A resistência aos antibióticos advém da capacidade de as bactérias combaterem a ação de um ou mais antibióticos. Os humanos e os animais não se tornam resistentes aos tratamentos com antibióticos, mas sim as bactérias de que somos portadores. O que acontece é que as bactérias desenvolvem resistência aos antibióticos como uma reação adaptativa natural. Nos hospitais, as bactérias podem ser transmitidas a outros doentes a partir das mãos ou objetos contaminados.
Os mais recentes dados apresentados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa), no âmbito do Dia Europeu do Antibiótico, que se assinala a 18 de novembro, referem que uma em cada três bactérias que estão na origem de infeções nos hospitais europeus é resistente a antibióticos. A mesma instituição refere que se estima em 33000 o número de cidadãos europeus que morre anualmente com infeções por bactérias resistentes.
Aumentar a consciencialização sobre a ameaça global da resistência aos antibióticos nos cuidados de saúde é fundamental. Só com o contributo de todos os intervenientes (profissionais de saúde, utentes, decisores) atuando concertadamente no sentido da prevenção da infeção e uso adequado dos antibióticos será possível limitar o surgimento de bactérias multirresistentes.
Para a prossecução destes objetivos é essencial melhorarmos a capacidade de diagnosticar as infeções rapidamente e distinguirmos as que são causadas por bactérias (que poderão necessitar de antibiótico) das que são víricas e como tal sem necessidade de tratamento com antibióticos.
Para além disso, os testes de diagnóstico microbiológico têm evoluído e permitem identificar cada vez mais precocemente a bactéria que causa a infecção e a sua sensibilidade aos diferentes antibióticos. Com estes dados e com a ajuda das equipas dos Programas de Apoio à Prescrição de Antibióticos, obrigatórias em todas as instituições de saúde portuguesas desde 2014, os médicos podem ajustar o tratamento da infecção de cada doente reduzindo o espectro dos antibióticos usados, de modo a diminuir o dano que os antibióticos de mais largo espectro causam, nomeadamente o risco de se desenvolverem bactérias resistentes que poderão mais tarde vir a causar infeções graves e difíceis de tratar, no mesmo individuo ou noutro a quem possam ser transmitidas.
Os testes de diagnóstico mais inovadores podem também ser usados para caracterizar e monitorizar pormenorizadamente agentes infeciosos, tendências de resistência e episódios de transmissão, como forma de vigilância fundamental para ajudar a controlar e limitar a disseminação e o surgimento de bactérias resistentes.
O uso prudente do antibiótico combinado com as melhores práticas de prevenção, diagnóstico e controlo de infecção são essenciais para travar o aumento das resistências das bactérias que, se nada for feito, conduzirá o mundo a uma nova era, a era pós-antibiótico, em que a infecção bacteriana intratável voltará a ser uma das principais causas de morte!
Um artigo do médico Carlos Alves, coordenador da Unidade de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (UPCIRA) do Centro Hospitalar Universitário de São João.
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