O aparecimento destes sintomas pode indicar o desenvolvimento de uma catarata. Convém consultar um oftalmologista de modo a saber se é recomendável ser submetido à cirurgia de catarata para melhorar a qualidade da visão.
A escolha do tipo de técnica cirúrgica é uma decisão que compete ao oſtalmologista, após uma conversa de esclarecimento com o doente, que deverá compreender todo o procedimento que envolve ser submetido a uma cirurgia. Para tomar a decisão de se submeter a uma cirurgia é importante esclarecer todas as dúvidas.
Deixamos algumas questões que o ajudarão a perceber os vários tipos e causas de cataratas, para que possa tomar a sua decisão.
Quais são as causas da catarata?
O olho humano funciona como uma máquina fotográfica. Os raios visuais são focados pelo cristalino na retina, a camada de fotorecetores que funciona como o filme da câmara fotográfica, no fundo do olho. No olho normal, os raios luminosos passam através do cristalino transparente e são focados na retina, o que dará origem a uma imagem clara e brilhante.
Com o avançar da idade, o cristalino continua a crescer, adicionando camadas às existentes na superfície. Com o evoluir do tempo, o cristalino endurece e perde transparência, o que resulta numa visão turva ou imperfeita.
Nesta situação clínica, a catarata está relacionada com a idade. É um processo normal e que, mais tarde ou mais cedo, ocorre em todas as pessoas.
Se o processo de formação da catarata afeta apenas uma pequena área do cristalino e se não é central, a sua visão pode não ser atingida ou grandemente perturbada. Se, pelo contrário, o processo é severo, atinge a zona central ou todo o cristalino, a sua visão é fortemente afetada.
Ainda que a catarata ocorra usualmente em ambos os olhos, raramente se desenvolve ao mesmo tempo em ambos os olhos.
Quais serão as outras causas de catarata?
Há outros tipos menos comuns de cataratas e que não estão relacionadas com o envelhecimento:
- Catarata congénita: Ocorre nas crianças e pode ser hereditária ou devida a traumatismos do parto. Algumas ocorrem sem qualquer causa óbvia.
- Catarata secundária: É causada por doenças ou cirurgia prévia aos olhos. A formação de cataratas secundárias pode ser acelerada por doenças crónicas, como a diabetes ou o uso excessivo de esteróides.
- Catarata traumática: A causa é um traumatismo ocular. O seu aparecimento pode surgir imediatamente após o traumatismo ou desenvolver-se lentamente meses ou anos após o acidente.
Quais são os sintomas das cataratas?
Os doentes com cataratas podem apresentar um ou alguns dos seguintes sintomas:
Sensibilidade à luz ou deslumbramento, especialmente à luz solar intensa ou aos faróis dos outros carros ao conduzir; Redução da noção de profundidade; Aumento das dificuldades de leitura, o que requer múltiplas mudanças de óculos;
Perda das cores vivas; Distorção ou imagens fantasma; Turvação ou escurecimento das imagens; Diminuição da acuidade visual.
Como se faz o diagnóstico de uma catarata?
O uso de uma lâmpada de fenda ou um biomicroscópio permite ao oſtalmologista o exame tridimensional e magnificado do cristalino. Através do exame biomicroscópico pode-se detetar a presença da catarata, assim como qualquer outra doença que provoque uma acuidade visual turva ou desconforto ocular.
Após o diagnóstico de uma catarata e para se analisar e preparar a intervenção cirúrgica, é necessário efetuar alguns exames complementares, nomeadamente: Topografia corneana; Microscopia especular; Biometria com cálculo da potência da lente intraocular; Ecografia ocular.
Quando se deve efetuar a cirurgia de catarata?
Antigamente, existia o conceito de que só se devia operar a catarata quando o doente já não visse nada. Hoje, se a visão estiver um pouco turva e perturbar as atividades diárias, deve considerar-se a possibilidade de cirurgia. A cirurgia é o único meio para remover a catarata. Nenhum outro tratamento pode remover a catarata, quer sejam gotas, exercícios ou óculos. Refira-se também que nenhum tratamento, gotas ou óculos, irá influenciar a evolução da catarata. Esta irá aumentar de acordo com uma evolução própria que varia de pessoa para pessoa.
A cirurgia à catarata deve ser efetuada por um oftalmologista com experiência cirúrgica.
A técnica de laser representa um passo inovador e qualitativo para os doentes e consiste na utilização de um equipamento de vanguarda, o Femtofaco LenSX, com elevados índices de segurança e precisão . Após a remoção da catarata, independentemente da técnica, é implantada ou colocada uma lente intra-ocular no espaço da catarata. Esta nova lente intra-ocular vai permitir a focagem do feixe luminoso na retina. A lente intra-ocular vai tornar-se parte permanente do olho, ao contrário das lentes de contacto que são retiradas e colocadas diariamente.
Na maior parte dos casos, é colocada a lente intra-ocular (LIO) no saco capsular, tratando-se assim de uma LIO posterior. Se a técnica utilizada for a focoemulsificação, usa-se uma lente desdobrável, que entra enrolada e só se abre dentro do olho. Se, pelo contrário, a LIO é colocada à frente da íris ou na câmara anterior, chama-se LIO de câmara anterior.
Por último, só em alguns casos é preciso suturar a incisão, pois se a técnica for facoemulsificação e se usar uma LIO desdobrável, não é preciso suturar (dar pontos).
Quais são os cuidados pré-operatórios?
Como já foi referido, é necessário realizar alguns exames antes da operação para definição de qual a técnica, tipo de LIO ou cuidados a ter.
Algumas recomendações serão feitas ao doente pelo cirurgião, como ir para a clínica em jejum ou comer até uma determinada hora. Na clínica ser-lhe-ão colocadas gotas antes da intervenção cirúrgica.
Quanto tempo fica internado?
Hoje em dia, a cirurgia de catarata não precisa de vários dias de internamento. A cirurgia de catarata é um procedimento cirúrgico que pode ser efetuado em regime ambulatório ou com internamento de curta duração (24 horas) conforme o tipo de doente ou a técnica que se usa. Com as técnicas atuais, o doente pode retomar logo de seguida a sua atividade diária.
Qual é o processo de recuperação?
O atual procedimento permite que não haja necessidade de tapar o olho operado, devendo somente repousar com tranquilidade e depois regressar a casa. Esta tranquilidade é essencial para evitar complicações, nomeadamente hemorragias, infeções ou outro tipo de problemas.
Alguns outros cuidados a ter são os seguintes: Aplicar as gotas prescritas corretamente; Esperar 3 a 5 minutos entre cada tipo de gotas; Não esfregar ou pressionar o olho; Não executar tarefas perigosas enquanto recupera a visão; Não recomeçar atividades intensas sem autorização do oſtalmologista.
É necessário usar óculos depois da cirurgia?
Os doentes que usavam lentes bifocais/progressivas ou somente lentes para perto vão continuar a precisar de, pelo menos, óculos para perto, ainda que hoje já haja lentes intra-oculares progressivas/multifocais e, em alguns casos, possam ser implantadas.
Quais os riscos de complicações?
Como em qualquer cirurgia, um bom resultado não pode ser garantido por ninguém. Mas é importante referir que cerca de 95 a 97% das cirurgias decorrem sem qualquer tipo de complicações. Ainda que raras, as complicações podem ocorrer durante ou após a cirurgia, impondo algumas limitações visuais.
O que acontece se não for operado?
Com algumas exceções, a presença da catarata vai evoluir sem que se possa modificar a sua progressão com a respetiva perda de visão. Contudo, a espera, ainda que não coloque em risco a recuperação da visão, vai colocar alguns problemas de técnica motivado pelo endurecimento da catarata.
Por Eugénio Leite, Médico Oftalmologista e diretor das Clínicas Leite
Comentários