De quanto em quanto tempo e a que horas?» Esta é uma das perguntas que os doentes fazem frequentemente aos seus médicos quando estes lhes prescrevem um fármaco.
Isto se forem à consulta, porque, se não forem, perguntam ao farmacêutico ou lêem a bula do fármaco, na secção “posologia”, e automedicam-se, uma decisão que pode envolver risco, sendo por isso desaconselhada.
A toma de medicação é algo complexo: depende de muitos factores e de cada paciente. Cada medicamento tem as suas próprias características bioquímicas que indicam quantas vezes deve ser tomado para ser eficaz.
Assim, há antibióticos que se administram uma só vez e outros que precisam de um maior número de doses diárias. Mas a eficácia depende também de cada doente.
Por isso, há que entender como o corpo reage perante um fármaco em condições normais para poder compreender como o faria em caso de certas doenças como, por exemplo, uma insuficiência cardíaca.
Da boca ao estômago
Quando tomamos um fármaco, a primeira coisa que este faz é atravessar a barreira do tubo digestivo. Aqui, dissolve-se nos sucos gastrointestinais e, depois, é absorvido. Esta absorção depende das condições do estômago, como o pH da sua mucosa, os possíveis problemas na sua capacidade de esvaziamento ou a presença de comida.
Do estômago ao sangue
Depois o fármaco chega ao sangue, que se encarregará de o distribuir por todo o organismo. Nesta fase, une-se a proteínas sanguíneas específicas, sendo «bloqueado» e perdendo parte da sua eficácia. Esta união ocorre numa proporção variável, de maneira que existe uma certa percentagem do medicamento que fica livre no sangue e esta é a fracção verdadeiramente activa.
O que significa tudo isto? Que se a união com essas proteínas mudar, o mesmo vai acontecer com a capacidade de acção do fármaco. Algo que aconteceria em situações de escassa quantidade de proteínas no sangue – como uma hepatopatia crónica grave –, que aumenta a fracção livre activa, pelo que uma dose habitual de um medicamento, neste caso, pode ser tóxica.
Do sangue às células
Uma vez que o fármaco sai dos capilares sanguíneos, distribui-se pelos diferentes tecidos e entra nas células, fazendo o seu efeito. A sua excreção também é importante, tanto que em certas ocasiões pode determinar mudanças na sua administração. Neste sentido, a função renal é a mais importante, seguida da hepática.
Por isso, em caso de insuficiência renal ou hepática, existe um maior risco de toxicidade farmacológica, porque o medicamento não é eliminado adequadamente, mas acumula-se e exerce a sua acção durante mais tempo. Nestas situações, o médico deverá diminuir a dose de alguns medicamentos.
São compatíveis uns com os outros?
É outra das dúvidas mais frequentes. Aqui, o problema reside no facto de existir uma série de interacções entre fármacos que podem modificar os seus efeitos, quer seja aumentando ou diminuindo-os. Por isso, alguns podem tornar-se ineficazes ou tóxicos se forem tomados juntamente com outros.
Há que prestar especial atenção aos antiepilépticos, anticoagulantes, antidepressivos, ansiolíticos, antiarrítmicos, digoxina, corticosteróides, tratamentos hormonais e anovulatórios orais (pílula).
No caso de tratamentos a longo prazo para uma doença crónica, esta pode ver-se afectada pela administração de um novo fármaco. Por isso, é imprescindível que seja o médico a prescrever e supervisionar cada novo tratamento.
A que horas se devem tomar?
O momento do dia a que se deve tomar um fármaco depende também do tempo que o organismo leva a metabolizá-lo. Mas, aqui, o mais importante é que o tratamento seja fácil de cumprir.
Por exemplo, os fármacos que se tomam uma vez ao dia podem ser administrados de manhã ou à noite, para que se transforme numa rotina fácil. Mas em tratamentos com diferentes fármacos ao mesmo tempo, o mais certo é tomá-los ao longo do dia.
Alguns medicamentos devem ser administrados depois ou durante as refeições, precisamente, os mais tóxicos para o estômago, como o ácido acetilsalicílico ou outros anti-inflamatórios. Lembre-se sempre que a relação da toma de fármacos durante as refeições depende de três factores:
1. A absorção gástrica do fármaco.
2. A toxicidade que implica para o estômago.
3. A existência de qualquer patologia ulcerosa ou alterações na mucosa.
Estes cinco conselhos podem fazer a diferença. Siga-os:
1. Não se automedique, muito menos com fármacos que precisem de receita médica.
2. Guarde os fármacos fora do alcance das crianças, num local fresco, seco e protegido da luz.
3. Assegure-se que sabe as horas a que deve tomar cada medicamento.
4. Respeite sempre a duração do tratamento prescrito; não o abandone antes do tempo nem o prolongue por sua conta.
5. Guarde a bula na embalagem correspondente, leia-a com atenção e consulte o seu médico se tiver alguma dúvida.
Texto: Madalena Alçada Baptista com Eugénia Isidoro ( médica na British Hospital Lisbon XXI)
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