O glamour associado
ao hábito de fumar desapareceu. Hoje, surgir em público
com o cigarro na mão já não tem
uma conotação de elegância, como
acontecia em filmes de culto.

Pelo
contrário. O tabagismo é socialmente
encarado como um problema grave. A
principal causa de morte evitável em todo
o mundo. As mulheres, por motivos ainda
desconhecidos,
são mais vulneráveis ao
vício.

Basta fumarem dois a quatro cigarros
por dia para aumentar o risco de virem
a sofrer de cancro do pulmão ou de doença
cardiovascular.
Se a lei antitabaco não
foi impulso
suficiente para deixar de
fumar, veja que métodos podem ajudá-la a
apagar o cigarro de vez. Até porque deixar de fumar pode ser apenas uma questão de método. Saiba porquê e descubra o que deve fazer para se livrar (definitivamente) do vício.

Acompanhamento médico

Apenas cinco a dez por cento dos
fumadores conseguem libertar-se dos
cigarros sem recorrer a apoio especializado.
Se pertence ao grupo dos que tentaram
e falharam,
saiba que, por vezes, basta
o acompanhamento
médico
para que a
decisão
resulte. Sérgio
Vinagre,
médico
e coordenador
do
programa
de prevenção
e tratamento do tabagismo
na Região de Saúde
do Norte, considera que, «na maior parte
dos casos, é aconselhável
consultar o
médico de família e pedir apoio.

O tratamento
farmacológico tende a duplicar a
eficácia da terapêutica, que será adaptável
ao perfil psicológico
e grau de dependência
de cada pessoa». O médico acredita
que o segredo para uma terapêutica
bem
sucedida é «a pessoa
sentir-se motivada para
deixar de fumar, uma atitude
que se constrói com o apoio da
equipa de saúde».

Dependência física e psicológica

A sensação de que fumar ajuda a lidar
melhor com o stress «é enganadora e
perversa», adverte o especialista.
«O consumo de tabaco é visto por
muita gente, como uma forma de auto-tratamento, só que, ao contrário do que
crê, não é um medicamento que ajuda,mas uma droga que provoca cada vez mais
dependência», explica.

Como esclarece a pneumologista
Cecília Pardal, «seis a dez segundos
depois de fumar, a nicotina atinge o cérebro
e cria os chamados recetores de nicotina.
Quando mais se fuma, mais recetores
existem e mais difícil é parar. Estes nunca
desaparecem, adormecem. Por vezes,
basta um cigarro para voltar a fumar ao fim
de 20 anos sem fumo».

Terapia comportamental

Centradas na mudança de hábitos, as
terapias comportamentais têm um papel
decisivo no tratamento. A médica pneumologista
lembra que «antes de tudo, tem
de haver uma forte componente
na alteração
de comportamentos. Os medicamentos
têm um papel importante, mas não
são milagrosos se a pessoa não quiser
deixar de fumar. Fazemos o uso simultâneo
das terapêuticas farmacológica
e
comportamental para aumentar, em
muito, o sucesso da cessação tabágica».

«Inicialmente, é importante
perceber
quais os locais onde mais fuma,
para se treinar a deixar de fumar aí, tentar
adiar o cigarro sempre que tiver vontade
e escolher sítios onde não seja permitido
fumar, evitar estar com pessoas que
fumem e, entre outras mudanças, contactar
com objetos ligados
ao tabaco», explica. Pode
ainda recorrer à linha SOS Deixar de
Fumar (808 208 888, dias úteis das 13h
às 21h), em caso de dúvidas ou recaída.

Stress e outros culpados

O simples hábito de beber café surge
muitas vezes ligado ao cigarro. A médica
afirma que «numa primeira fase, é aconselhável
o doente reduzir o consumo de
café. Depois, escolher espaços onde não
seja permitido fumar. Outras vezes, pode tomar uma pastilha de nicotina logo a
seguir ao café». Para evitar que uma
situação de stress comprometa objetivos
que levaram anos a conquistar, a especialista
aconselha a «arranjar formas de se
distrair, tomar uma pastilha de nicotina
ou, em situações mais incontroláveis, um
ansiolítico».

Veja na página seguinte: Os tratamentos farmacológicos a que pode recorrer

A depressão e a ansiedade são
patologias que podem estar associadas ao
consumo de tabaco. Nestes casos, a
pneumologista avisa que «primeiro que
tudo, tem de haver um tratamento da
doença».

«Caso contrário, a pessoa não vai
deixar de fumar com êxito», sublinha a especialista.

Tratamentos farmacológicos

O recurso a pastilhas, gomas e adesivos
transdérmicos de nicotina tem vantagens,
embora as taxas de sucesso não sejam tão
elevadas como a dos fármacos.

Cecília
Pardal explica porquê. «São de venda livre
e nem sempre são tomados nas dosagens
mais indicadas, pelo que é aconselhável o
acompanhamento médico. Usamos as
pastilhas e os adesivos em doentes que não
apresentam grande dependência,
que não
fumam muitos cigarros
ou têm
contraindicações para os outros métodos».

«São sempre mais seguros do que continuar
a fumar, mas não são aconselhados em
algumas doenças
cardiovasculares, como
nas arritmias graves
e enfarte agudo do miocárdio recente e, no caso dos adesivos,
nos problemas cutâneos», refere ainda a especialista.

«Cada pastilha corresponde a um cigarro.
Quando pretende
reduzir progressivamente
o hábito tabágico, poderá tomar
uma pastilha por cada cigarro que não
fuma», acrescenta mesmo. Esta especialista esclarece ainda que, «em
casos de maior dependência,
é usada a
bupropiona, um antidepressivo
que
aumenta os níveis de dopamina e reduz os
sintomas de privação,
e a vareniclina, que
também atua nos recetores de nicotina no
cérebro, atenuando
os efeitos de privação».

Falsos receios

O medo de engordar quando se deixa de
fumar é um mito e não deve continuar a
servir de desculpa. O que acontece,
esclarece Sérgio Vinagre, é que «normalmente,
muitas pessoas engordam nos
primeiros meses porque ficam mais
saudáveis, aumentam o rendimento e, com
menos energia, conseguem produzir mais.
Se têm os mesmos consumos alimentares e
não precisam deles, ou passam a gastar
mais calorias ou a comer menos».

Sérgio
Vinagre aponta a vida saudável como o
caminho a seguir. «Deixar de fumar é
mudar de vida e as pessoas passam a viver
melhor. Há muita gente que deixa de
fumar e emagrece, mas de forma
adequada: come melhor, mexe-se melhor
e pratica exercício físico», conclui.

Métodos naturais

O que se sabe sobre as terapias alternativas:

Acupuntura
Embora seja muito
utilizada, ainda
não existem dados
científicos que
comprovem a sua total
eficácia.

Hipnose
É reconhecida
pela American
Cancer Society, que
considera que ajuda o
paciente a combater o
stress, a dor e a alterar
os hábitos tabágicos.

Yoga
Além de
relaxarem os
músculos, a meditação
e o yoga podem
funcionar como um
escape nos instantes
em que se tem
vontade de fumar.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Cecília Pardar (pneumologista) e Sérgio Vinagre (médico de saúde pública e coordenador do programa de prevenção e tratamento do tabagismo na Região de Saúde do Norte)