Doença Pulmonar Obstrutica Crónica, vulgo DPOC. Uma patologia muito comum, mas, estranhamente, ainda muito desconhecida. E, mais preocupante, muito subdiagnosticada. Enquanto médicos especialista em pneumologia, sempre foi algo que me preocupou o facto de me chegarem ao serviço doentes já com a DPOC num estado avançado, já com excerbações da doença e sintomas de falta de ar difíceis de ignorar. E admito dificuldade em compreender como é que uma doença que afecta 70% dos fumadores permanece desconhecida.
A DPOC é uma patologia respiratória crónica, que se caracteriza pela diminuição do fluxo de ar nas vias aéreas. Cerca de 7 em cada 10 doentes (73%) sentem dificuldade em respirar, no mínimo, 2 vezes por semana e mais de metade acordam à noite com tosse, pieira ou dificuldade em respirar, em média, 2 vezes por semana. Estes são os principais sinais de uma doença insidiosa, que se vai desenvolvendo sem, muitas vezes, que os doentes se apercebam.
Em todo o mundo, estima-se que 384 milhões de pessoas tenham DPOC – falamos de, potencialmente, 800 mil doentes em Portugal
Em todo o mundo, estima-se que 384 milhões de pessoas tenham DPOC – falamos de, potencialmente, 800 mil doentes em Portugal. Estamos a falar de uma prevalência estimada de 14.2% nos indivíduos adultos com mais de 40 anos de idade no nosso país. No entanto, a taxa de sub-diagnóstico estimada está nos 86,6%. É certo que muitos doentes têm a doença respiratória crónica disgnosticada – como uma bronquite, ou um efisema – mas apenas 9.3% dos doentes em Portugal que se considera terem DPOC foram diagnosticados com uma espirometria.
Estes são números que me assustam. Sobretudo porque tenho bem conhecimento de que do sub-diagnóstico resulta a falta de tratamento – doentes mal controlados e com exacerbações. Por exacerbação entende-se um agravamento súbito dos sintomas diários, como um aumento da sensação de falta de ar, da tosse e da produção de muco, que pode levar a um internamento hospitalar de urgência, em alguns casos. Todas as exacerbações deixam sequelas na perda de capacidade pulmonar que são irreversíveis.
É preciso que os fumadores cessem o hábito tabágico e vigiem a saúde dos seus pulmões. É preciso estar alerta
É aqui que é preciso chamar a atenção para as consequências da DPOC. Os custos directos associados a esta doença em Portugal ascendem a 366 milhões de euros, e os custos totais a 715 milhões de euros. E é isto que é preciso ter em conta – além dos elevados custos para o Serviço Nacional de Saúde, em consultas, internamentos, tratamentos, a DPOC acarreta custos pessoais para os doentes e para a sociedade em perda de produtividade, absentismo, presentismo. De fal forma que 40% dos doentes chegam a reformar-se antecipadamente.
É preciso alertar toda a sociedade para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. É preciso que os fumadores cessem o hábito tabágico e vigiem a saúde dos seus pulmões. É preciso estar alerta.
Um artigo do Prof. José Agostinho Marques, diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospital de S.João (Porto).
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