Todos iguais, todos diferentes! Cada um de nós é único e insubstituível. A ideia de nos catalogarmos é, por isso, algo redutora. Ainda assim, a tipificação da personalidade de acordo com o nosso comportamento em sociedade reveste-se de grande utilidade, na medida em que nos ajuda a descobrir que aspetos devemos estimular e quais devemos aperfeiçoar com vista a uma melhor integração social. Estamos todos expostos aos olhos dos outros, que nos julgam e qualificam. Por isso, qualquer pessoa procura apresentar-se a si mesma e perante os outros da melhor forma possível.
Para além disso, quando somos observados sentimos uma pressão acrescida para adequar a nossa imagem e personalidade aos modelos socialmente aceites. A personalidade é constituída por características que usamos para nos descrevermos. Entre estas características encontram-se os traços como a agressividade, a sociabilidade, a sensibilidade, a extroversão ou a introversão. A essas, juntam-se as capacidades cognitivas (inteligência e sentido de humor, por exemplo) e outros aspetos que as pessoas usam para se descreverem, como os seus desejos, motivações, sentimentos e por aí fora...
A personalidade é a forma como pensamos, sentimos e interpretamos a realidade. A personalidade é determinada, em grande parte, pelos genes, mas o ambiente e as experiências ocupam-se de moldar essas possibilidades numa direção ou noutra. Portanto, apesar de podermos mudar a nossa maneira de ser, fazemo-lo sempre com base nas características de personalidade com que nascemos.
A opinião que temos de nós
Um aspeto importante da nossa personalidade é a forma como nos vemos a nós próprios e ao mundo que nos rodeia. Duas pessoas diferentes podem interpretar a realidade de forma diametralmente oposta. As pessoas reagem ao mundo de acordo com a forma como o entendem, mas, ao mesmo tempo, a maneira como nos vemos a nós próprios influencia a nossa personalidade. Do mesmo modo, recorremos muitas vezes aos outros para nos definirmos, e baseamo-nos na opinião que os outros têm de nós, tomando-a como referência ao descrevemo-nos.
Para além de todos os tipos de personalidade contemplados na teoria do eneagrama, uma teoria que classifica as personalidades em três formas de inteligência (emocional, mental e instintiva), existem três traços bastante demarcados no ser humano e que merecem especial atenção, a violência, a timidez e a suscetibilidade:
- Violência
Uma preocupação cada vez mais premente nas sociedades modernas é a violência. Estudos recentes demonstram que um carácter agressivo não se herda, mas que a predisposição genética e as experiências negativas o acentuam. A violência é, frequentemente, uma forma de comunicação social, na medida em que tem uma probabilidade muito alta de ampliar a comunicação, podendo servir à pessoa violenta, entre outras coisas, para a afirmação da própria identidade. Apesar da agressividade poder tomar diversas formas de expressão, a sua característica mais evidente é o desejo de magoar.
Veja na página seguinte: Por que nos tornamos violentos?
Por que nos tornamos violentos?
Sem menosprezar os fatores biológicos, os sociais e os de personalidade, os factores com um papel especialmente importante na explicação do aparecimento de comportamentos violentos são os fatores ambientais. Especialmente, o papel da família, uma vez que a agressividade como forma de resolver problemas costuma ter a sua origem na infância e parece consolidar-se, em boa parte, em ambiente familiar. O modelo de família pode predizer a delinquência das crianças.
Uma vez que o clima sócio-familiar intervém na formação e desenvolvimento dos comportamentos agressivos, as crianças agressivas percebem, geralmente, no seu ambiente familiar, um certo grau de conflito. Os comportamentos anti-sociais que se geram entre os membros de uma família servem como modelo e treino de comportamento anti-social para os jovens, que depois os exibem noutros ambientes.
- Timidez
A timidez é uma emoção social que faz com que nos sintamos desconfortáveis, inibidos, assustados e até nervosos... à frente das outras pessoas. Pode ser acompanhada de sensações como ruborização, tremores e náuseas.
Os fatores que influenciam a timidez são:
- Temperamento
Existe gente tímida por natureza. Os cientistas acreditam que o temperamento é determinado pelos genes que herdamos dos nossos pais. Uma pessoa de temperamento tímido é, provavelmente, mais cautelosa, tem maior dificuldade em adaptar-se à mudança, prefere o familiar ao desconhecido e hesita quando enfrenta algo novo.
- Comportamento aprendido
A tendência natural de uma pessoa para ser tímida pode ser influenciada pelo que aprende com outras pessoas, especialmente os membros da família. Se os pais de uma criança tiverem dificuldade em relacionar-se com as pessoas, os filhos podem imitar este comportamento.
- Experiências desagradáveis
O que uma pessoa aprende através da própria experiência também se pode reflectir na sua timidez. Uma pessoa de temperamento tímido pode tornar-se mais retraída se a forçarem demasiado a participar em situações novas e/ou a façam sentir-se desconfortável.
O que os tímidos fazem:
- Negam a realidade
Protegem-se a si mesmos da realidade desagradável e arranjam escapatórias, como ficar doente.
- Fantasiam
Satisfazem os desejos frustrados através de realizações imaginárias.
- Fogem
Culpam as outras pessoas pelas suas dificuldades.
- Reprimem-se
Evitam que os pensamentos perigosos ou dolorosos entrem na sua consciência.
- Isolam-se emocionalmente
Preferem a passividade, para se defenderem de eventuais danos que possam vir a sofrer.
- Demonstram simpatia
Tentam ganhar o afeto das pessoas para reforçar os sentimentos da sua própria valia, apesar de todos os fracassos.
Veja na página seguinte: O problema da suscetibilidade
- Suscetibilidade
As pessoas com este tipo de comportamento são muito frágeis emocionalmente (com uma autoestima baixa) e têm a necessidade irrevogável de ser o centro das atenções. Segundo María Jesús Álava Reyes, psicóloga e autora do livro «A inutilidade do sofrimento», «as pessoas susceptíveis sofrem bastante, dado viverem com uma dificuldade permanente de desfrutar ou valorizar os aspectos positivos da vida». Quem tem este tipo de comportamento, normalmente, recebeu uma educação muito exigente, na qual não se premiaram as coisas boas e positivas, mas penalizaram-se todos os erros cometidos.
As exigências interiorizadas durante a infância convertem-se, mais tarde, em pretensões que fazem com que não consigam desfrutar os seus aspetos positivos e as suas carências ou limitações. Todos os seus esforços se centram em passar aos pais uma imagem perfeita, de acordo com os desejos paternais, uma meta que se torna impossível de concretizar. Quando estes tecem algum comentário, mesmo que breve, sobre alguma imperfeição do filho, a imagem que querem passar fica tremida.
Ficam incomodados com todos os comentários e críticas, têm tendência para interpretar mal as conversas e manifestam um carácter agressivo que não são capazes de reconhecer. A pessoa suscetível encontra-se numa luta constante entre uma necessidade exacerbada de reconhecimento e a crítica exigente que faz a si mesma. Para que este traço de susceptibilidade fosse menos dominante, a sua educação deveria ter incluído a valorização de cada um dos aspectos da sua pessoa (positivos e negativos).
Texto: Madalena Alçada Baptista
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