Dizem os especialistas que os homens se consideram uns verdadeiros super-heróis. Como se tivessem um escudo que não permitisse a entrada de vírus, de bactérias e o aparecimento de doenças.

O papel de patriarca que muitos homens ainda assumem não deixa tempo para as preocupações com a saúde. O problema começa quando se adiam os rastreios e as idas ao médico, um comportamento muito comum nos indivíduos do sexo masculino.

A saber viver marcou presença no XI Simpósio organizado pela Associação Portuguesa de Urologia (APU), realizado no Algarve, e dá-lhe a conhecer as doenças urológicas mais frequentes no sexo masculino e como vigiá-las. «Os homens ficam doentes. São seres tão frágeis como as mulheres, as crianças e os idosos», afirma Ronaldo Damião, professor de urologia no Rio de Janeiro. Este é o verdadeiro ponto de partida. Ganhar consciência de que a saúde não é um dado adquirido e de que todos, sem excepção, devem apostar na prevenção.

Ao contrário do que acontece com a mulher que, «desde o início da sua vida sexual, é habituada a fazer a sua vigilância ginecológica, o homem começa mais tarde a realizar o seu check-up anual, a partir dos 50 anos, sobretudo no que respeita às doenças da próstata», reforça Ronaldo Damião. De facto, muitos homens vão à consulta de urologia porque a parceira está preocupada e insistiu.

O papel da mulher

«As mulheres são mais cuidadosas com a saúde, acabam por ser importantes para ajudar a detectar problemas e alertar para algo que esteja menos bem com os seus companheiros. Muitas vezes, preocupam-se mais com a saúde do marido e dos filhos do que com elas próprias», afirma Margarida Casola, urologista. Os homens têm também algum pudor em falar destes assuntos com os médicos e são as parceiras que ajudam a ultrapassar esse receio.

No Brasil, é frequente que os homens apareçam em consultas marcadas pelas mulheres. «Normalmente, elas até os acompanham porque querem participar nessa fase da vida. Também é muito comum que elas falem mais do que os companheiros», salienta Ronaldo Damião. Até na intimidade o papel feminino pode ser importante, porque, como exemplifica Lafuente Carvalho, «a prática sexual não deve ser realizada de luz totalmente apagada para que a mulher possa examinar o pénis do companheiro e verificar alguma alteração».

Principais patologias

As doenças urológicas são muito
comuns no sexo masculino sobretudo pela elevada incidência de problemas
da próstata, mas não é exemplo único. Dados da Associação Portuguesa de
Urologia (APU) mostram que aproximadamente uma em cada 100 pessoas
desenvolve cálculos urinários ao longo da vida, mas cerca de 80 por
cento destas pessoas elimina-os espontaneamente.

O carcinoma da bexiga é um dos tumores malignos mais frequentes, cerca de três vezes mais prevalente no homem do que na mulher. «O factor de risco mais importante é o tabagismo, embora exista uma tendência familiar», diz Paulo Corceiro, assistente hospitalar em Urologia. A presença de sangue na urina é o primeiro sinal de alerta e, como refere o médico, «pode aparecer isolado ou acompanhado de outros sintomas, nomeadamente ardor e aumento da frequência miccional. Em certos casos, a doença evolui sem sintomas», refere ainda.

O pior receio

A próstata é uma glândula do tamanho de uma castanha e que faz parte do aparelho reprodutor masculino. Localiza-se à frente do recto, abaixo da bexiga e envolve a uretra. O cancro da próstata é o mais frequente, representando a segunda causa de morte por cancro no homem.

«São diagnosticados cerca de 3000 a 4000 novos casos de cancro da próstata em Portugal, por ano. O diagnóstico precoce da doença tem vindo a aumentar embora as estatísticas sejam ainda preocupantes», salienta Tomé Lopes, urologista e presidente da APU.

Numa fase inicial, esta doença pode não apresentar sintomas e, quando surgem, podem ser «comuns a outras patologias tais como a hiperplasia benigna da próstata. Estes sintomas podem ser a dificuldade em urinar, a necessidade de urinar frequentemente durante a noite, micções dolorosas, a urgência miccional, desconforto ou dor pélvica, mas também disfunção eréctil ou ejaculação dolorosa», refere o urologista António Augusto J. Patrício.

Falso alarme

A hiperplasia benigna da próstata (HBP) não é uma consequência do cancro
da próstata. «Esta doença corresponde ao aumento da zona da próstata
que envolve a uretra (zona de transição). A sua incidência aumenta com a
idade, afectando de forma sintomática aproximadamente 25 por cento dos
homens com idade superior a 40 anos e um em cada três homens com mais de
65 anos», define a APU.

Contudo, «se a doença não for devidamente acompanhada, pode causar
problemas graves no futuro, nomeadamente a retenção urinária, as infeções urinárias,
a litíase vesical (acumulação de pedras na bexiga), as lesões na bexiga, nos
rins e a incontinência urinária» pode ler-se no site da APU. Como
detectá-la? É mais fácil do que parece, como explica Ronaldo Damião.
«Avaliar o PSA (Antigénio Específico da Próstata) e realizar o toque
rectal é fundamental. Felizmente, os homens já estão a perceber que
estes exames são muito importantes», sublinha.

Ir ao médico

Quando?

É importante que o homem voluntariamente vá ao médico para realizar a vigilância.

«A partir dos 50 anos, preconiza-se a realização do diagnóstico precoce das doenças da próstata. Em caso de história familiar, a procura de especialidade deve ser mais precoce», afirma Tomé Lopes.

«Se o pai teve cancro da próstata, um homem tem cinco vezes mais possibilidades de vir a sofrer da doença», salienta.

Onde?

«Qualquer médico de medicina geral está sensibilizado para a importância da vigilância precoce. A base está na prevenção, não na cirurgia», explica Isabel Martins, médica de medicina geral e familiar. Os homens podem consultar diretamente um urologista, se o entenderem, contudo o médico de família pode encaminhá-los para um especialista sempre que haja suspeita de patologia.

O quê?

O médico de medicina geral e familiar pode avaliar o PSA e seguir o historial clínico da pessoa. Na consulta de urologia, é sempre realizado o toque rectal. «O PSA e o toque rectal são exames que se complementam», acrescenta Tomé Lopes.

Com que frequência?

Todos os homens devem vigiar a próstata uma vez por ano. Estes são os exames associados ao diagnóstico de doenças urológicas a que podem recorrer:

- Toque rectal
É um exame que possibilita a palpação da próstata e que permite fornecer informações ao médico urologista sobre o volume e a consistência da mesma. É um exame fácil, rápido e indolor.

- Cistoscopia

Exame endoscópico para observar o interior da bexiga.

- Ecografia vesical
Exame de imagem que permite avaliar a bexiga.

- PSA
Análise ao sangue que doseia uma substância libertada pela próstata para a corrente sanguínea, mas que deve ser complementada pelo toque rectal. A evolução do PSA é o principal indicador para recorrer à biopsia prostática.

- Biópsia prostática

Recolha de pequenos cilindros de tecido prostático para análise ao microscópio e assim identificar a presença de células malignas. É realizada sob anestesia local.

- Ultrassonografia Transrectal
Permite determinar o volume da próstata e levantar a suspeita de cancro da próstata.

Texto: Cláudia Pinto com António Augusto J. Patrício, Lafuente Carvalho, Margarida Casola, Miguel Guimarães, Paulo Corceiro, Ronaldo Damião e Rui Breu (urologistas) e Isabel Martins (médica de medicina geral e familiar)