Já imaginou sentar-se em frente a um médico que nunca viu, mas que sabe tudo sobre o seu historial clínico? Num futuro próximo, as doenças que já teve, os medicamentos que tomou estarão à distância de um click nos computadores das unidades hospitalares.

«Os sistemas de informação para os cuidados primários de saúde ajudam na gestão dos pacientes e do funcionamento das instituições e incluem funcionalidades como gestão de doentes, agendamento, orçamentação e arquivo documental», explica Bráulio Alturas, professor do ISCTE e Investigador da ADETTI (Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de Informática).

As mais-valias...

Maior rapidez de diagnóstico e de acesso aos dados, bem como coerência na informação são as grandes vantagens destes sistemas. «A sua utilização tornará possível a racionalidade do acesso aos dados de cada paciente numa instituição de saúde e, a correlação dessa informação em diversas bases de dados, sendo possível comparar o seu caso com outros similares e assim mais rapidamente chegar a um diagnóstico», refere Bráulio Alturas.

Mas também haverá vantagens em termos económicos, como explica o investigador: «Será eliminada uma grande quantidade de papel, com os consequentes efeitos ao nível dos custos não só do material, como dos arquivos e espaço. E a rapidez com que se terá acesso aos dados resultará em importantes poupanças de tempo e dinheiro.»

...e as desvantagens

As eventuais quebras de segurança são as maiores desvantagens deste processo: «Os sistemas deverão garantir que os dados estão protegidos de forma a não se perderem ou serem alterados inadvertidamente. Um outro risco relaciona-se com o facto de qualquer indivíduo ter a possibilidade de aceder a dados confidenciais de outrem», refere o professor do ISCTE.

No entanto, «tais situações já ocorriam antes da informatização dos dados clínicos, uma vez que, nos consultórios médicos e em arquivos hospitalares, também se podem verificar tais desvios de informação», acrescenta o investigador.

Questões éticas

A informatização dos dados médicos poderá pôr em causa o direito à privacidade. «Os problemas éticos decorrem do acesso não autorizado a dados pessoais informatizados tal como o diagnóstico, prognóstico, comportamentos ou relações familiares», afirma Rui Nunes, presidente da Associação Portuguesa de Bioética.

Para este médico a implementação de mecanismos de controlo verdadeiramente eficazes é fundamental, «por um lado, limitando o seu acesso a profissionais de saúde sujeitos a dever ético e legal de segredo profissional e apenas quando directamente envolvidos no tratamento do doente. Por outro lado, o acesso deve ficar registado para se justificar a consulta».

Veja na página seguinte: Os dados mais sensíveis

De acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Bioética, «quanto mais sensíveis são os dados (doentes VIH positivos ou com SIDA, pacientes com uma orientação sexual diferente, menores que se encontram grávidas ou que efectuaram uma interrupção de gravidez ou testes genéticos que revelem uma determinada predisposição) maior é o dever ético de proteger a confidencialidade».

Sabia que...
Até 2017 os sistemas de informação para os cuidados primários de saúde serão ampliados de forma abranger os dados médicos de todos os pacientes!

Texto: Rita Caetano com Bráulio Alturas (investigador da Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de Informática e professor) e Rui Nunes (presidente da Associação Portuguesa de Bioética)