Um conjunto de estudos, recentemente publicados pelas universidades norte-americanas da Califórnia, Columbia, Illinois e Harvard, vieram confirmar o que já era quase uma certeza.

O cérebro trabalha muito melhor se, para além de actividade intelectual regular, o ser humano fizer exercício físico.

Numa altura em que as escolas norte-americanas estão a reduzir, ou mesmo a eliminar, o tempo dedicado às actividades desportivas, esta conclusão impõe a
reformulação dos currículos escolares. Afinal as aulas de educação física ajudam a ter boas notas nas outras disciplinas.

Estudo promissor

Um dos especialistas que tem vindo a estudar o impacto do exercício físico na função cerebral é John Ratey, psiquiatra e professor associado da Harvard Medical School. Um dos estudos acompanhados por este investigador teve lugar num
liceu norte-americano de Naperville, no estado do Illinois.

Para tal foi seleccionado um pequeno grupo de estudantes com dificuldades de leitura a quem foi dada uma aula extra de ginástica, imediatamente antes do estudo literário. Os resultados foram de tal forma promissores que levaram
a escola a alargar este programa a um número maior de estudantes. «Até agora o exercício físico é o único factor conhecido que pode optimizar
a aprendizagem dos estudantes», contou-nos John Ratey, autor de «SPARK: The Revolutionary New Science of Exercise and The Brain».

Anti-depressivo natural

Os efeitos do exercício físico não se esgotam na melhoria das capacidades de aprendizagem dos estudantes, como explicou John Ratey em entrevista à saber viver. «O treino aeróbico pode tratar estados depressivos e de stress, ansiedade, falta de energia e de concentração e ajuda a lidar com os desejos alimentares e de outras substâncias viciantes», assegura.

O exercício físico eleva um grupo de neurotransmissores, os mesmos implicados no tratamento com medicamentos antidepressivos, bem como os factores de crescimento responsáveis por manter as células nervosas vivas e a funcionar a um nível óptimo.

Jogging, ténis, futebol, marcha em passo rápido e escalada são algumas das melhores actividades para o cérebro, segundo o especialista norte-americano, devendo ser praticadas numa base diária, «30 a 60 minutos por treino», diz.

Mente sã em corpo são

Os benefícios do exercício físico são especialmente importantes para a promoção da saúde nas mulheres, «que correm um risco maior de declínio mental ao atingirem a menopausa», explica John Ratey.

Também Nelson Lima, neuropsicólogo e director do Instituto da Inteligência, enuncia os benefícios da actividade física para a saúde mental.

«Todos os estudos actualmente conhecidos apontam no sentido de que a actividade física enriquece o sangue de oxigénio, melhorando a função cognitiva, ao mesmo tempo que produz reacções químicas nas células nervosas que protegem o cérebro dos efeitos prejudiciais do envelhecimento e do stress, diminuindo os riscos das demências devidas à idade avançada, incluindo a doença de Alzheimer».


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Vencer a preguiça

Por outro lado, o sedentarismo conduz à inacção e a atitudes reactivas (agir apenas em função das necessidades), reduzindo a motivação, a criatividade e o empreendorismo.

Baixa também os níveis de humor, optimismo, ânimo e afecta o prazer de viver.

«A nível neurobiológico verifica-se que o sistema nervoso torna-se mais preguiçoso, menos flexível, menos rápido a reagir e menos capaz de proteger o envelhecimento do cérebro», refere Nelson Lima.

Os estudos têm permitido verificar que as pessoas que praticam regularmente exercício têm um tempo de vida activa mental saudável bastante superior aos que não o fazem. Calcula-se que cerca de 70 por cento das pessoas com demência, derivada da idade avançada, têm uma história de vida marcada por pouco actividade intelectual e um estilo de vida sedentário.

Texto: Vanda Oliveira com John Ratey (psiquiatra) e Nelson Lima (neuropsicólogo)