Há três anos escreveu o seu primeiro livro sobre educação “A Escola Ideal”, um guia para os pais escolherem a escola dos filhos. Agora, acaba de lançar “A Minha Sala de Aula é uma Trincheira”, um relato vivo do estado da educação em Portugal.
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É jornalista do Público há quantos anos?
Comecei a trabalhar em 1997 no Público depois de ter estagiado na Rádio Renascença e na RTP. Apesar destas passagens pela rádio e pela televisão, o que eu quis sempre foi trabalhar na imprensa. Tive a sorte de ter feito um estágio no Público e depois ter sido convidada a ficar.
Começou logo a trabalhar com a educação?
No início, estagiei na secção de Cultura, e, depois, quando me foi proposto continuar a trabalhar no jornal, mudaram-me para a secção de Educação que existia naquela altura.
Ficou entusiasmada?
Nem por isso, mas como era a única maneira de ficar, senti que não tinha alternativa – já naquela altura era muito difícil arranjar emprego – e acabei por descobrir que gostava muito do tema.
Acabou por se especializar na matéria?
Sem dúvida. Embora, às vezes, também escreva com prazer sobre outros temas da área da Sociedade, como religião, crianças, família, etc.
Até que decide escrever o seu primeiro livro sobre educação?
Em 2008 convidaram-me para escrever um livro sobre os rankings das escolas, ou melhor, sobre as escolas que consideradas melhores porque estavam no topo dos rankings. Em vez disso, decidi escrever um livro que fosse útil aos pais no sentido de os ajudar a escolher a escola dos filhos, desde a creche, até ao ensino superior. É um guia muito útil para os pais.
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As suas preocupações de mãe também se refletem no seu trabalho?
Claro que sim. No início da carreira preocupava-me muito mais com as questões do pré-escolar e com a formação da personalidade, por exemplo. Hoje preocupo-me, sobretudo, com as questões da adolescência! No entanto, não deixo os outros temas esquecidos e volto a eles sempre que é preciso. Sem darmos por isso, também vamos crescendo com os filhos.
Agora voltou a ser desafiada, desta vez pela Esfera dos Livros a escrever sobre outro tema?
Pediram-me para escrever sobre o estado da Educação em Portugal. Mas quem tem escrito sobre isto são ministros, ex-ministros, futuros ministros, e investigadores. Como eu não sou uma estudiosa do tema, resolvi fazer um livro completamente diferente.
E foi à procura dos protagonistas da educação?
Exatamente. Neste livro, professores, alunos e pais são todos reais e é através deles que percebemos como é que está a educação no nosso país. O livro é sobre os preconceitos e mitos que existem em relação aos professores.
Todos os capítulos têm uma contextualização.
Sim. Pego, por exemplo, nos valores da OCDE e faço um enquadramento e depois ponho professores, pais e alunos a contarem as histórias das suas experiências. Fiz isso dez vezes, o número dos capítulos e respetivos mitos.
A receptividade ao livro está a ser boa?
Da imprensa está a ser ótima. Há muita curiosidade em conhecer o livro. Os números de vendas ainda não conheço.
O que lhe dizem os professores?
Tenho recebido reações engraçadas. O livro ainda não estava à venda e, em meados de Agosto, uma professora escreveu no seu blogue: “Vi o livro, folheei-o e não vou comprar!” Ela escreveu isto sem nunca ter visto o livro porque só foi publicado um mês depois. E porquê? Porque os professores, nos últimos anos, têm-se sentido muito perseguidos. Ela leu o título e pensou: isto deve ser horrível, vão falar mal de nós e resolveu avisar os seus leitores...
Mas não recebeu boas reações?
Claro que sim. Conheço professores há muitos anos, alguns são minhas fontes e que também fazem parte do livro, que se veem refletidos naquilo que foi escrito. No entanto, na apresentação do livro, o Prof. David Justino disse que provavelmente haverá professores que não vão compreender esta obra.
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Há exemplos negativos?
Infelizmente há e isso os professores vão sentir como um ataque. Mas também há histórias muito positivas que equilibram o livro.
É tudo muito crítico em relação à escola.
De facto as pessoas exigem tudo da escola. Há um problema rodoviário, então vamos ensinar educação rodoviária, há problemas com a sexualidade, então vamos ensinar educação sexual, e é tudo atirado para a escola. Nos últimos anos, os professores sentem que a escola é o armazém onde os meninos passam o dia inteiro. Tudo é pedido à escola e eles sentem-se muito pressionados pela sociedade.
Com dois filhos adolescentes e uma carreira profissional muito absorvente e sem horários, como conseguiu arranjar tempo para escrever?
Normalmente escrevia à noite, nas folgas e nas férias.
Os seus filhos ficaram orgulhosos do seu trabalho?
Sim. Estiveram na apresentação do livro e estavam felizes, tal como o pai. Mas, de facto, sem o apoio da família nada disto tinha sido possível. Tenho um marido excecional - é pai e mãe e consegue juntar todas as condições para que eu consiga trabalhar - e os meus filhos como já são crescidos (14 e 12 anos) ajudam muito.
O jornal também a apoiou?
Nunca ninguém soube que estava a escrever este livro, nem o anterior! Sou muito reservada e consigo separar muito bem as águas.
O que gosta mais na sua profissão?
De conhecer pessoas. Adoro o contacto com as pessoas, de as ouvir.
Atualmente é editora do Público?
Edito o P2, o suplemento diário do jornal, em conjunto com outras duas colegas.
Desde que terminou o curso de comunicação social na Católica, a profissão tem correspondido às suas expectativas?
Tem superado tudo o que eu imaginava, é um trabalho muito gratificante.
Como é como mãe?
Sou muito preocupada com os meus filhos, com o seu bem-estar, a sua felicidade e com a sua educação. O fato de escrever sobre este tema levou-me, quando eles eram mais pequenos, a tentar intervir no modo como os professores leccionam, o que nem sempre era muito bem visto pelos docentes! Atualmente, evito fazê-lo. A educação dos filhos é um exercício de intuição e bom senso.
Texto: Palmira Correia
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