A pergunta é pertinente. Todas as mulheres devem ter cuidados especiais enquanto estão grávidas. Idealmente, deveriam preparar a sua gestação antecipadamente. Quando existe uma patologia, todos os cuidados deveriam ser redobrados nesta fase. É o caso da diabetes prévia à gravidez. Como ultrapassar a patologia e viver a gestação como um verdadeiro estado de felicidade? É o que lhe dizemos neste artigo.
 
Antes de engravidar, qualquer mulher com diabetes Mellitus (tipo 1 ou tipo 2) deverá atingir um bom controlo da glicemia, ou seja, do nível de açúcar no sangue. Só depois de atingir este objectivo é recomendável que a contracepção seja suspensa. Assim, a mulher diabética deverá preparar a sua gravidez sem descurar a sua doença. No entanto, não se pense que esta é uma tarefa simples. “De facto, não é fácil controlar a diabetes, sobretudo se tivermos em consideração todo um conjunto de condicionalismos que a vida profissional e pessoal coloca hoje em dia”, salienta o Dr. Antonio Garrão, director do serviço de endocrinologia do Hospital da Luz.
O principal problema para uma mulher com diabetes que pretenda engravidar “é a dificuldade em encontrar no seu dia-a-dia o tempo e a disponibilidade indispensáveis ao equilíbrio da doença”, opina o especialista. Para encontrar este equilíbrio, muitas vezes, é necessário modificar hábitos de vida antigos, o que acaba por causar algum sofrimento, mesmo se se tiver em consideração a perspectiva de engravidar em segurança como forte motivação para a generalidade das futuras mães.

“Nesta fase da vida, o acompanhamento por uma equipa multidisciplinar de saúde que trabalhe de uma forma articulada é indispensável. Desta equipa de saúde, devem fazer parte, entre outros, um diabetologista, um nutricionista, um enfermeiro, um psicólogo e um obstetra.” É também fundamental envolver todo o agregado familiar neste processo.

O insuficiente controlo da diabetes no começo da gravidez, sobretudo até às sete semanas de gestação, “altura em que os órgãos do feto estão em desenvolvimento”, condiciona um risco aumentado de malformações fetais, como por exemplo, cardíacas, neurológicas e renais”, explica António Garrão.

Depois de engravidar

Durante a gravidez, a auto-vigilância das glicemias capilares continua a ser essencial, permitindo uma atempada correcção de medidas terapêuticas que visam o seu controlo. “A monitorização da evolução do peso da grávida é também fundamental. Uma deficiente evolução ponderal é indicadora de uma alimentação muito restritiva”, adianta o especialista.

É também importante manter uma vigilância oftalmológica e renal durante a gravidez, sobretudo se já existirem lesões a esse nível.

Dado que a diabetes aumenta o risco de complicações na gravidez, sobretudo se a doença for mal controlada, a grávida deverá ser vigiada rigorosamente. “Por vezes, poderá ser necessário recorrer a exames que envolvem a utilização de tecnologias avançadas. É por isso fundamental que a grávida com diabetes seja seguida num centro com capacidade para o acompanhamento de uma gravidez de alto risco”, alerta António Garrão.

Durante o parto, pode ocorrer uma descompensação da diabetes. “É indispensável o fornecimento de um plano de vigilância e controlo da diabetes durante o parto, pelo seu diabetologista assistente, com a devida antecedência.”

Idealmente, o parto deverá ser efectuado numa instituição que conte com o apoio fundamental de uma unidade de neonatologia devidamente equipada.

“Eu tenho diabetes. O meu bebé será diabético?”

O risco do bebé nascer com diabetes é muito baixo. “É mais frequente o surgimento de hipoglicémias nas primeiras horas após o parto caso a diabetes tenha sido mal controlada no final da gravidez”, esclarece António Garrão.

Existem, no entanto, diversos estudos que mostram que o risco de o bebé vir a ter obesidade e diabetes mais tarde aumenta significativamente se a mãe tiver um mau controlo da glicemia durante a gravidez.
“Curiosamente, as necessidades de insulina da mãe descem significativamente após o parto, isto se a mulher já estava medicada com insulina antes de engravidar. De igual modo, não há qualquer contra-indicação para a amamentação na mãe diabética”, conclui António Garrão.

Além da diabetes prévia, toda e qualquer mulher grávida deve ser avaliada no sentido de verificar se surgiu diabetes durante a gravidez deve uma vez que a diabetes gestacional – que surge com a gravidez e geralmente desaparece após o parto – é mais frequente do que a existência prévia desta patologia. Por isso, todos os cuidados são poucos para garantir a saúde da mãe e do bebé bem como a segurança adequada no momento do parto.

Cuidados antes de engravidar

- Optimizar o controlo das glicemias. “Para cumprir este objectivo, é muito importante auto-avaliar com frequência as glicemias capilares, aderir a uma dieta equilibrada e polifraccionada (varias refeições por dia de forma a reduzir os períodos de jejum) que deverá ser individualizada e variada, efectuar exercício físico de forma regular (sempre adaptado a cada caso) e ajustar a medicação”, salienta António Garrão.

- O tratamento com insulina continua a ser o mais recomendado para esta fase. “A optimização do controlo da glicemia com recurso à administração de insulina está sempre associada a um aumento da probabilidade de ocorrência de hipoglicémias. Este risco pode ser minimizado através da utilização das bombas de perfusão de insulina. Este método permite uma maior estabilidade dos valores de glicemia”, adianta o endocrinologista. Existem actualmente modelos no mercado que possibilitam a medição contínua dos valores de açúcar (o que constitui uma mais valia em termos de optimização terapêutica) ou dar um alarme se os seus níveis descerem abaixo de um valor pré-definido, prevenindo assim a ocorrência de hipoglicémias graves.

- Identificar possíveis complicações da diabetes que possam sofrer agravamento durante a gravidez (por exemplo, a doença renal ou da retina) ou colocar em risco a vida da grávida (por exemplo, a doença coronária).

- “Substituir os medicamentos que possam ser causadores de malformações fetais (em linguagem médica designam-se por teratogénicos)”, conclui António Garrão.

Texto: Cláudia Pinto

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