Segundo a Organização Mundial da Saude (OMS), a dor, no seu geral, é uma “experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só um componente sensorial, mas também um componente emocional, e que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial ou é descrita em função dessa tal lesão”.
A definição de dor neuropática foi introduzida pela IASP (International Association for the Study of Pain), definida como "dor iniciada ou causada por uma lesão primária ou disfunção no sistema nervoso", revista mais recentemente como: "dor que se origina em consequência de uma lesão ou doença afetando o sistema nervoso central central e/ou periférico".
A dor neuropática tem início numa lesão nas vias nervosas de transmissão nervosa e pode originar dor longe do local da lesão. Por exemplo: a dor no membro inferior causada por uma lesão na coluna vertebral: a lombociatalgia ou dor ciática.
Impacto na qualidade de vida
Tem um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes, uma vez que esta dor é muitas vezes desproporcionada à extensão da lesão que a causou. Portanto, é de vital importância tratá-la da forma mais eficaz e o mais precocemente possível, com o objetivo de minorar o sofrimentos dos doentes e de lhes proporcionar uma melhoria da qualidade de vida, nomeadamente a sua qualidade de sono, a sua vida de relação e as suas capacidades profissionais.
Os dados de incidência da dor neuropática são de extrema importância pelo impacto que têm nos custos, diretos e indiretos, dos cuidados de saúde. Por apresentarem maior intensidade da dor, estes doentes utilizam mais recursos de saúde, quer na maior procura de consultas médicas, quer pela maior obtenção de prescrições terapêuticas, sem que destes factos resulte uma redução significativa da intensidade da dor.
Além de tudo isto, a dor neuropática dificilmente é diagnosticada e, assim, não é corretamente tratada.
O diagnóstico é clínico, feito pela descrição que o doente faz dos seus sintomas, que nem ele próprio reconhece como dor, os chamados descritores verbais: queimadura, ardor, choque eléctrico, frio doloroso, espetadelas ou picadas, formigueiros ou dormência, e, também, pelo exame objetivo do doente.
Todos os médicos devem possuir um conhecimento preciso das boas práticas no diagnóstico e tratamento da dor neuropática, cuja metodologia passa por reconhecer a natureza complexa deste tipo de dor, utilizar ferramentas de diagnóstico adequadas e identificar a causa. Devem conhecer a farmacologia da dor neuropática, para garantir a eficácia terapêutica em critérios de racionalidade, já que a dor neuropática tem uma resposta fraca aos analgésicos convencionais: AINEs e paracetamol.
O tratamento da dor neuropática é feito com medicamentos que não sendo propriamente analgésicos atuam sobre a membrana dos nervos lesados e diminuem a excitabilidade nervosa, responsável pelos sintomas típicos desta dor. Os medicamentos usados são do grupo dos anti depressivos e dos anti epilépticos, além de analgésicos de efeito central.
Nos últimos anos tem-se vindo a assistir a um aumento da investigação da dor neuropática e atualmente temos ao nosso dispor vários tratamentos, entre os quais os fármacos de aplicação sobre a pele no território do nervo afetado como é o caso do patch de lidocaína de aplicação diária por um período de tempo nunca inferior a dois meses ou então, outro medicamento tópico inovador à base de capsaícina, um principio ativo da malagueta que expele os transmissores dolorosos da zona afetada, hiper estimulando os nervos recetores responsáveis pela propagação da dor até ao sistema nervoso central.
Esta aplicação é feita em ambiente hospitalar nas Unidades de Dor Crónica, durante meia a uma hora e basta uma aplicação a cada três meses para se ter um bom controlo da dor, na ordem dos 30 a 50% de redução. É um tratamento não invasivo com efeitos secundários mínimos.
Uma boa imagem para que o doente perceba a etiologia da sua dor é: o nervo lesado é como um fio eléctrico descarnado que está sempre a provocar curto- circuitos.
Por Maria Carlos Cativo, Médica Anestesiologista
Assistente sénior de Anestesiologia, com competência em Medicina da Dor, Pós- Graduação em Cuidados Paliativos
Coordenadora da Unidade de Dor Crónica e Coordenadora da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de entre Douro e Vouga
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