A prevalência da dermite atópica tem vindo a aumentar nos países industrializados, afectando cerca de 20% das crianças e 5 % dos adultos. Muitas vezes, está associada a outras manifestações “atópicas” como a asma, a rino-conjuntivite alérgica e a intolerância alimentar. A dermite atópica é uma dermatose com predisposição genética. A maior parte dos doentes tem antecedentes familiares com dermite atópica ou outras doenças alérgicas.
Existem alguns cuidados que as pessoas podem ter para prevenir o surgimento/agravamento desta doença. Saiba quais: 13 dicas para proteger a pele.
Existem três sub-tipos de dermite atópica consoante a data de aparecimento:
1. Início precoce: a dermite atópica que surge nos primeiros 2 anos de idade. É a forma mais frequente de dermite atópica; surge nos primeiros 6 meses de vida em cerca de 45% das crianças afectadas, em 60% antes do primeiro ano de vida e em 85 % antes dos 5 anos de idade. Cerca de 60% dos jovens com dermite atópica entram em remissão espontânea no início da adolescência.
2. Início tardio: quando a dermite atópica surge depois da puberdade. Esta forma afecta sobretudo o sexo feminino.
3. Tipo senil: é uma forma pouco habitual que surge depois dos 60 anos de idade.
A dermite atópica divide-se em 3 fases, consoante a idade:
- Fase do lactente ou da 1ª infância (até aos 2 anos de idade): As lesões surgem por volta do 2º mês de vida e atingem sobretudo a face ( bochechas), o pescoço, o coiro cabeludo e os membros . São lesões avermelhadas, crostosas e exsudativas, muitas vezes com infeção secundária por bactérias (impétigo). O prurido é muito intenso, afectando a qualidade do sono da criança e o descanso dos pais.
- Fase infantil (dos 2 aos 10 anos de idade): Nesta fase as lesões são menos exsudativas e localizam-se sobretudo nas pregas de flexão dos cotovelos e joelhos, pescoço, punhos e regiões peri-orificiais (pálpebras e lábios). A secura da pele é muito acentuada e o prurido intenso origina numerosas escoriações de coceira, com eventual infeção secundária.
- Fase do adolescente e adulto (depois dos 12 anos)
A incidência da dermite atópica diminui drasticamente a partir da puberdade, apesar de cerca de 25% do doentes continuar a ter episódios de eczema crónico, na sua variante liquenificada (secura, espessamento e amplificação do reticulado cutâneo). As lesões atingem sobretudo as mãos, aréolas mamárias, pálpebras e pescoço, podendo ser agravadas por factores ambientais e de ordem emocional.
A dermite atópica pode ser desencadeada por vários factores ambientais, nomeadamente o clima frio e seco, que torna a pele mais sensível e vulnerável ao aparecimento das lesões de Eczema Atópico.
Uma vez que o inverno se aproxima, é importante destacar as razões para isto acontecer. Por um lado, com o frio, dá-se uma menor activação das células que produzem o manto hidrolipídico (hidratante natural produzido pelo organismo, que se encontra na superfície da pele e é composto por suor e gordura), cuja função é prevenir a pele de ficar seca e protegê-la de agressões.
Daí que a exposição ao frio possa intensificar a desidratação da pele. Por outro lado, no inverno existe propensão para tomar longos banhos de água quente, que acabam por reduzir, ainda mais, a protecção natural da pele, deixando-a mais seca e, consequentemente, mais susceptível ao desenvolvimento do Eczema Atópico.
Esta doença, agravada pelo frio, pode causar incómodos como a comichão que, quando muito intensa, pode originar escoriações de coceira, com inflamação e infeção, crostas e, até mesmo, soltar secreções (exsudação).
O tratamento das crises, quando ligeiras, pode ser feito por corticóides tópicos sobre a forma de pomadas, cremes ou loções que têm uma ação anti-inflamatória local. Existem, também, anti-histamínicos que são utilizados para alívio do prurido, sob a forma de gotas, xaropes ou comprimidos. Outro tratamento local consiste na aplicação de um inibidor da calcineurina, com ação anti-inflamatória, que se utiliza como alternativa ou na sequência da terapêutica com corticóides tópicos. Trata-se de um grupo de agentes tópicos eficaz no controle do eczema e que podem ser utilizados em regimes específicos para prevenir as recidivas.
O frio está aí, pelo que agora é o momento de atacar a doença, prevenindo o seu agravamento nos meses de inverno.
Por João Abel Amaro, Médico Dermatologista no Hospital dos Lusíadas
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