Hoje em dia, assistimos a uma tendência para nos mimetizarmos nas relações sociais. O medo de nos rejeitarem e de não sermos suficientemente bons, o incremento das relações virtuais e o querermos seguir os outros cegamente faz com que se esteja a perder a autenticidade e a camuflar-se emoções. E quanto mais baixa é a autoestima, maior é a probabilidade de isso acontecer. Vamos voltar a ser autênticos?
«Se sentir estima por si e se se valorizar, mais facilmente será genuíno na relação consigo e com os outros. A autoestima saudável está relacionada com a capacidade de nos respeitarmos e aceitarmos. Isso significa sermos capazes de identificar os nossos pontos fortes e fracos, e reconhecer que somos dignos de valor, não nos valorizando em função dos sucessos obtidos ou das falhas cometidas», esclarece Catarina de Castro Lopes, psicóloga clínica da Psinove.
Ter autoestima significa gostar de si, sentir amor por si e aceitar-se. «As pessoas que nutrem estes sentimentos por si próprias tendem a ser mais autênticas. Em alguns momentos, poderão escolher não o ser (com consciência), isto é, em certos contextos, podemos sentir que não é adequado manifestar o que sentimos ou pensamos. O que difere é a possibilidade de escolha», acrescenta a psicóloga.
A mudança que se impõe
Esta adaptação ao ambiente é positiva, mas só se a «mudança fizer sentido ao próprio, se for uma escolha e não for imposta por alguém ou não viole a própria identidade, individualidade e diferenciação», diz a especialista. Será que nos importamos demasiado com o que os outros pensam? Para Catarina de Castro Lopes, «é natural darmos importância à forma como somos vistos e valorizados por outras pessoas».
«Somos seres sociais, vivemos em grupo, logo é natural que sintamos a sua pressão e influência», acrescenta. Agora, o impacto que a opinião dos outros tem em nós «depende da interpretação que damos a essa informação e da nossa autoestima e autocrítica. Uma pessoa que acredite em si própria e seja detentora de uma autoestima adaptativa ou adequada tolera eficazmente os feedbacks do exterior».
Posto isto, veja como pode voltar a ser autêntica em apenas seis simples passos. A psicóloga Catarina Castro Lopes, explica como. Estas são as estratégias a adotar:
1. Observe-se
«Perceba as situações em que é mais difícil ser genuína, com que pessoas e em que contextos. Tome consciência do que sente nessas situações. Seja consciente das suas sensações e emoções e permita-se experienciá-las, em vez de as suprimir ou ficar completamente absorvida. Note a emoção com atenção plena, não se julgando por estar a sentir ira, medo, tristeza ou vergonha. As emoções, quando são adaptativas (ou adequadas face ao contexto), são temporárias», sublinha Catarina Castro Lopes.
2. Analise as suas relações interpessoais
«Afaste-se das pessoas que não lhe permitem ser autêntico», recomenda a psicóloga. «Não deixe que os outros o anulem. Se os outros estão numa relação consigo, se gostam de si, provavelmente é porque aceitam as suas características pessoais. Claro que poderá fazer cedências que sinta como benéficas para si ou para a relação», diz.
«O importante é que não enfraqueçam a sua estima, que não sejam geradoras de sentimentos de culpa, vergonha e/ou tristeza e que não minem a forma como passa a ver-se a si próprio e ao mundo que o rodeia», acrescenta ainda Catarina Castro Lopes.
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3. Fale in loco com as pessoas
«A tendência, nos dias de hoje, é para estabelecermos cada vez mais relações virtuais em detrimento de relações reais. Usamos mais a Internet, através das redes sociais ou do telemóvel para comunicar, comprometendo as relações pessoais», critica a especialista.
«Há uma maior facilidade em criarmos máscaras sociais pelo meio virtual e de não sermos autênticos. As pessoas com mais dificuldade em aceitar-se a si próprias podem tender a privilegiar as relações virtuais, uma vez que têm dificuldade em relacionar-se genuinamente com os outros», refere.
4. Faça as pazes consigo mesmo
«Tenha compaixão por si. Expresse a mesma empatia que mostra pelos outros. Se um amigo está a passar por um momento particularmente difícil, pense no que pode fazer para o ajudar. Será possível fazer o mesmo por si? Seja compreensivo consigo e aceite as decisões que toma em vez de se criticar», afirma Catarina Castro Lopes.
«Compreenda os motivos que o levaram a agir de determinada forma. Pode ser difícil, mas experimente reconhecer que algumas experiências são inevitáveis e talvez descubra que fez o melhor que pôde. Reconheça a sua humanidade. Todos nós cometemos erros e todos somos afetados por fatores externos que não podemos controlar», acrescenta.
5. Cuide de si
«Procure ter tempo para cuidar de si, para descansar o tempo necessário, para fazer o que gosta, ter momentos de lazer e prazer. Aprenda a desligar. Por vezes, estamos tão absorvidos nas nossas obrigações e produtividade que podemos desvalorizar a nossa necessidade de relaxar, sem culpa. Cuidar de si fará com que estabeleça uma relação mais satisfatória consigo mesmo», diz a especialista.
6. Aceite os outros
«Aceitar-se a si próprio e estabelecer uma relação suficientemente satisfatória consigo fará com que se relacione mais saudavelmente com os outros. Estabeleça empatia com o outro, procurando colocar-se no seu lugar, entendendo a sua perspetiva, tomando consciência do que o outro está a sentir no momento», defende ainda Catarina Castro Lopes.
Texto: Rita Caetano
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