Desde logo, devemos desmistificar o sufixo “íte”, uma vez que, verdadeiramente, é pouco frequente existir inflamação quer na fáscia em si, quer na sua inserção, onde quase sempre ocorre dor. Na realidade os sintomas provêm sim – mas não só – do excessivo e repetitivo estiramento e, eventualmente rutura, de fibras de colagénio que compõem a fáscia, e/ou do espessamento da inserção fascial que se torna mais rígida e incapaz de distribuir as cargas de forma equilibrada.

Não existe uma causa, ou um conjunto de causas ou caraterísticas que indiscutivelmente possam justificar o surgimento de uma “Facíopatia” Plantar. A marcha humana, em corrida ou não, tem uma biomecânica única de pessoa para pessoa, e é influenciada por diversos fatores anatómicos, fisiológicos e mesmo psicológicos.

A prova disto é que, apesar de ser comum associar-se uma arcada plantar longitudinal abatida ao surgimento da fascíte plantar, esta ocorre também em pés com arcadas longitudinais normais e altas. Isto leva-nos a concluir que é na forma como as diferentes caraterísticas da marcha de cada um se relacionam, que está a chave para a resolução ou minoração deste problema.

De qualquer forma, determinadas caraterísticas endógenas e exógenas da pessoa, podem pré-dispor e/ou prolongar a Fascíte Plantar. Estas guiam também o raciocínio clínico do Fisioterapeuta durante a sua avaliação e algumas são:

• Quantidade de tempo de pé no dia a dia;
• Alterações na intensidade do treino e provas;
• Tipo de piso em que corre;
• Caraterísticas técnicas do calçado, palmilhas e há quanto tempo estão em uso;
• Historial de lesões na coluna, cintura pélvica, e membros inferiores;
• Valgismo ou varismo do joelho (“joelhos para dentro” ou “pernas arqueadas”, respetivamente);
• Pronação excessiva do pé, parado e em movimento (pronação da articulação sub-astragalina e/ou complexo articular de Chopart);
• Abatimento do arco plantar longitudinal;
• Força muscular da musculatura intrínseca do pé;
• Força e controlo muscular do Trícipete Sural (“gémeos”) e Tibial Posterior;
• Amplitude de movimento dos dedos (articulações metatarso-falângicas);
• Comprimento muscular de vários músculos do membro inferior;
• Cinemática da passada.

Quer seja corredor ou um “atleta do dia a dia”, não trate o problema pela metade nem o deixe arrastar, assumindo que passa. Procure o seu Fisioterapeuta, no Holmes Place.

Ricardo Cotrim
Fisioterapeuta Holmes Place