Em cada condomínio predomina um ambiente especifico, onde pode prevalecer o egocentrismo e o conflito, a neutralidade e a insensibilidade ou a comunicação e a compreensão como retrato psicológico do conjunto de pessoas que o habitam.

Mas porque é que encontramos realidades tão díspares quando se trata da vida em condomínio, se a socialização e a organização são necessidades básicas do ser humano?

Se, por um lado, o instinto gregário do ser humano incentiva a proximidade aos outros e o seguir tanto regras quanto uma liderança confiável, também existe, por outro lado, a tendência oposta: o procurar a liberdade, a diferenciação e a inovação, explorando novas possibilidades. A questão está na necessidade de encontrar o equilíbrio na projeção de atitudes que manifestem tanto o ser pessoal como as necessidades coletivas.

No entanto, este equilíbrio é facilmente comprometido pela tendência social onde a cultura do individualismo impera e se valoriza a competitividade e a valorização do centro intelectual.

Se aliarmos estas tendências ao stress diário e à pressa com que se vive o dia a dia, percebemos que é fácil que as pessoas se deixem levar por impulsos, ideias e comportamentos que criam um ambiente narcisista no condomínio.

Este ambiente tóxico promove o egocentrismo, a arrogância, a manipulação e o sentimento de superioridade, colocando-se estes (maus) valores acima das demais pessoas e das regras. O espaço torna-se, assim, um condomínio surdo onde as pessoas não se ouvem e onde, como tal, não desenvolvem a capacidade de compreensão e de ajuda mútua, vivendo próximas, mas isoladas.

Nos condomínios em que há tendência generalizada para a neutralidade, aparecerá também a tendência para um ambiente de indiferença. Aqui, a maioria das pessoas - movida pelo comodismo, por falta de consciência do quanto a sua participação é fundamental ou por retaliação ou descontentamento para com alguma situação - prefere manter-se à margem, mostrando desinteresse sobre a vida do condomínio.

Neste caso, dificilmente haverá quorum para deliberar em assembleia, sendo as decisões necessárias frequentemente adiadas. As relações humanas tornam-se frias, distantes ou praticamente inexistentes. Os condomínios tornam-se, deste modo, espaços comuns de solidão e de desconexão humana.

Quando a maioria dos condóminos está positivamente envolvida com o condomínio e consciente da importância do seu papel, cria-se um ambiente de solidariedade onde impera a auto responsabilização, a ajuda mútua, a proximidade e a cooperação. Quando os vizinhos se conhecem com maior profundidade, aumenta a capacidade de tolerância e de respeito e as regras deliberadas com a participação de todos também tendem a ser mais facilmente cumpridas, evitando penalizações ou processos judiciais para os infratores.

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amigos créditos: Pixabay

Como se percebe, construir relações sólidas com os vizinhos não é apenas um detalhe, mas sim uma forma de melhorar a qualidade de vida. O vizinho é, na verdade, um aliado na proteção do património, dos interesses coletivos e de ajuda nas pequenas necessidades que podem surgir no dia-a-dia. Com sentido de comunidade, o bom senso prevalece e tende a diminuir o possível stress que pode ser gerado pela falta de convivência próxima.

Construir boas relações de vizinhança parece ser, felizmente, a tendência natural da maioria dos condomínios nacionais. Segundo um estudo realizado em Portugal, 67% dos inquiridos referiu que os vizinhos têm um peso significativo nas suas vidas e 7 em cada 10 portugueses garantem ter uma boa relação com os seus vizinhos.

De forma geral, os portugueses não gostam de se separar dos seus vizinhos, até porque, quando vivemos num ambiente saudável e altruísta, cada vizinho trará o melhor de si à comunidade onde todos têm a ganhar.

Mas que tipos de vizinhos podemos encontrar nesta ‘sociedade habitacional’?

Há vizinhos com um dom inato para ouvir, compreender e harmonizar posições. São vizinhos que sabem como evitar ou amenizar diplomaticamente conflitos, criando com facilidade um ambiente de inclusão onde todos contam e participam.

Outros vizinhos são mais focados nos processos e estão atentos ao bom e correto funcionamento do condomínio, intervindo quando necessário para corrigir e aperfeiçoar procedimentos, atitudes e comportamentos.

Existem também os vizinhos com uma capacidade natural de perceber as necessidades dos outros, que oferecem a sua ajuda espontânea. São muito focados nas relações humanas e excelentes a encontrar soluções.

Importante é também o contributo dos condóminos focados no cumprimento de metas e na análise de resultados, incentivando o envolvimento de todos para a construção de um condomínio exemplar.

Já outros vizinhos podem oferecer à comunidade não só uma grande capacidade de empatia e de conforto em momentos difíceis, como um sentido estético com detalhes e ‘um toque especial’ que embelezam o ambiente.

Lembremos, ainda, a importância da capacidade de análise, de planeamento e de síntese dos condóminos com mais tendência para lidar com processos e burocracias, trazendo informação e clareza relativamente ao desenrolar da vida no condomínio.
Consideremos, também, a intuição dos vizinhos precavidos que, ao anteverem o que pode não correr bem, ajudam a ponderar e a encontrar soluções mais adequadas e a prever alternativas para qualquer caso de necessidade.

E a importância que têm aqueles vizinhos alegres e bem-dispostos para desanuviar ambientes pesados com a sua simpatia, o seu positivismo e o seu bom humor?

Outros vizinhos são especialmente notados pela sua capacidade de ação e assertividade, revelando-se a força motriz do condomínio, já que põem em marcha os planos e as decisões da assembleia. São lideres natos que inspiram a comunidade ao sucesso!

Se o perfil do seu condomínio ainda não é o “Solidário”, reflita no que pode ser mudado para usufruir do melhor de cada vizinho. Até porque um condomínio é, na verdade, uma pequena comunidade que pode (e deve) funcionar como uma família: em que todos têm a mesma importância, assumindo papéis complementares que fazem daquele nosso espaço comum um verdadeiro “lar doce lar”.

Texto: Loja do Condomínio