A medicina preventiva já provou ser capaz de reduzir drasticamente a mortalidade por doenças comuns, como o enfarte do miocárdio, os acidentes vasculares cerebrais ou o cancro.

A medicina anti-aging que ainda está a dar os primeiros passos em Portugal, mas promete retardar e até mesmo evitar os processos degenerativos que surgem com a idade, assegura o mesmo os especialistas que já a praticam.

«Com esta medicina preventiva e pró-ativa, podemos abrandar o envelhecimento e reverter muitos dos seus sinais. E um dia, que está próximo, o envelhecimento será completamente evitável», refere Luís Romariz, um dos primeiros médicos a implementar a medicina anti-aging em Portugal.

 O que é a medicina preventiva?

A medicina preventiva, integrada na medicina anti-aging, avalia e deteta desequilíbrios, disfunções, fatores de risco e estilos de vida prejudiciais à saúde e ao bem-estar e indutores do envelhecimento prematuro. O objetivo é a implementação de um plano de saúde personalizado que, através de terapêuticas adequadas, da atividade física e da alimentação funcional adaptada, permita corrigir e melhorar o estilo de vida, prevenir doenças e melhorar a condição física e emocional.

O grande desafio é precisamente esse, transformar o nosso estilo de vida. «Foram os desvios dos estilos de vida que nos levaram ao caos das doenças ditas da civilização, como a obesidade, a diabetes, as doenças cardiovasculares, o acidente vascular cerebral e o cancro. A medicina anti-aging repõe os parâmetros da fábrica», diz Luís Romariz.

Quatro pilares da medicina preventiva

1. Check-up

A avaliação médica é, à semelhança da medicina tradicional, uma das primeiras fases do processo. O check-up nos programas anti-aging
inclui testes bioquímicos que permitem detetar sinais antes que as
doenças se manifestem.

«Trata-se de uma prevenção primária que procura
os fatores responsáveis pelo descontrolo celular que dá lugar à doença»,
explica Manuela Figini, médica especialista em medicina anti-aging.

O
estudo das intolerâncias alimentares, que identifica os alimentos que
provocam reações de intolerância (enxaquecas, alterações intestinais) e o perfil vitamínico, que indica as vitaminas que estão em falta no
organismo, realizados através de análises sanguíneas, são exemplos de
testes que pode fazer.

2. Nutrição

A consulta de nutrição analisa os padrões alimentares com o
objetivo de definir hábitos alimentares que previnam doenças e que
ajudem a retardar o envelhecimento. «Uma alimentação inadequada, além de
estar associada a várias doenças, é responsável pelo envelhecimento
precoce das células do organismo», sublinha Joana Malta da Costa,
nutricionista. Através da análise de parâmetros como a história clínica,
a evolução do peso, o estilo de vida e os hábitos alimentares, e a
partir dos resultados obtidos no estudo bioquímico, é elaborado um plano
personalizado que otimize o equilíbrio físico e emocional.

3. Exercício físico

Na medicina anti-aging, o exercício físico é adaptado às nossas
características físicas, necessidades, objetivos e preferências. Sofia
Gouveia, personal trainer, explica-nos que «através das avaliações da
composição corporal, da aptidão física e da avaliação postural,
prescreve-se o exercício mais adequado». A avaliação biofísica permite
avaliar a nossa condição física, através de dados como o índice de massa
corporal, massa muscular, massa intracelular e extra celular, taxa
metabólica basal e distribuição de gordura corporal e adequar o plano
alimentar e o plano de treino, com base nos parâmetros registados.

4. Gestão emocional

«Aprender a reconhecer e a gerir as emoções
representa um dos
principais meios de
manter a nossa saúde»,
alerta João Paulo Pestana,
psicólogo clínico. «Estados
emocionais como o stress,
a ansiedade ou a depressão
têm repercussões
negativas nos principais
órgãos, alteram o
metabolismo e aumentam
a probabilidade de morte
prematura», revela
o especialista. A medicina preventiva
recomenda terapias
alternativas como a
meditação, a técnica
da visualização (fechar
os olhos e imaginar um
cenário agradável) e a
acupunctura, que permite
reequilibrar as energias.

 Maus hábitos que nos envelhecem

- Alimentação incorreta

Uma má alimentação contribui para o envelhecimento do organismo. Para contrariar esta situação, reduza a ingestão de alimentos ricos em gorduras de má qualidade (manteiga, natas, bolachas) e açúcar, ingira mais cereais integrais, frutos e vegetais, prefira peixe e carnes brancas e magras e métodos de confeção mais saudáveis como cozidos e assados.

- Sedentarismo

É um dos grandes problemas das sociedades de hoje. Para ter uma vida mais ativa, pratique exercício físico regularmente, durante 30 minutos por dia. Procure aliar um treino cardiovascular (caminhada, jogging) a um de força (com halteres) e, se possível, com outro benéfico para a mente. Yoga, pilates e tai-chi são boa opções.

- Tabagismo

Fumar faz mal e não apenas aos pulmões. A acupuntura e uma dieta apropriada podem ajudar a eliminar este mau hábito mas consciencializar-se de que fumar tem consequências demasiado graves é a estratégia número um.

- Stress crónico

O stress é um dos maiores inimigos dos trabalhadores de hoje. Adote um estilo de vida mais equilibrado, com alimentação adequada, exercício físico regular e aprenda a gerir o stress e as emoções. Ter um sono reparador e férias ao longo do ano também ajuda.

Porque envelhecemos?

Os radicais livres são o principal fator de envelhecimento. Quando se é jovem, existem mecanismos muito potentes que mantêm sob controlo os radicais livres (moléculas instáveis que geramos ao respirar e que afetam as moléculas estruturais de todas as células do nosso corpo). São os chamados antioxidantes endógenos.

Mas, com o passar do tempo, há uma redução desses antioxidantes e um consequente aumento dos radicais livres que nos envelhecem progressivamente. «O nosso limite conhecido está nos 120 anos, mas, em breve, poderemos aspirar a muito mais, com saúde. Quando controlarmos totalmente os telómeros, o limite será impensável», refere Luís Romariz, especialista em medicina anti-aging.

Quando marcar uma consulta de medicina preventiva?

Para recorrer à consulta de medicina preventiva não precisa de ter qualquer sintoma ou indisposição física. Pelo contrário, destina-se a pessoas saudáveis. Os especialistas recomendam agendar a primeira consulta aos 35 anos. «É a partir dessa idade que se começam a notar os prejuízos do envelhecimento que se iniciam aos 25/30 anos de idade», refere o especialista Luís Romariz.

Texto: Sofia Cardoso com Joana Malta da Costa (nutricionista), João Paulo Pestana (psicólogo clínico), Manuela Figini (médica especialista em medicina anti-aging), Sofia Gouveia (personal trainer) e Luís Romariz (médico pioneiro da medicina anti-aging em Portugal)