É médica por paixão, tem 54 anos e lida muito bem com a idade. Feminista assumida, Fátima Bivar ainda ponderou seguir Direito para defender os direitos das mulheres mas a Medicina falou mais alto e escolheu uma especialidade a que chama a Medicina Interna das mulheres: a Ginecologia, e não pode estar mais realizada com a escolha. Agora faz a marginal para trabalhar na Clínica Europa, em Carcavelos, e ninguém imagina o prazer que isso lhe dá. A vida enche-lhe as medidas!
Sempre quis ser médica?
Sempre. Não fiz o propedêutico nem o serviço cívico mas fiz o 1º exame de acesso à faculdade com numerus clausus, em 1977. Curiosamente, nessa altura tive algumas dúvidas entre Direito e Medicina.
Quem lhe tirou essas dúvidas?
A minha mãe. Sugeriu que eu escrevesse num papel os prós e contras de uma coisa e outra e eu cheguei ao fim e percebi que a motivação para seguir Direito era a minha vertente feminista. Achava que se fosse juíza podia defender os direitos das mulheres, mas rapidamente percebi que aquele não era o meu caminho e podia ajudar ainda mais como médica.
Sonhos da idade...
Há dias aconteceu uma coisa engraçada: foi à minha consulta uma amiga de infância que eu não via há 40 anos, e foi ela que me recordou as nossas brincadeiras com 6 e 7 anos. Brincávamos sempre aos médicos e a brincadeira acabou por exaustão das outras meninas que se fartaram que eu estivesse sempre a tirar bebés das barrigas delas...
A vocação já vinha daí.
E nunca tive dúvidas nenhumas no curso de Medicina. Era ginecologia e obstetrícia e mais nada!
Gosta-se mais de uma coisa do que da outra?
Não. A obstetrícia é muito gratificante, os partos são fantásticos. Dar vida é um espanto! Aliás, tenho no meu consultório uma parede com os meus recém-nascidos todos, porque sinto que são também um bocadinho meus.
E na ginecologia o que é mais motivador?
A ginecologia é um estimulo intelectual constante. A ginecologia é a Medicina Interna das mulheres – é um mundo! Há imensas terapêuticas, imensas abordagens, há coisas giríssimas para melhorar a qualidade de vida das mulheres!
Uma prática que vai ao encontro das necessidades das mulheres. Ainda é feminista?
Totalmente. Sou intrinsecamente feminista.
Entretanto casou-se e teve filhos. Algum é médico?
Não, apesar de me ter casado com um médico, os meus três filhos seguiram outros caminhos. A minha filha mais velha tem 34 anos e é psicóloga (fui mãe com 20 anos e estava no primeiro ano da faculdade); o meu segundo filho, é arquiteto, tem 29 anos, e nasceu 10 dias depois de ter feito o último exame de Medicina, e a minha filha mais nova, que tem 25 anos, fez gestão hoteleira e nasceu quando eu já estava na especialidade.
Tem os filhos em Portugal?
Só a mais velha, que já tem dois filhos. O meu filho está a trabalhar em São Paulo e a mais nova já fez o curso todo fora e está a trabalhar em Londres.
É uma avó babada?
Adoro os meus netos mas não sou uma avó permissiva porque não gosto de má educação. A minha filha e o meu genro são excelentes educadores - os meus netos não podiam estar em melhores mãos.
Durante a semana consegue ter tempo para as crianças?
Não tanto como gostaria. De facto, tenho uma vida muito ocupada e não consigo estar muito com eles durante a semana, só uma vez ou outra à noite. Sou uma avó de fim de semana.
Tem algum hobby?
Tenho muitos. Além de que gosto tanto da minha profissão que não considero isso um trabalho – é uma coisa que me dá prazer fazer. Assim como gosto de viajar, de ler, ir ao cinema, adoro jardinar e adoro bordar. Cozinhar e receber os amigos - é a vida no seu melhor. Melhor do que qualquer ansiolítico.
Gosta da cumplicidade que estabelece com as suas doentes, quando elas lhe falam da sexualidade, por exemplo. Essa é a parte mais gratificante do seu trabalho?
Pedir ajuda em relação a coisas tão íntimas como é a sexualidade, não há dúvida de que tem de haver confiança e reconhecer algum bom senso na pessoa a quem se colocam as questões. Geralmente as mulheres falam com grande facilidade e abertura da sexualidade, ao contrário dos homens, que raramente pedem ajuda. É como se o “eu” deles estivesse ligado ao desempenho sexual.
O desempenho sexual muda ao longo da vida?
Claro que sim, para homens e mulheres. É preciso reconhecê-lo, aceitar o que não se pode mudar mas corrigir o que se pode melhorar. As mulheres fazem-no mais facilmente. As minhas doentes queixam-se que os maridos têm problemas e, no entanto, eles não pedem ajuda a ninguém.
Como começou a sua carreira?
Fiz o curso no Hospital de Santa Maria e depois entrei para a especialidade no Hospital Egas Moniz. Passei para o Hospital de São Francisco Xavier quando abriu. Foi lá que terminei a especialidade. Comecei a fazer medicina privada muito cedo, e pedi a exoneração da Função Pública em 2000.
Nesta altura dá consultas em que locais?
No meu consultório em Lisboa, na Clínica Quadrantes e na Clínica Europa.
A Clínica Europa é em Carcavelos. Mora na Linha de Cascais?
Não, moro em Lisboa, mas é facílimo, demoro, no máximo, 20 minutos. Aliás, desde que comecei a trabalhar na Clínica Europa passei a fazer a marginal com frequência e não imagina o prazer que isso me dá... Conduzir mesmo ao lado do mar é fantástico!
Tem cuidados com o corpo?
Tenho, mas não vou ao ginásio nem gosto muito. Passeio os meus cães e tenho sobretudo cuidado com o que como. Faço permanentemente restrições alimentares.
Gosta de animais?
Gosto imenso. Tenho dois cães e um gato que é o príncipe lá de casa. Sempre vivi com animais e adoro. Fazem-me falta.
Está bem com a vida?
Muito bem. A vida tem valido muito a pena!
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