Portugal é já um dos destinos de eleição para os surfistas profissionais quando chega a hora de praticar para as grandes provas.

As ondas nacionais têm sofrido uma grande projeção mediática, como Ribeira D`Ilhas, Zambujeira, Caparica, Supertubos, para não falar das ondas gigantes na Nazaré, pelas quais o nosso país é conhecido a nível mundial. A acompanhar esta mediatização da modalidade, o número de praticantes de surf em Portugal tem registado um aumento significativo.

E com o número de surfistas a aumentar, crescem também os problemas de saúde associados, como as otites, conhecidas na gíria como “ouvido de surfista”. O ouvido sofre em silêncio. Os surfistas vestem os seus fatos impermeáveis, agarram nas pranchas e, mesmo quando o mar está a uma temperatura muito baixa, entram nas ondas.

Prevenção

Os golpes da água e do vento vão afetando os ouvidos, uma vez que ficam completamente expostos. Mas existem formas de prevenção muito eficazes, como é o caso dos tampões de silicone feitos à medida de cada pessoa, que são de alta eficácia.

O corpo humano tem um mecanismo de defesa que evita que a água fria, tal como o vento, atinja ou tenha um grande impacto na membrana do tímpano. A reação é feita através do estreitamento do canal auditivo.

Como resultado, o canal diminui de calibre progressivamente e adquire um formato que vai causar danos, nomeadamente na expulsão da água caso esta entre para dentro do ouvido. É muito comum vermos banhistas que, após alguns mergulhos, saltam com o ouvido para baixo, durante 10 a 15 minutos, na tentativa de expulsar a água.

Os ouvidos dos surfistas podem entupir com muita facilidade, pois o canal é mais estreito e entope mais facilmente. Este crescimento silencioso das camadas de osso, tecnicamente chamadas de exostoses do canal auditivo externo, pode levar anos e após muita exposição à água e ao vento surgem então as sensações de entupimento, de comichão e rapidamente de dor, para não falar da infeção subsequente.

Estas otites externas são um pesadelo para o surfista e significam o primeiro aviso para uma ida ao otorrino e à realização de alguns exames, como TAC e Audiogramas e, por vezes, cirurgia. O encerramento do canal pode ser completo ou subtotal e, além do tratamento médico com antibióticos, anti-inflamatórios e gotas de utilização local, pode chegar-se mesmo à necessidade de uma cirurgia para remoção da exostose e calibragem do canal auditivo externo.

Todos os surfistas e outros praticantes de desportos náuticos deveriam, pelo menos uma vez por ano, consultar um otorrinolaringologista para um exame do canal auditivo, limpeza e despiste de uma otite de surfista.

Por Dulce Martins Paiva, diretoral geral da GAES – Centros Auditivos em Portugal