Uma das razões mais frequentemente apontadas para este fenómeno está relacionada com  o aumento da esperança média de vida da população que conduz, inevitavelmente, a que tenhamos maior número de idosos com questões relacionadas com o envelhecimento normal, mas também cada vez mais idosos com problemas demenciais, exigindo da parte dos serviços respostas diferenciadas e específicas.

A prevalência destes problemas nos idosos representa um desafio social, na medida em que o diagnóstico assertivo e o acesso a cuidados adequados ainda estão bastante aquém do que seria desejável, com prejuízo para a qualidade de vida das pessoas/ doentes como também das suas famílias, que muitas vezes se veem impotentes e incapazes de responder às necessidades dos seus familiares doentes.

Uma abordagem generalista aos problemas demenciais da população não é suficiente para manter a funcionalidade e a qualidade de vida da pessoa doente, sendo necessária especificidade no planeamento da intervenção individual de forma a manter, pelo máximo de tempo possível, a funcionalidade da pessoa e o seu bem-estar, ao mesmo tempo que se percebe e, idealmente, se tenta minimizar o seu impacto negativo na vida dos cuidadores e/ou família. Exemplos desta especificidade passam pelo acesso a especialidades médicas adequadas, por uma ajustada estimulação cognitiva, pela construção de um plano ocupacional adequado, pela adaptação do ambiente às necessidades da pessoa ou, eventualmente, pelo acesso a prestação de cuidados diretos, quando a diminuição da funcionalidade e da autonomia da pessoa o exigem.

No entanto, para além destas questões que acabam por ser as consequências mais visíveis da doença, existe toda uma vivência emocional do processo, pelo próprio e pela família, que constitui um dos aspectos mais complexos de todo o adoecer e da doença. A perda gradual que vai acontecendo é um processo geralmente muito violento para o próprio, sobretudo numa fase inicial em que a pessoa mantem uma maior consciência de que algo se está a passar consigo. Para a família, a vivência da doença acaba por ser geralmente mais extensa porque se mantém para além do que é o período de consciência do doente, podendo gerar sentimentos intensos, contraditórios e difíceis de aceitar, ou mesmo desencadear problemas de saúde mental de remissão mais difícil.

É necessário ajudar os cuidadores e/ou família a saber lidar com a pessoa doente mas também com todas as emoções que a tarefa de cuidar acarreta. É fundamental que as pessoas, doentes e famílias, não se sintam sozinhos ou isolados a lidar com este problema, mas que encontrem os recursos necessários para minimizar o impacto da doença na vida de todos os envolvidos, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida.

Catarina Janeiro
Psicóloga Clínica
Psinove Inovamos a Psicologia
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