Este tipo de dor é causada por uma lesão, ou alteração do funcionamento normal dos nervos periféricos, que transmitem sensações de dor ao cérebro, como sensação de queimadura, formigueiro ou picadas.
Entrevistámos a coordenadora da Unidade da Dor, do Hospital Amadora Sintra, Georgina Coucelo, que nos dá a conhecer os sintomas, o diagnóstico as formas de tratamento para esta doença, em Portugal.
Quais são os sintomas e como se diagnostica?
«Os descritores mais comuns de dor neuropática periférica são um pouco bizarros e, muitas vezes, os doentes, não sabem que o que sentem é um tipo de dor. A sua dor é real e tem um nome foi o slogan encontrado para transmitir aos doentes que sensações como queimadura, formigueiro, picadas, dormência, comichão e choque eléctrico no território atingido são sintomas de dor neuropática», explica Georgina Coucelo.
«Daí que o médico tenha de fazer uma abordagem dirigida para a procura destas queixas. O diagnóstico além de ser feito por o doente apresentar doenças que se acompanham de dor neuropática periférica é completado por um exame do doente em que se podem identificar alterações da sensibilidade nos territórios afectados. Exemplos de doenças são as neuropatias dolorosas, como a diabetes, ciática, neuropatias pós-cirurgias ou traumatismos, a infecção por herpes zoster, conhecida por zona, e sequelas de alguns medicamentos de quimioterapia e radioterapia usados no tratamento do cancro», refere a especialista.
Quem afecta?
«Atinge igualmente homens e mulheres, embora haja grupos de risco: alguns portadores de doenças crónicas, os idosos, e doentes com imunidade diminuída devido a doença ou tratamentos. Em Portugal, por extrapolacção da avaliação de outros países, surge em cerca de 7 a 8%, dos doentes com dor crónica», esclarece.
Qual o peso da mente na dor?
Segundo a especialista, «o que acontece é que a dor persistente pelo mal-estar e sofrimento que provoca leva a que muitos dos doentes fiquem limitados nas suas actividades, se isolem, se tornem ansiosos e deprimidos e com alterações do sono. Nestes casos, os doentes estão mais fragilizados e as queixas são mais exuberantes. Por isso temos a preocupação de avaliar a parte física e emocional como um todo, pois são indissociáveis no adoecer».
Como se trata?
«A dor neuropática tem como tratamento de primeira linha medicamentos do grupo dos antidepressivos e antiepilépticos, a que se associam os analgésicos, consoante necessário a cada doente. Contudo, estes medicamentos, pelos seus efeitos secundários, nem sempre podem ser utilizados com segurança, particularmente nos idosos. Recentemente, surgiram fármacos, absorvidos através da pele, incorporados em adesivos, que actuam no local afectado, e são praticamente isentos de efeitos secundários indesejáveis. Um deles contém um anestésico local e pode ser usado em ambulatório», salienta.
«No último ano e reservado a uso hospitalar, reformulou-se um medicamento, derivado do piri-piri, a capsaícina a 8%, que se tem revelado muito útil no tratamento de alguns tipos de dor neuropática periférica. Na maior parte dos doentes em que utilizámos este tratamento houve significativa redução da dor; alguns pararam a medicação que faziam e muitos reduziram-na significativamente, pelo que se tem revelado um tratamento muito promissor», conclui.
Texto: Joana Martinho com Georgina Coucelo (coordenadora da Unidade da Dor do Hospital Amadora-Sintra)
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