O tamanho do que se lê em computador e em papel é importante e pode prejudicar a visão. O alerta foi dado pelo oftalmologista Fernando Bívar, que critica o facto de as entidades oficiais esquecerem-se de parâmetros fisiológicos, tais como o facto de a maturação visual só ser atingida aos cinco/seis anos de idade. Preocupações manifestadas à margem do seminário ‘A visão no ar, na terra e no mar’.
“Um dos grandes problemas, que, dia para dia, me está a preocupar é o tamanho da letra apresentado na informação escrita em papel ou no ecrã de computador”. A inquietação é do oftalmologista Fernando Bívar que falava ao Jornal do Centro de Saúde, à margem do seminário ‘A visão no ar, na terra e no mar’, promovido pelo Grupo de Ergoftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), com o objectivo de avaliar de que forma os ambientes terrestre, aquático e aéreo influenciam a visão e a importância deste sentido no desempenho de várias profissões.
O médico do Instituto Gama Pinto acredita que “as entidades oficiais esquecem-se de parâmetros fisiológicos ou ignoram-nos” o que pode levar ao aparecimento precoce de problemas na visão. “Só com cerca de cinco/seis anos é que uma criança atinge a maturação da sua acuidade visual”, salienta. Segundo o especialista este facto não deveria ser secundário na hora de decidir, por exemplo, o tamanho das letras dos manuais escolares, que devem “ser tanto maiores quanto mais novos forem os alunos”. Além disso, frisa que “o uso de computadores ou similares obrigam a um esforço de acomodação que nalguns casos pode levar ao aparecimento de miopia”.
Com o avançar dos anos (depois dos 40) chega a popularmente designada vista cansada (presbiopia), que coloca obstáculos à população adulta na visão ao perto. Mas há factores que complicam ainda mais esta realidade. A publicação de listas telefónicas de bolso, com uma letra de um tamanho que nem as pessoas normais conseguem ler com facilidade fazem com que a sua leitura seja uma autêntica missão impossível para pessoas com presbiopia, revela o médico. Mas há mais exemplos de dificuldades do dia-a-dia. “Outra recente incongruência é o tamanho dos números do cartão do cidadão”, exemplifica. E sustenta: “São maiores os números para a identificação do computador, do que os números para o uso do utente”.
Segundo o oftalmologista foi por tudo isto que o seminário da SPO “foi um sucesso”, pois revelou “problemas reais muitas vezes esquecidos” e que “urgem ser tratados em conjunto”.
Olhar das alturas
Ver bem é crucial para a segurança na terra, no mar ou no ar e é preciso ter em conta os factores ambientais, que são fundamentais na determinação das condições visuais. “Em altitude todas funções visuais estão alteradas, implicando o agravamento de algumas doenças oculares”, sublinha Fernando Bívar. De tal forma que “quem trabalha na aviação não pode usar lentes de contacto sem uma apertada vigilância da sua tolerabilidade, ou usar lentes cromáticas polarizadas, por estas interferirem com a polarização do vidro dos cockpit”. Um piloto profissional tem de obedecer a requisitos oftalmológicos rígidos, que passam por não ter qualquer alteração cromática. “Em geral um profissional do ar não poderá ter doenças do foro oftalmológico pois qualquer será de inaptidão”, explica.
Mas ainda que tenha uma vista sã trabalhar nas alturas pode, por si, trazer problemas na vista. “A pressurização e hipoxia poderão levar ao aparecimento de conjuntivites”, desvenda, acrescentando que “segundo estudos recentes há uma maior incidência de cataratas nos pilotos e nos astronautas”. E mais: “A presbiopia pode comprometer a visualização dos painéis de instrumentos colocados a diversas distâncias do piloto”. Por isso, a estes profissionais, exige-se uma vigilância frequente da saúde dos olhos.
Protecção na (e debaixo de) água
Na água também é preciso cuidados, ainda que “de uma maneira geral não se possa apontar o mar como causador de patologias”, revelou. “Há uma incidência maior de pterygium, tumor benigno da conjuntiva atribuído à radiação ultra-violeta (UV) nas populações costeiras”, destacou, contudo.
Aos amantes dos ares marítimos, Fernando Bívar deixa um aviso: “O encandeamento e o nevoeiro são os dois principais factores que influenciam a visão no mar”. E, em jeito de conselho, lembra que “os cuidados a ter no mar devem basear-se na protecção da radiação da azul e ultra-violeta por filtros polarizados”.
Para quem gosta de mergulho, deixa algumas recomendações no sentido de respeito das normas para evitar a máscara equimótica, que consiste num “edema das pálpebras, equimoses e hemorragias subconjuntivais, resultante da diferença de pressão entre o interior e exterior da máscara”. E concluiu: “Nos praticantes de desporto no ar e no mar há que considerar a protecção à luz solar e quando necessário óculos com armação adaptada à situação do ar ou de mergulho sub-aquático”. E remata: “No caso do mergulho sub-aquático está também indicado o uso de lentes de contacto rígidas”.
Visão sobre rodas
A visão tem papel fundamental na segurança rodoviária. Segundo os especialistas reunidos no seminário da SPO, há vários factores que podem influenciar percepção visual na condução automóvel aos quais todos os automobilistas devem estar atentos, por poderem condenar a segurança de quem circula na estrada. Fernando Bivar realça a iluminação como sendo um dos elementos primordiais de segurança na condução. Em excesso pode reduzir a sensibilidade da retina e até mesmo causar dor física. O encandeamento provocado, por exemplo, por um carro em sentido contrário também pode originar uma situação de enorme perigo.
Existem ainda outros agentes que têm um papel importante no desempenho da visão ao volante como a acuidade visual, ou seja, a capacidade de distinguir objectos que parecem muito próximos, o contraste, a percepção das cores e da profundidade e o campo visual. Os especialistas chamaram ainda à atenção para o facto de a ingestão de medicamentos, o álcool e a sonolência influenciarem indiscutivelmente a visão e os reflexos.
Texto: Sandra Cardoso
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