
Os homens têm diferentes necessidades de fantasia, de sonho. Essas necessidades vão mudando. A arte vai-se adaptando e tentando preencher essas lacunas.


E qual é o futuro da sua arte?

Agradar a um maior número de pessoas possível. Que as pessoas sintam nelas um refúgio para onde se possam virar, principalmente quando mais precisarem. E que lhes transmita a sensação de liberdade, de energia, de cor, de força, de beleza, de pureza.


Há alguns artistas portugueses ou outros que a inspirem particularmente?

Júlio Pomar, Júlio Resende, Roberto Chichorro, Albino Moura e outros menos conhecidos como o Prof. Gonçalo Ruivo.Entre os estrangeiros: Rotko, Turner, GeorgiaO’Keefe, GérhardRichter.


O que destacaria do seu trabalho?

A temática,a cor e a expressão.
Dizem que pintamos aquilo que temos em nós próprios.
Eu pinto a natureza no seu estado selvagem - mar, flores exóticas, olhares de felinos ou pessoas - indomável e livre. Coisas belas a que não posso ter acesso no dia-a-dia por existirem em lugares distantes, ou que são efémeras, como as flores.Mas gosto que a pintura não mostre tudo, deixe um pouco de espaço para sonhar, para quem vê completar. Como que uma desfocagem da realidade, talvez influenciada por Turner, Júlio Resende, Júlio Pomar e pelo meu Prof. Jaime Silva.


Que reações a sua obra pode despertar nas pessoas?

Liberdade, instintos selvagens e força, beleza e pureza, felicidade através das cores.


A crise está a tornar mais difícil a venda dos seus quadros?

Não. Pintar é criar e é também um ato de generosidade e de entrega. Um ato de amor (às vezes dizia ao meu Prof. Gonçalo Ruivo que para pintar um determinado quadro era preciso muita paciência, por este ser complexo. Ele dizia-me: não é paciência, é amor. Ele tinha razão. Cada vez o entendo melhor. E cada vez gosto de criar coisas mais complexas.).

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No que pensa quando está a pintar?

Penso que estou a criar uma coisa bela para alguém. Embora venda os meus quadros baratos, fico feliz porque eles vão fazer alguém feliz. E vão viver. Como disse Rotko um quadro guardado, é um quadro morto. Quero que os meus vivam.É como ensinar uma ave a voar e libertá-la. Gosto da lembrança dos momentos felizes da criação.


Pinta para um estrato social específico?

Não. Pinto para todas as pessoas que precisam dessas realidades que eu tento criar. Para quem lhes é sensível. Tenho uma arte para todos e acessível a todos. Qualquer pessoa pode comprar um quadro meu, desde que lhe dê valor.


Como é que as pessoas vêm ter consigo?

Criei uma página no Facebook, Céu Franco, onde mostro os meus quadros, e, a partir daí, as pessoas entram em contato comigo. Também tenho um site e uma exposição permanente no Café Bancário 2000, próximo de minha casa.


Como são os preços?

Quando me encomendam quadros, faço o preço conforme a complexidade, nos outros atribui-o-lhes valores que sejam vendáveis.

É compulsiva quando trabalha?
Gosto de trabalhar sete a oito horas seguidas, embora não pinte todos os dias. Para pintar é preciso estar bem comigo própria.


Tem conseguido sempre trabalho?

Não. Ainda estou a desenvolver a atividade. Mas ultimamente tenho trabalhado por encomenda.


O que a diverte?

O meu gato, os amigos, ver exposições em museus e galerias de arte, ler, ir ao cinema e pintar.

O que a comove?
A beleza, a perfeição, o amor, o amor maternal, um olhar, a loucura.

O que lhe arranca uma gargalhada?
O meu namorado. A alegria dos outros.

Tem algum hobby?
Pintura, leitura.

Está de bem com a vida?
Nem sempre. Sou por natureza insatisfeita. Quero ser sempre melhor. A minha vida é feita de fracassos e vitórias. Às vezes, obra do acaso, outras não. Mas os momentos de fracasso sempre me incentivaram a lutar mais. É nesses momentos que sou mais otimista.

O que a estimula?
Ver exposições, ler livros, ouvir música, os amigos.

Um livro apaixonante?
O Vendedor de Sonhos, de Augusto Cury, O Alquimista, de Paulo Coelho, O Diário da Nossa Paixão, de Nicolas Sparks.

Um filme que nunca mais esqueceu?
O Piano, A vida é Bela, Diário da Nossa Paixão, A Melodia do Adeus, Mar Adentro.

Qual foi a maior loucura que já fez na vida?
Já fiz muitas. Sou uma pessoa muito impulsiva. É melhor não contar.

O que seria incapaz de fazer?
Roubar, ferir alguém com uma faca, fazer mal a uma criança, a um animal.

Uma personagem da história que admire especialmente?
Madre Teresa de Calcutá. Rotko Turner.

Uma pessoa?
A minha mãe.

Uma palavra?
Felicidade.

Máxima da vida?
O sonho comanda a vida.

A felicidade o que é?
Um estado de espírito efémero.

 

Texto: Palmira Correia